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Saiba o que é e como funciona a sinestesia

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O que é sinestesia?

Em medicina e psicologia, sinestesia (grego: syn = união + esthesia = sensação) é uma condição neurológica em que a estimulação de um sentido desencadeia uma percepção automática em outro sentido. (Não confundir com “cinestesia”, termo relacionado com a percepção corporal por meio da ação dos músculos1). Em outras palavras, uma pessoa com sinestesia pode experimentar uma mistura de sensações, como associar cores a letras ou números, ver sons ou sentir o gosto de palavras.

Existem diferentes tipos de sinestesia, mas os mais comuns são a sinestesia gráfica, em que símbolos ou letras são percebidos como tendo cores específicas, e a sinestesia auditiva, em que sons são acompanhados por cores ou formas visuais.

A sinestesia não é considerada uma condição médica ou psiquiátrica prejudicial. Muitas pessoas afetadas a descrevem como uma parte natural de suas vidas e aprendem a viver com essas experiências sensoriais adicionais. Ela é considerada uma condição neurológica rara e, embora não haja uma causa definitiva conhecida, acredita-se que a sinestesia esteja relacionada a diferenças na maneira como o cérebro2 processa e associa informações sensoriais.

Fora da Medicina, o termo é também usado como uma figura de linguagem, muito utilizada como recurso estilístico, como se encontra, por exemplo, em Eça de Queiros: “E um doce vento, que se erguera, punha nas folhas alagadas e lustrosas um frêmito alegre e doce.”

O presente texto se atém apenas aos aspectos médico-psicológicos da questão.

Veja sobre "Alucinações3", "Transtornos devidos ao abuso de drogas" e "K9: o que é isso".

Quais são as causas da sinestesia?

As causas da sinestesia ainda são desconhecidas. Sabe-se apenas que a genética tem influência, porque a sinestesia é comum entre os membros de uma mesma família e, além disso, quase seis vezes mais mulheres do que homens relatam experimentar a condição.

Alguns cientistas sugerem que todas as pessoas nascem sinestésicas, mas que a evolução típica resulta em que áreas cerebrais próprias de cada percepção, que inicialmente são interconectadas, se tornem, posteriormente, mais segregadas. Não se sabe por que as pessoas com sinestesia retêm algumas dessas conexões anômalas.

Qual é o substrato fisiopatológico da sinestesia?

Regiões específicas do cérebro2 são especializadas para funções determinadas. Em casos de sinestesias parece haver uma ativação e comunicação cruzada entre as áreas responsáveis pela linguagem, percepção das cores, paladar4 e outras. Quando uma delas é acionada, uma outra, ou outras, são também automaticamente acionadas. Em exames de imagem é possível observar que quando o paciente é exposto a um estímulo que deveria evocar uma resposta cerebral numa área específica, responsável pela identificação dele, outras regiões do cérebro2 são ativadas simultaneamente.

Outra possibilidade é que o feedback (retroalimentação) das percepções esteja mais desinibido que comumente. Normalmente, a excitação e a inibição que partem de um estímulo são equilibradas. Se o feedback das percepções não fosse inibido como de costume, os sinais5 que retornam dos estágios finais do processamento multissensorial podem influenciar os estágios anteriores, de modo, por exemplo, que os sons possam ativar a visão6, etc.

Isso também pode ocorrer durante os estágios de meditação, concentração profunda, privação sensorial ou com o uso de psicodélicos, como ácido lisérgico ou mescalina, e até mesmo, em alguns casos, maconha. Assim, a questão da base neural da sinestesia está profundamente enraizada no problema geral mente-corpo e no problema da lacuna explicativa.

Quais são as características clínicas da sinestesia?

Algumas pessoas com sinestesia relatam que não sabiam que suas experiências eram incomuns até perceberem que outras pessoas não as tinham. De fato, a natureza mostra que a experiência sinestésica pode não parecer fora do comum. Essa natureza involuntária7 e consistente ajuda a definir a sinestesia como uma experiência real.

A maioria das pessoas com sinestesia relata que suas experiências são agradáveis ou neutras, embora, em casos raros, elas possam levar a um grau de sobrecarga sensorial incômoda. A maioria das pessoas toma consciência de seu modo distinto de percepção na infância e aprende a conviver com essa característica na sua vida diária e no trabalho. Muitas pessoas afetadas não as percebem como uma deficiência e não gostariam de perdê-las.

Como o médico diagnostica a sinestesia?

Não existe um exame específico para diagnosticar a sinestesia. O diagnóstico8 dessa condição em geral é feito por psicólogos ou psiquiatras, com base em avaliações clínicas e entrevistas com o indivíduo. Durante a avaliação, o profissional faz perguntas sobre as experiências sensoriais do indivíduo, como ele percebe cores ao ouvir música, se associa números a formas específicas ou se tem outras combinações incomuns entre os sentidos.

É importante que o indivíduo possa fornecer exemplos concretos de suas experiências sinestésicas, descrevendo as associações que ocorrem entre os sentidos.

Como o médico trata a sinestesia?

Atualmente, não existe uma cura conhecida para a sinestesia, e ela nem é reivindicada, já que é apenas uma característica neurológica inerente a certas pessoas e não uma doença, propriamente dita. No entanto, a sinestesia pode ser treinada ou aprimorada em algumas pessoas. Os estudos a respeito estão em estágios iniciais e são conduzidos em laboratórios de pesquisa.

Saiba mais sobre "Formas de viver", "Interação entre álcool e drogas psicotrópicas" e "Esquizofrenia9".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Psychology Today e da Scientific American.

ABCMED, 2023. Saiba o que é e como funciona a sinestesia. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1443310/saiba-o-que-e-e-como-funciona-a-sinestesia.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
2 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
3 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
4 Paladar: Paladar ou sabor. Em fisiologia, é a função sensorial que permite a percepção dos sabores pela língua e sua transmissão, através do nervo gustativo ao cérebro, onde são recebidos e analisados.
5 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
6 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
7 Involuntária: 1.    Que se realiza sem intervenção da vontade ou que foge ao controle desta, automática, inconsciente, espontânea. 2.    Que se encontra em uma dada situação sem o desejar, forçada, obrigada.
8 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
9 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
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