Bloqueio neuromuscular - Como ele funciona?
Como se realiza normalmente a transmissão de impulso entre um nervo motor e o músculo por ele inervado?
O sistema nervoso1 motor deve ligar-se aos músculos2 para que eles exerçam adequadamente suas funções. Normalmente, o axônio3 de um nervo motor liga-se a uma fibra muscular na chamada junção neuromotora ou placa4 motora, e através dela transfere ao músculo o seu estímulo, fazendo-o executar a sua função.
A placa4 motora é a região pós-sináptica da membrana plasmática5 da fibra muscular e é o ponto específico onde há a conexão do neurônio motor com essa célula6. Entre ambos, há a fenda sináptica, um espaço de 50 a 100 nm (nanomicrons) entre a membrana do botão sináptico neuronal (terminação do axônio3) e o sarcolema (membrana plasmática5 das células7 do tecido8 muscular estriado), espaço este preenchido por líquido. Através dessas estruturas passam, quimicamente, os comandos motores dos nervos para os músculos2.
O que é um bloqueio neuromuscular?
O termo "bloqueio neuromuscular" refere-se à interrupção ou diminuição da transmissão dos sinais9 nervosos entre os nervos motores e os músculos2 esqueléticos correspondentes. Isso pode ser alcançado através do uso de substâncias chamadas bloqueadores neuromusculares, que são drogas que causam paralisia10 nos músculos2 esqueléticos através do bloqueio da transmissão química de impulsos na junção neuromuscular11.
Isso pode acontecer tanto pela atuação pré-sináptica, através da inibição da síntese ou da liberação de acetilcolina12, que atua na fenda sináptica como transmissora de impulsos, quanto agindo na pós sinapse, nos receptores da acetilcolina12. Embora existam drogas que atuam na pré sinapse, a maioria dos bloqueadores neuromusculares clinicamente relevantes atuam na pós sinapse.
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Que tipos de bloqueadores neuromusculares existem?
Como dito, existem bloqueadores que agem a nível pré sinapse e bloqueadores que agem a nível pós sinapse.
Os bloqueadores que agem a nível pré-sináptico atuam inibindo a síntese de acetilcolina12 ou impedindo a liberação dela.
Os bloqueadores que agem a nível pós-sináptico são de dois tipos principais:
- Bloqueadores despolarizantes, que agem inicialmente como agonistas, causando despolarização na placa4 motora. Atuam ao contrário da acetilcolina12, que é normalmente liberada para estimular a contração muscular.
- Bloqueadores não despolarizantes, que levam à incapacidade de transmitir impulsos nervosos, pois competem com a acetilcolina12 pelos receptores na placa4 motora, bloqueando assim a transmissão de sinais9 nervosos. Um exemplo comum é a succinilcolina. Esses bloqueadores são os mais frequentemente utilizados na prática clínica e incluem medicamentos como o rocurônio e o pancurônio, entre outros.
Por que fazer bloqueio neuromuscular?
Um bloqueio neuromuscular é frequentemente realizado por anestesistas em contextos médicos e cirúrgicos por várias razões diferentes:
- Durante procedimentos cirúrgicos ou em situações de emergência14, é muitas vezes necessário inserir um tubo endotraqueal na traqueia15 do paciente para garantir uma via aérea segura e adequada. O bloqueio neuromuscular pode ser usado para relaxar os músculos2 da laringe16 e facilitar esse processo.
- Em pacientes que estão em ventilação17 mecânica, o bloqueio neuromuscular pode ser utilizado para promover uma paralisia10 temporária dos músculos respiratórios18, o que facilita a ventilação17 pulmonar artificial.
- Durante certos procedimentos diagnósticos, terapêuticos ou cirúrgicos que requerem imobilidade completa, um bloqueio neuromuscular pode ser utilizado para paralisar os músculos2 esqueléticos temporariamente.
- E em algumas situações médicas específicas, como convulsões graves ou rigidez muscular extrema, um bloqueio neuromuscular pode ser usado para prevenir danos musculares decorrentes dessas condições.
Nos bloqueios neuromusculares feitos em virtude de grandes cirurgias torácicas ou abdominais, os músculos intercostais19 são paralisados e é necessária uma assistência ventilatória mecânica. O monitoramento de pacientes em uso dos bloqueadores é imperativo e deve ser feito por um profissional habilitado. Seu uso pode ser complicado pelo curso clínico da própria doença, pela administração concomitante de sedativos e analgésicos20 ou pela utilização de modalidades terapêuticas adicionais, como por exemplo as terapias para hipotermia21.
Os efeitos dos bloqueadores não despolarizantes podem ser revertidos por fármacos inibidores da acetilcolinesterase, a enzima22 responsável pela degradação da acetilcolina12 na fenda sináptica. Dessa forma, aumenta-se a concentração de acetilcolina12 na fenda. Os inibidores de acetilcolinesterase mais usados clinicamente são a neostigmina e o edrofônio. O aumento na concentração de acetilcolina12 induzido por um anticolinesterásico não se limita à junção neuromuscular11, afetando também locais onde a acetilcolina12 é o neurotransmissor, gerando alguns efeitos colaterais23.
Como os pacientes ainda sentem dor mesmo após o bloqueio de condução ter sido feito, porque são bloqueadas apenas as fibras motoras e não as sensitivas, anestésicos gerais e/ou analgésicos20 devem ser administrados durante os procedimentos médicos. Além disso, os bloqueadores neuromusculares não têm efeito sobre os níveis de consciência do paciente e, assim, não afetam a sua capacidade de perceber dor ou desconforto. Por isso, é considerada uma prática padrão estabelecer níveis adequados de analgesia e sedação24 antes e durante o bloqueio neuromuscular.
Possíveis efeitos colaterais23 e complicações dos bloqueadores neuromusculares
Os possíveis efeitos colaterais23 dos bloqueadores neuromusculares são rubor, erupção25 cutânea26, queda da pressão arterial27, aumento da frequência cardíaca, tontura28, espasmos29 musculares, soluços e fraqueza muscular. Embora existam significativos benefícios com o uso de bloqueadores neuromusculares em situações específicas, também existem algumas complicações no uso a curto e longo prazos.
De uma maneira aguda, a curto prazo, os bloqueadores neuromusculares podem levar a uma maior permanência na UTI, prolongamento da ventilação17 mecânica, tromboembolismo30 venoso, lacerações ou infecções31 na pele32, outras infecções31, danos à córnea33 e anafilaxia34. A administração a longo prazo pode levar à imobilidade, ao aumento do tempo de recuperação devido à transmissão neuromuscular prejudicada e à fraqueza muscular.
Saiba mais sobre "Anestesia35 geral", "Neurotransmissores" e "Considerações sobre a clínica da dor".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da Science Direct.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.