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Como são o diagnóstico e os cuidados na síndrome de Marinesco-Sjögren

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O que é a síndrome1 de Marinesco-Sjögren?

A síndrome1 de Marinesco-Sjögren é um transtorno genético raro, autossômico2 recessivo, caracterizado por uma combinação de múltiplos sintomas3 orgânicos e deficiência intelectual de leve a severa.

Foi descrita primeiramente pelos médicos Gheorghe Marinescu, um neurologista4 romeno, e Torsten Sjögren, um psiquiatra sueco. Gheorghe Marinescu descreveu casos da síndrome1 em 1931 e Torsten Sjögren contribuiu com estudos adicionais e descrições na década de 1950, ajudando a caracterizar melhor os sintomas3 e a natureza da síndrome1.

Atualmente, compreende-se que se trata de uma condição multissistêmica com manifestações que podem variar consideravelmente entre os pacientes.

Quais são as causas da síndrome1 de Marinesco-Sjögren?

A síndrome1 de Marinesco-Sjögren é causada por mutações no gene SIL1, localizado no cromossomo5 5 (5q31). Este gene codifica uma proteína chamada SIL1, envolvida no processamento e no dobramento adequado de proteínas6 dentro do retículo endoplasmático. Quando ocorre a mutação7, o sistema de controle de qualidade das proteínas6 perde eficiência, resultando em acúmulo de proteínas6 malformadas e estresse celular.

A síndrome1 é transmitida de forma autossômica8 recessiva. Isso significa que a pessoa só desenvolve a doença se herdar duas cópias alteradas do gene, uma de cada progenitor. Pais que possuem apenas uma cópia alterada não manifestam sintomas3, mas podem transmitir essa alteração aos filhos.

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de Marinesco-Sjögren?

A fisiopatologia9 da síndrome1 envolve mutações no gene SIL1, responsável por uma co-chaperona localizada no retículo endoplasmático. Essa proteína atua em conjunto com a chaperona BiP, regulando o dobramento e a liberação adequada de proteínas6 recém-sintetizadas. Quando há mutação7 do gene SIL1, esse processo se torna ineficiente, levando ao acúmulo de proteínas6 mal dobradas, ao estresse do retículo e à disfunção celular progressiva.

Células10 de alta demanda metabólica, como as células de Purkinje11 do cerebelo12, são particularmente vulneráveis, o que explica a ataxia13 característica. No cristalino14, o mesmo mecanismo leva à formação de cataratas. Tecidos envolvidos no desenvolvimento motor e no tônus muscular15 também sofrem com esse estresse, resultando em atraso no desenvolvimento e hipotonia16.

Quando suspeitar da síndrome1?

A suspeita clínica deve surgir quando há associação de catarata17 congênita18 ou infantil, hipotonia16 marcada desde o nascimento, atraso motor e sinais19 de ataxia13. O conjunto desses achados, especialmente quando ocorre em mais de um membro da família, aumenta significativamente a probabilidade do diagnóstico20.

Leia sobre "Escala de Alberta para avaliação do desenvolvimento motor infantil".

Quais são as características clínicas da síndrome1 de Marinesco-Sjögren?

A Síndrome1 de Marinesco-Sjögren geralmente é identificada desde o nascimento pela presença de hipotonia16 muscular. Outros sinais19 aparecem ao longo da infância, com as principais manifestações incluindo:

  • Catarata17 congênita18
  • Ataxia13 cerebelar
  • Fraqueza muscular
  • Atraso no desenvolvimento motor e cognitivo21
  • Deficiência intelectual moderada ou grave
  • Baixa estatura
  • Puberdade tardia
  • Hipogonadismo
  • Escoliose22
  • Anomalias das mãos23
  • Microcefalia24

Disfunções endócrinas adicionais, como hipotireoidismo25 e hipogonadismo hipogonadotrófico, também podem ocorrer. A deterioração neurológica é lenta ou ausente, embora a fraqueza muscular possa progredir.

Como o médico diagnostica a síndrome1 de Marinesco-Sjögren?

O médico deve iniciar pela avaliação detalhada dos sintomas3, histórico familiar e exame físico, observando sinais19 como catarata17, ataxia13 e atraso neuromotor. O oftalmologista26 pode confirmar a presença de catarata17.

Exames neurológicos e ressonância magnética27 podem mostrar alterações no cerebelo12 compatíveis com ataxia13. Em alguns casos, a biópsia28 muscular revela vacuolização lisossômica, achado característico.

O teste genético para identificar mutações no gene SIL1 é atualmente o método diagnóstico20 definitivo, permitindo confirmação da síndrome1 e adequado aconselhamento familiar.

Como o médico trata a síndrome1 de Marinesco-Sjögren?

Não existe tratamento curativo. A abordagem é sintomática29: cirurgia para catarata17, fisioterapia30 para melhorar força e coordenação, terapia ocupacional31 e fonoaudiologia para favorecer o desenvolvimento funcional, além de acompanhamento endocrinológico periódico para corrigir disfunções hormonais identificadas.

Como evolui a síndrome1 de Marinesco-Sjögren?

O prognóstico32 depende da gravidade das manifestações. Com manejo contínuo, pacientes podem ter qualidade de vida satisfatória, embora limitações motoras e cognitivas sejam permanentes. A evolução tende a ser lentamente progressiva e a expectativa de vida33 pode ser longa quando há suporte multidisciplinar adequado.

Saiba mais sobre "Atrasos do desenvolvimento", "Deficiência intelectual" e "Tônus muscular15".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da NORD - National Organization for Rare Disorders e da Mayo Clinic.

ABCMED, 2025. Como são o diagnóstico e os cuidados na síndrome de Marinesco-Sjögren. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1497210/como-sao-o-diagnostico-e-os-cuidados-na-sindrome-de-marinesco-sj-ouml-gren.htm>. Acesso em: 14 nov. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Autossômico: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
3 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
4 Neurologista: Médico especializado em problemas do sistema nervoso.
5 Cromossomo: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
6 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
7 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
8 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
9 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
10 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
11 Células de Purkinje: Neurônios eferentes do córtex cerebelar.
12 Cerebelo: Parte do encéfalo que fica atrás do TRONCO ENCEFÁLICO, na base posterior do crânio (FOSSA CRANIANA POSTERIOR). Também conhecido como “encéfalo pequeno“, com convoluções semelhantes àquelas do CÓRTEX CEREBRAL, substância branca interna e núcleos cerebelares profundos. Sua função é coordenar movimentos voluntários, manter o equilíbrio e aprender habilidades motoras.
13 Ataxia: Reflete uma condição de falta de coordenação dos movimentos musculares voluntários podendo afetar a força muscular e o equilíbrio de uma pessoa. É normalmente associada a uma degeneração ou bloqueio de áreas específicas do cérebro e cerebelo. É um sintoma, não uma doença específica ou um diagnóstico.
14 Cristalino: 1. Lente gelatinosa, elástica e convergente que focaliza a luz que entra no olho, formando imagens na retina. A distância focal do cristalino é modificada pelo movimento dos músculos ciliares, permitindo ajustar a visão para objetos próximos ou distantes. Isso se chama de acomodação do olho à distância do objeto. 2. Diz-se do grupo de cristais cujos eixos cristalográficos são iguais nas suas relações angulares gerais constantes 3. Diz-se de rocha constituída quase que totalmente por cristais ou fragmentos de cristais 4. Diz-se do que permite que passem os raios de luz e em consequência que se veja através dele; transparente. 5. Límpido, claro como o cristal.
15 Tônus muscular: Estado de tensão elástica (contração ligeira) que o músculo apresenta em repouso e que lhe permite iniciar a contração imediatamente depois de receber o impulso dos centros nervosos. Num estado de relaxamento completo (sem tônus), o músculo levaria mais tempo para iniciar a contração.
16 Hipotonia: 1. Em biologia, é a condição da solução que apresenta menor concentração de solutos do que outra. 2. Em fisiologia, é a redução ou perda do tono muscular ou a redução da tensão em qualquer parte do corpo (por exemplo, no globo ocular, nas artérias, etc.)
17 Catarata: Opacificação das lentes dos olhos (opacificação do cristalino).
18 Congênita: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
19 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
20 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
21 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
22 Escoliose: Deformidade no alinhamento da coluna vertebral, que produz uma curvatura da mesma para um dos lados. Pode ser devido a distúrbios ósteo-articulares e a problemas posturais.
23 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
24 Microcefalia: Pequenez anormal da cabeça, geralmente associada à deficiência mental.
25 Hipotireoidismo: Distúrbio caracterizado por uma diminuição da atividade ou concentração dos hormônios tireoidianos. Manifesta-se por engrossamento da voz, aumento de peso, diminuição da atividade, depressão.
26 Oftalmologista: Médico especializado em diagnosticar e tratar as doenças que acometem os olhos. Podem prescrever óculos de grau e lentes de contato.
27 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
28 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
29 Sintomática: 1. Relativo a ou que constitui sintoma. 2. Que é efeito de alguma doença. 3. Por extensão de sentido, é o que indica um particular estado de coisas, de espírito; revelador, significativo.
30 Fisioterapia: Especialidade paramédica que emprega agentes físicos (água doce ou salgada, sol, calor, eletricidade, etc.), massagens e exercícios no tratamento de doenças.
31 Terapia ocupacional: A terapia ocupacional trabalha com a reabilitação das pessoas para as atividades que elas deixaram de fazer devido a algum problema físico (derrame, amputação, tetraplegia), psiquiátrico (esquizofrenia, depressão), mental (Síndrome de Down, autismo), geriátrico (Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson) ou social (ex-presidiários, moradores de rua), objetivando melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Além disso, ela faz a organização e as adaptações do domicílio para facilitar o trânsito dessa pessoa e as medidas preventivas para impedir o aparecimento de deformidades nos braços fazendo exercícios e confeccionando órteses (aparelhos confeccionados sob medida para posicionar partes do corpo).
32 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
33 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
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