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Cleptomania: conceito, causas, características, diagnóstico e tratamento

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O que é cleptomania?

A cleptomania consiste em uma tendência incontrolável a roubar itens sem nenhum valor ou utilidade significativos para a pessoa e que nem respondem a um grande desejo de possuí-los. Muitas vezes, os objetos roubados são desprezados, doados ou descartados, em seguida de serem levados.

Trata-se de um distúrbio mental raro, mas sério, que pode causar muita dor emocional ao autor e a seus familiares. Embora a pessoa reconheça o caráter esdrúxulo e anormal desse comportamento, não consegue evitá-lo.

Quais são as causas da cleptomania?

Estima-se que cerca de 0,3 a 0,6 por cento das pessoas experimentam essa condição. A cleptomania é mais comum entre mulheres do que entre homens. A idade de início é variável; pode começar na infância, adolescência ou mesmo na idade adulta tardia.

A causa não é inteiramente conhecida, mas várias teorias sugerem que mudanças no cérebro1 podem estar na raiz da cleptomania. Ela parece envolver os neurotransmissores cerebrais associados aos sistemas de serotonina, dopamina2 e opioides. Afinal, baixos níveis de serotonina são comuns em pessoas propensas a comportamentos impulsivos. O roubo pode também causar a liberação de dopamina2, outro neurotransmissor cerebral. A dopamina2 causa sentimentos agradáveis e algumas pessoas buscam repetidamente esse sentimento através de seus atos.

Ademais, os impulsos são regulados pelo sistema opioide do cérebro1 e um desequilíbrio neste sistema pode dificultar a resistência aos impulsos da cleptomania. Alguns clínicos acham que a cleptomania faz parte do espectro obsessivo-compulsivo. Outras evidências indicam que a cleptomania pode estar relacionada a uma variante de transtornos do humor, como a depressão que, no entanto, não tem um efeito causal.

Saiba mais sobre "Transtorno obsessivo compulsivo", "Depressões" e "Mania de comprar mesmo sem ter necessidade de usar o que comprou".

Qual é o substrato fisiológico3 da cleptomania?

A pessoa que tem um distúrbio de controle de impulsos tem dificuldade em resistir à tentação ou ao desejo de realizar um ato determinado, mesmo sendo reconhecidamente prejudicial a ela própria ou a outra pessoa. A cleptomania é um tipo de problema de autocontrole emocional ou comportamental; é um tipo de distúrbio de controle de um impulso. As pessoas com cleptomania não conseguem resistir ao desejo de roubar, não porque precisem ou queiram os itens ou porque não possam comprá-los.

Embora as pessoas com cleptomania não premeditem os roubos que realizam, geralmente evitam roubar quando é provável uma prisão imediata. Elas mesmas se punem emocionalmente, se sentindo deprimidas ou culpadas pelos roubos após tê-los praticado. Muitas vezes parece que procuram praticar seus roubos de maneira a serem olhadas e, assim, serem punidas por outras pessoas.

Quais são as principais características clínicas da cleptomania?

As pessoas com cleptomania não roubam para obter qualquer ganho pessoal, mas simplesmente porque o desejo de roubar é tão poderoso que elas não conseguem resistir. A maioria das pessoas com cleptomania rouba de locais públicos, como lojas e supermercados, onde elas mais facilmente podem ser surpreendidas roubando. O mais desejável por elas é o ato de roubar, não o objeto roubado.

Os episódios de cleptomania ocorrem sem planejamento e sem ajuda ou colaboração de outra pessoa. Alguns podem roubar amigos ou conhecidos, como em uma festa, por exemplo. Os itens roubados nunca são para serem usados e na maioria das vezes são escondidos, podendo também ser doados a familiares ou amigos ou até mesmo serem devolvidos ao local de onde foram retirados.

Pessoas com cleptomania costumam ter associadamente outro ou outros distúrbios psiquiátricos, como transtornos depressivos ou bipolares, distúrbios de ansiedade, distúrbios alimentares, distúrbios de personalidade, transtornos por abuso de substâncias e outros problemas de controle de impulsos.

Os estados mentais que precedem, acompanham ou sucedem o ato de cleptomania incluem:

  1. Incapacidade de resistir aos impulsos de roubar;
  2. Aumentar a tensão, ansiedade ou excitação que antecedem o roubo;
  3. Sentir prazer e/ou alívio enquanto rouba;
  4. Sentir culpa, vergonha, arrependimento ou medo após o roubo;
  5. Recorrência4 dos mesmos impulsos e repetição do ciclo de cleptomania.

A intensidade e a frequência do desejo de roubar pode oscilar numa mesma pessoa ao longo do tempo.

Leia sobre "Transtorno bipolar do humor" e "Transtorno de ansiedade generalizada".

Como o médico diagnostica a cleptomania?

O diagnóstico5 é baseado nas características relatadas dos sinais6 e sintomas7. Por ser um tipo de distúrbio de controle de impulso, o médico pode fazer perguntas sobre como funcionam os impulsos da pessoa e como ela se sente com eles. São usados critérios do Manual Diagnóstico5 e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) para diagnóstico5 de certeza.

Como o médico trata a cleptomania?

Muitas pessoas com cleptomania sentem vergonha de procurar tratamento. Contudo, o tratamento é essencial porque a doença não consegue ser vencida sem a ajuda de uma outra pessoa. Embora não haja uma cura radical e definitiva, o tratamento contribui para diminuir ou encerrar o ciclo do roubo compulsivo.

O tratamento envolve medicamentos e psicoterapia, ou ambos, às vezes juntamente com grupos de autoajuda. O aconselhamento ou a psicoterapia pode ser em grupo ou individual. O tratamento visa a ajudar a pessoa a entender porque ela age por impulso, aprender a responder aos impulsos de maneira mais apropriada e lidar com problemas psicológicos subjacentes que podem estar contribuindo para essa condição.

Quanto às medicações, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, que aumentam os níveis de serotonina no cérebro1, podem ser usados para tratar a cleptomania.

Como evolui em geral a cleptomania?

Não é incomum que após ter cessado o hábito por um certo tempo, a pessoa volte a reincidir. Se a pessoa sentir novamente vontade de roubar, deve entrar em contato com o médico ou outro profissional de saúde8 mental ou, pelo menos, com uma pessoa de sua confiança e relatar o problema, porque ela sozinha não conseguirá vencer o impulso.

Quais são as complicações possíveis da cleptomania?

A cleptomania pode resultar em graves problemas emocionais, familiares, profissionais, jurídicos e financeiros. Além de sentir vergonha, culpa e humilhação a pessoa pode ser presa por roubar. Outras complicações e condições associadas à cleptomania podem incluir distúrbios de controle de outros impulsos, uso indevido de álcool e substâncias ilícitas9, transtornos de personalidade, distúrbios alimentares, depressão, transtorno bipolar, ansiedade, pensamentos suicidas, tentativas de suicídio e suicídio.

Veja também sobre "O comer compulsivo", "Tricotilomania" e "Dermatilomania ou Skin Picking".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Mayo Clinic e da Cleveland Clinic.

ABCMED, 2019. Cleptomania: conceito, causas, características, diagnóstico e tratamento. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1354048/cleptomania-conceito-causas-caracteristicas-diagnostico-e-tratamento.htm>. Acesso em: 5 out. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
2 Dopamina: É um mediador químico presente nas glândulas suprarrenais, indispensável para a atividade normal do cérebro.
3 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
4 Recorrência: 1. Retorno, repetição. 2. Em medicina, é o reaparecimento dos sintomas característicos de uma doença, após a sua completa remissão. 3. Em informática, é a repetição continuada da mesma operação ou grupo de operações. 4. Em psicologia, é a volta à memória.
5 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
6 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
7 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
8 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
9 Ilícitas: 1. Condenadas pela lei e/ou pela moral; proibidas, ilegais. 2. Qualidade das que não são legais ou moralmente aceitáveis; ilicitude.
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