Tipos de alterações das fezes
O que são fezes normais?
Em situações normais, as fezes devem ter uma consistência mole, mas capazes de manter sua forma de tubo ligeiramente alongado, semelhante a uma salsicha, por exemplo, que não causem dor ou dificuldade ao evacuar. Além disso, devem ser de cor marrom e pastosa, com odores peculiares, variáveis para cada pessoa.
As evacuações normais devem conter apenas fezes com essas características. As diversas alterações desses aspectos normais, quando associados aos sintomas1 concomitantes, sugerem determinadas patologias e são uma indicação importante no sentido diagnóstico2. Em situações anormais, elas podem estar associadas a muco, sangue3, gordura4 ou pus5.
Leia sobre "Entendendo a encoprese", "Esteatorreia6" e "Incontinência fecal7".
Quais são os tipos de alterações possíveis das fezes?
As alterações nas fezes podem ser apuradas quanto a: frequência, forma, consistência, cor, odor, presença de substâncias orgânicas e presença de substâncias estranhas.
1. Frequência
O número de evacuações consideradas normais oscila entre três vezes ao dia a três vezes por semana, e varia de acordo com a idade e os hábitos de cada pessoa. O importante é que haja uma regularidade, estabelecendo um padrão constante para cada um. Um aumento, sobretudo exagerado, desse padrão individual denomina-se diarreia8 e uma diminuição dele é chamada constipação9 intestinal (“intestino preso”). As diarreias, além do aumento do número de evacuações, são caracterizadas pelo aumento de volume e diminuição da consistência das fezes. Na constipação9 intestinal as fezes são ressequidas e difíceis de serem eliminadas.
- A diarreia8 em si não é uma doença, mas sim uma síndrome10 clínica podendo ter diversas etiologias. A diarreia8 aguda caracteriza-se pela presença de três ou mais evacuações de consistência aquosa em um período de 24 horas. A diarreia8 se define como crônica por ser persistente, com duração acima de 30 dias. Em se tratando de casos de diarreia8 crônica pode-se classificá-la ainda em relação à consistência das fezes: aquosa, inflamatória ou gordurosa.
- A constipação9 intestinal é definida pela presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas1: esforço para evacuar; sensação de esvaziamento incompleto do intestino; manobras manuais para facilitar as evacuações (manobras digitais, apoio pélvico11 ou vaginal) e sensação de obstrução ou bloqueio anorretal. Estima-se que a constipação9 intestinal tenha uma prevalência12 de até 26,9% na população brasileira, com maior frequência em mulheres acima dos 60 anos, em sedentários e em pessoas de baixo nível sócio econômico e cultural. A constipação9 intestinal tem uma clara relação com a redução da qualidade de vida.
2. Forma das fezes
As fezes podem assumir diferentes formas: (1) pequenas bolinhas, similares às fezes de carneiros; (2) em “tubos” semelhantes a salsichas, lisa e suave, grumosas ou com ranhuras na sua superfície; (3) pedaços moles, com margens bem definidas, facilmente evacuadas; (4) pedaços fofos, aerados, com margens irregulares, esfarrapadas, geralmente flutuantes; e (5) completamente líquidas.
3. Consistência das fezes
As fezes alteradas podem variar de extremamente endurecidas a inteiramente liquefeitas, passando pela consistência pastosa normal e semilíquidas. Fezes anormalmente endurecidas ocorrem nas constipações intestinais e se devem a uma maior absorção de água, devido à maior demora do trânsito intestinal. Fezes liquefeitas são próprias das diarreias e ocorrem em situações de má absorção, síndrome10 do intestino irritável, gastroenterites ou estresse.
4. Cor das fezes
A cor das fezes normais é um castanho amarronzado, podendo variar de um escuro intenso (“cor de borra de café”) a uma descoloração que as torna pálidas, passando por uma coloração escura mais leve. O primeiro caso ocorre em sangramentos digestivos altos e a cor das fezes é determinada pela digestão13 do sangue3 (melena14). As fezes empalidecidas podem dever seu clareamento, por exemplo, à ausência de bile15 nos sucos digestivos, em razão de obstrução dos ductos biliares16. Fezes escurecidas, sem, contudo, chegarem a “borras de café”, podem dever-se a sangramentos mais baixos no trato intestinal.
5. Odor
As fezes normais têm odor característico, embora variável para cada indivíduo. Elas podem se tornar excessivamente malcheirosas em casos de infecções17 intestinais, especialmente se associadas à diarreia8.
6. Presença de substâncias orgânicas
As fezes podem vir misturadas a muco, sangue3, pus5 e/ou gordura4. Essas condições denunciam inflamações18, infecções17 ou tumores intestinais. A presença de substâncias orgânicas pode conferir às fezes diversas consistências e formas. Chama-se disenteria à diarreia8 sanguinolenta19, com sangue3 visível e muco, e apresentação de febre20. Deve ser feita uma adequada avaliação da sua magnitude, principalmente no que se refere ao estado de hidratação do paciente e à presença de febre20, vômito21 e/ou sangue3 ou muco nas fezes. Fezes amarelas e de aspecto gorduroso (esteatorreia6) ocorrem na pancreatite22 crônica. A presença de sangue3 rútilo sugere a presença de tumor23 intestinal baixo.
7. Presença de substâncias estranhas
Objetos ou partículas não digeríveis que tenham sido deglutidos podem reaparecer nas fezes em sua forma original. Isso frequentemente acontece com sementes ou com pequenos objetos não digeríveis, como plástico, metal, etc. Nas diarreias, alimentos que normalmente são digeríveis, podem reaparecer no seu estado original, devido à maior velocidade do trânsito digestivo. A própria água presente na diarreia8 é uma consequência da insuficiente absorção dela, seja em virtude da maior velocidade do trânsito intestinal ou de inflamações18 das mucosas24 intestinais.
Vejam também sobre "Sangue3 nas fezes", "Fecaloma" e "Melena14 e Hematêmese25".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Sociedade Brasileira de Proctologia e da World Gastroenterology Organisation.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.