O que foi a gripe espanhola no Brasil e um comparativo com a COVID-19
O que foi a gripe1 espanhola?
A gripe1 espanhola, também conhecida como gripe1 de 1918, foi uma vasta e mortal pandemia2 do vírus3 influenza4 (vírus3 H1N1, com genes de origem aviária), que ocorreu logo ao final da Primeira Guerra Mundial. Estima-se que de janeiro de 1918 a dezembro de 1920 tenha infectado 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial àquela época. Estima-se ainda que o número de mortos tenha sido algo em torno de 50 milhões de pessoas (alguns estimam em até 100 milhões), tornando-a uma das epidemias mais mortais da história da humanidade.
Para manter o ânimo das tropas e da população, os censores da guerra minimizaram os primeiros relatos da doença e sua mortalidade5 o que a tornou ainda mais virulenta. No entanto, na Espanha, os artigos eram livres para relatar os efeitos da pandemia2 e o próprio Rei Afonso XIII foi acometido. Isso criou a falsa impressão de que aquele país estava sendo especialmente atingido, e daí a pandemia2 passou a ser popularmente conhecida como "Gripe1 Espanhola", que acabou se tornando também sua denominação oficial. Os dados históricos e epidemiológicos, no entanto, são inadequados para identificar com segurança a origem geográfica daquela pandemia2, que se espalhou pelo mundo durante 1918-1919.
Em comparação com a COVID-19, tem-se, até o dia de hoje (16.06.2020), pouco mais de 8 milhões de infectados e cerca de 500 mil mortes. Há que se levar em conta que o planeta tem hoje uma população cerca de 4 vezes maior que tinha em 1918. Nos Estados Unidos, a Gripe1 Espanhola gerou cerca de 675.000 mortes. O número de mortes hoje pela COVID-19, nos Estados Unidos, é de 120.000.
Após o ápice da Gripe1 Espanhola, no final de 1918, novos casos caíram abruptamente. Uma das explicações para o rápido declínio da doença é a de que os médicos e medicamentos se tornaram mais eficazes na prevenção e tratamento da pneumonia6 que se desenvolvia após a contração do vírus3. Outra teoria sustenta que o vírus3 sofreu uma mutação7 extremamente rápida para uma forma menos letal.
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O que foi a gripe1 espanhola no Brasil?
Em 1918 o mundo estava em guerra, quando a Gripe1 Espanhola começou a aparecer. As preocupações com a doença, no Brasil, se iniciaram quando a Missão Médica Brasileira, enviada à França para ajudar na prestação de socorro aos combatentes, foi acometida pelo vírus3. Naquele ano, navios que transportavam correio aportaram em Recife, Salvador e Rio de Janeiro e trouxeram junto a influenza4 espanhola. Em pouco tempo, as cidades portuárias brasileiras foram atingidas pela doença, que logo se estendeu pelo território nacional.
A gripe1 espanhola instaurou terror no Brasil, paralisou o comércio e as escolas e acabou matando o presidente recém eleito, Rodrigues Alves, antes de sua posse. Em novembro daquele ano, “o Rio de Janeiro era um vasto hospital”, e a epidemia se espalhava pelo país.
Em outubro de 1918, o Serviço Sanitário do Estado publicou uma série de recomendações para instruir a população a se prevenir. Assim como vem sendo recomendado para lidar com a COVID-19, o objetivo era impedir a disseminação da doença: evitar aglomerações, não fazer visitas, tomar cuidados higiênicos com o nariz8 e a garganta9, evitar fadiga10 e excessos físicos, etc. Os idosos, mais vulneráveis, eram advertidos a redobrarem esses cuidados.
Na cidade de São Paulo, as escolas, cinemas, teatros e jardins foram fechados e as igrejas tiveram que reduzir o público das missas. Os enterros de mortos não podiam ser acompanhados a pé e as compras de muitas famílias eram feitas por uma única pessoa, para reduzir os riscos de contágio11.
Comparações da gripe1 espanhola com a COVID-19
- Estima-se que a Gripe1 Espanhola tenha matado cerca de 35 mil brasileiros, para uma população de aproximadamente 29 milhões de habitantes. Ontem (15.06.20), contava-se cerca de 44.000 mortes pela COVID-19 no país, que, atualmente, tem aproximadamente 210 milhões de habitantes.
- Em 1918 ainda não existiam os antibióticos, que embora não tenham nenhuma eficácia contra os vírus3, podem tratar infecções12 bacterianas intercorrentes.
- A mortalidade5 da Gripe1 Espanhola foi alta em pessoas com menos de 5 anos, entre 20 e 40 anos e acima dos 65 anos. A alta mortalidade5 em pessoas saudáveis, incluindo aquelas na faixa etária de 20 a 40 anos, foi característica unicamente dessa pandemia2, até então. Na COVID-19, no Brasil, 90% das mortes ocorrem em maiores de 60 anos.
- Sem vacina13 para proteger contra a infecção14 por influenza4 (Gripe1 Espanhola), os esforços de controle em todo o mundo limitaram-se a intervenções não farmacêuticas, como isolamento, quarentena, boa higiene pessoal, uso de desinfetantes e limitações de reuniões públicas, tal como se faz hoje em relação à COVID-19.
- Outro ponto em comum entre as duas pandemias é a busca de um culpado externo para o problema. Com a gripe1 espanhola, chegou-se a afirmar que a doença seria fruto de uma arma biológica criada pela Alemanha. Com a COVID-19, a China tem sido acusada de ter ajudado a espalhar a doença pelo mundo. Contudo, a negação das autoridades é o ponto comum nos dois períodos.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites do CDC – Centers for Disease Control and Prevention e da Stanford Educational.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.