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Formas de viver: teórica, econômica, estética, social, religiosa, política

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O que são formas de viver?

Imagine que uma pessoa saiu à rua para comprar um objeto caseiro. Supondo não haver nenhuma limitação de qualquer ordem, como você pensa que ela fará sua escolha: o mais barato? O mais bonito? O de melhor qualidade? O que causa mais impressão? O mais prático? Diferentes pessoas tenderão a escolher com base em diferentes critérios e, salvo eventuais conjunturas de momento, revelam nisso um padrão de comportamento que se repetirá em outros momentos e atuações na vida, inclusive no adoecer e tratar-se.

É errôneo pensar que uma mesma pessoa em cada ocasião diferente decidirá por critérios variados. Isso até poderá acontecer eventualmente, mas será sempre uma exceção à regra. Todas as pessoas são momentaneamente capazes de todas essas formas de viver, mas em cada um há uma tendência pessoal dominante que continuará sempre a mesma e constituirá a sua forma básica de viver.

Foi o filósofo alemão Eduard Spranger (1882-1963) quem melhor sistematizou esse tema, reconhecendo tipos específicos de viver. Em 1914, ele publicou um livro intitulado “Formas de vida”, no qual as considera como maneiras como as pessoas apreendem o mundo e reagem a ele, e alega que essas formas constituem orientações gerais diante da vida.

Aquilo que cada qual julga ser a maneira normal de viver não é senão um dos modos possíveis, entre outros. É verdade que ao longo do tempo algumas maneiras tornaram-se mais bem-sucedidas que outras, mas ao lado delas há outras que, embora mais raras, podem ser igualmente exitosas.

Algo comparável parece acontecer com as formas de viver porque cada uma delas só concebe o mundo a partir de sua própria maneira de vê-lo e não de nenhuma outra.

Leia também sobre "Estrutura da personalidade", "Desenvolvimento da personalidade" e "Big Five (Cinco Grandes) da Psicologia".

Quais são as formas de viver, segundo Spranger?

A forma teórica de viver

As pessoas que têm essa forma de viver veem o mundo como um arranjo lógico e exaltam os fatores racionais em detrimento dos afetos, impulsos, intuições, gostos, pressentimentos, etc. Mesmo em trivialidades cotidianas esses tipos raciocinam unicamente em função da lógica, desconsiderando as injunções da realidade. O mundo parece a eles ser constituído por abstrações perfeitas e concedem maior valor ao lógico que ao verdadeiro, feio ou bonito, útil ou nocivo, sagrado ou profano.

Para eles, a essência teórica das coisas e dos fatos conta mais que a aparência deles e não levam em conta as influências circunstanciais a que os fatos são submetidos. Acreditam mais em regras gerais que nas singularidades de cada caso. Sua atitude diante das coisas é de impassível observação, com exclusão de grandes reações emocionais. Nisso fazem lembrar a teoria de Platão da prevalência1 das essências sobre as aparências.

A forma econômica de viver

Segundo Spranger, “o homem econômico é aquele que põe em primeiro lugar, em todas as situações da vida, o valor da utilidade”. Ele dá mais importância à utilidade que à ordenação lógica ou ao poder, por exemplo. Só se importa com outros valores, como a beleza, por exemplo, se eles significarem utilidade. Seja como produtor, consumidor ou mercador ele é um utilitário.

O mundo é visto por ele sob o prisma da maior economia possível dos objetos, energias, esforços, sentimentos, palavras, etc. Em tudo que fazem, os tipos econômicos sempre buscam melhores rendimentos e menores dispêndios. Os tipos econômicos bem-sucedidos julgam passar às outras pessoas uma imagem de serem comedidos, mas eles habitualmente são tidos por elas como egoístas, já que a economia que lhes interessa é somente a que beneficia diretamente a eles próprios.

A forma estética de viver

As pessoas que têm um modo estético de viver atribuem à perfeição das formas ou das situações um valor positivo originário. Para eles a beleza não reside apenas na integridade das figuras, mas também na perfeição dos gestos, na correção das falas, nas delicadezas dos pensamentos e na fineza dos estados d’alma.

São incapazes de comer algo com as mãos2, tomar uma bebida no gargalo de uma garrafa, falar em voz alta, etc., mesmo em situações informais ou íntimas. Por isso, muitas vezes essas pessoas são tidas como muito refinadas. Na música apreciam mais a melodia que a letra; num discurso, mais a retórica que o argumento; numa obra de arte, mais o plástico que a mensagem; e assim por diante.

A forma social de viver

As pessoas que vivem segundo a forma social têm seus impulsos amorosos dirigidos principalmente aos outros e tendo esse objetivo em vista podem se tornar solidárias, prestativas, apoiadoras, magnânimas. A necessidade que têm de estar junto de outras pessoas vai até o ponto de desenvolverem hábitos coletivos como os de reunir amigos em festas ou praticar esportes coletivos, ou mesmo de adquirirem vícios compartilhados como os de beber e jogar.

Logo se tornam presenças bem-vindas em seus círculos sociais. Tanto podem ser voltadas para uma pessoa particular ou para um grupo como para o conjunto da humanidade. A expressão mais elevada dessa forma de vida talvez seja o “amor ao próximo” que não esteja a serviço de motivações utilitárias.

A forma religiosa de viver

Os homens que têm uma forma religiosa de viver têm uma maneira dogmática de pensar, ainda que não sejam filiados a uma igreja formal. O que os motiva é a crença inamovível não apoiada em evidências (fé). O homem que vive de forma religiosa considera suas verdades como permanentes e não percebe suas contingências e condicionantes históricos.

Em geral, se sentem dispensados de fundamentar suas ideias e sentem-se na obrigação de convencer as demais pessoas a respeito delas. Partem de premissas incomuns e as utilizam como alicerces de suas ideias.

A forma política de viver

Os homens que têm uma forma política de viver concebem o poder da força, da superioridade econômica, política, intelectual ou moral como o valor supremo. Essas pessoas procuram a qualquer custo sobrepor seus interesses às demais pessoas e visam principalmente a si próprios. Todos os outros valores da vida se submetem a esse e só se tornam desejados na medida em que ocasionam uma aquisição ou ampliação de poder.

Nas suas atividades práticas costumam agir segundo a máxima de que os fins justificam os meios, principalmente quando se trata dos seus fins. Julgam-se superiores às demais pessoas e se o destino lhes oferece a oportunidade convertem-se em dominadores, não só em setores específicos, mas em todas as áreas da vida. Podem sustentar uma opinião pouco defensável, gabar-se de sua importância social, alardear suas posses materiais, vangloriar-se de sua honestidade inatacável, exaltar seu senso de justiça, etc., apenas para demonstrar que são superiores.

Veja sobre "Impulsividade", "Testes psicológicos" e "Formação reativa".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do site da Encyclopedia Britannica.

ABCMED, 2022. Formas de viver: teórica, econômica, estética, social, religiosa, política. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1415560/formas-de-viver-teorica-economica-estetica-social-religiosa-politica.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
2 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.

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