Gostou do artigo? Compartilhe!

Carvão ativado - usos médicos e não médicos

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é carvão ativado?

O carvão ativado é um pó preto, fino, puro, de grande porosidade, feito de carvão animal, cascas de coco, turfa, coque de petróleo, caroço de azeitona ou serragem. O carvão é "ativado" processando-o a temperaturas muito altas. As altas temperaturas alteram sua estrutura interna, reduzindo o tamanho de seus poros e aumentando sua área de superfície. Isso resulta em um carvão que é mais poroso que o carvão comum. Pode ser usado em pó ou granulado, conforme seja a finalidade do uso.

O carvão ativado é obtido a partir da queima de seus insumos a uma temperatura entre 800°C a 1000°C.

Como funciona o carvão ativado?

O carvão ativado funciona impedindo que toxinas1 e certos produtos químicos no intestino sejam absorvidos pelo organismo. A textura porosa do carvão tem uma carga elétrica negativa, o que faz com que ele atraia moléculas carregadas positivamente, como toxinas1 e certos gases. Isso ajuda a capturar toxinas1 e produtos químicos no intestino, impedindo a absorção deles. Como o carvão ativado não é absorvido pelo corpo, ele pode transportar as toxinas1 aderidas a ele para fora do corpo, nas fezes.

Usos médicos do carvão ativado

O carvão ativado já foi considerado o antídoto2 universal contra venenos. Hoje em dia, continua a ser promovido como um tratamento natural potente, mas não mais universal. Além disso tem uma variedade de benefícios propostos, desde baixar o colesterol3 até clarear os dentes e curar ressacas. O carvão ativado tem também a capacidade de coletar seletivamente gases, líquidos e impurezas no interior dos poros.

Graças às suas propriedades de se ligar a toxinas1, ele tem uma variedade de outros usos médicos. Isso porque pode se ligar a uma grande variedade de substâncias, neutralizando-as ou reduzindo seus efeitos. Ele pode ser usado, por exemplo, para tratar overdoses de drogas legais ou ilegais. Estudos mostram que se tomado em até cinco minutos após a ingestão da droga, o carvão ativado pode reduzir a absorção de drogas em adultos em até 74%. No entanto, o protocolo de administração deve obedecer à orientação médica, considerando que ele só é eficaz num número limitado de casos de envenenamento. Parece ter pouco efeito, por exemplo, sobre intoxicações por álcool, metais pesados, ferro, lítio, potássio, ácido ou álcali.

O carvão ativado também pode ajudar a promover a função renal4, reduzindo o número de produtos residuais que os rins5 precisam filtrar. Isso pode ser particularmente benéfico em pacientes que sofrem de doença renal4 crônica, uma condição na qual os rins5 já não conseguem filtrar adequadamente as toxinas1 do corpo. Elas, então, podem passar da corrente sanguínea para o intestino e lá se ligam ao carvão ativado e são excretadas nas fezes.

O carvão ativado também pode ajudar a reduzir os odores emitidos por indivíduos que sofrem de trimetilaminúria, que é uma condição genética na qual a trimetilamina, um composto com um odor semelhante ao do peixe em decomposição, se acumula no corpo, dando origem a um odor desagradável de peixe na urina6, no suor e no hálito.

O carvão ativado também pode ajudar a reduzir de maneira muito significativa os níveis de colesterol3 no sangue7 ao ligar-se no intestino ao colesterol3 e aos ácidos biliares que contêm colesterol3, impedindo que o corpo os absorva.

Atualmente, seu uso está presente em produtos cosméticos com a finalidade de limpar a pele8 e o couro cabeludo, controlando a oleosidade. Não há comprovação científica para tal aplicação, mas ele também está sendo usado em dietas de emagrecimento

Um médico deve acompanhar o uso do carvão ativado para que seus possíveis efeitos colaterais9 possam ser evitados. 

Leia mais sobre "Overdose", "Envenenamento", "Insuficiência renal10 crônica" e "Trimetilaminúria".

Usos não médicos do carvão ativado

O carvão ativado é também utilizado em sistemas de filtragem, tendo papel importante no tratamento de água e de efluentes (esgotos) e absorção de gases tóxicos resultantes de processos industriais. Contudo, é válido lembrar que o potencial do carvão é limitado e um filtro de carvão ativado deixa de ser eficiente e deve ser substituído se todos os poros de sua estrutura estiverem preenchidos.

O carvão ativado como medicação

O carvão vegetal ativado é a substância ativa dos medicamentos com os nomes comerciais “Carverol” e “Carvão vegetal ativado”. Eles têm a propriedade de unir substâncias à sua superfície, o que lhes permite fixar toxinas1 bacterianas, químicas irritantes e gases; atuam também como protetores das mucosas11. São apresentados sob a forma de comprimido de 250mg.

Os usos aprovados pela ANVISA são: (1) casos em que se necessite da absorção de gases e toxinas1, bem como auxilio no tratamento de enterites, colites e enterocolites, aerofagias e meteorismos; (2) antidoto2 inespecífico usado em várias intoxicações exógenas12 agudas.

A ANVISA não o reconhece como seguro e eficaz se for usado fora das indicações contidas na bula aprovada por esta agência. O uso para tratamento não aprovado pela ANVISA é de inteira responsabilidade do médico. Esse medicamento está incluído na lista de Assistência Farmacêutica do SUS na forma de apresentação em pó para uso oral.

Quais são os efeitos colaterais9 e as complicações com o uso de carvão ativado?

O carvão ativado é considerado seguro na maioria dos casos e as reações adversas são infrequentes e raramente severas. Ele pode causar alguns efeitos colaterais9 desagradáveis, os mais comuns dos quais são náuseas13 e vômitos14. Além disso, constipação15 e fezes negras são dois outros efeitos colaterais9 comumente relatados.

Quando usado como um antídoto2 de emergência16 em casos de envenenamento, existe o risco de ele chegar aos pulmões17, em vez do estômago18. Isto é especialmente verdadeiro se a pessoa que o recebe vomitar ou estiver sonolenta ou semi-consciente. Além disso, o carvão ativado pode piorar os sintomas19 em indivíduos com porfiria20 (uma doença genética rara que afeta a pele8, o intestino e o sistema nervoso21). Em casos muito raros, o carvão ativado tem sido associado a bloqueios intestinais.

Deve ser ressaltado que o carvão ativado também pode reduzir a absorção de certos medicamentos e, portanto, os indivíduos que tomam medicamentos devem consultar o profissional de saúde22 antes de tomá-lo.

Veja também sobre "Porfiria20" e "Colesterol3 alto".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas em parte do site Healthline e, em parte, do site do Ministério da Saúde.

ABCMED, 2019. Carvão ativado - usos médicos e não médicos. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/1343933/carvao-ativado-usos-medicos-e-nao-medicos.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Toxinas: Substâncias tóxicas, especialmente uma proteína, produzidas durante o metabolismo e o crescimento de certos microrganismos, animais e plantas, capazes de provocar a formação de anticorpos ou antitoxinas.
2 Antídoto: Substância ou mistura que neutraliza os efeitos de um veneno. Esta ação pode reagir diretamente com o veneno ou amenizar/reverter a ação biológica causada por ele.
3 Colesterol: Tipo de gordura produzida pelo fígado e encontrada no sangue, músculos, fígado e outros tecidos. O colesterol é usado pelo corpo para a produção de hormônios esteróides (testosterona, estrógeno, cortisol e progesterona). O excesso de colesterol pode causar depósito de gordura nos vasos sangüíneos. Seus componentes são: HDL-Colesterol: tem efeito protetor para as artérias, é considerado o bom colesterol. LDL-Colesterol: relacionado às doenças cardiovasculares, é o mau colesterol. VLDL-Colesterol: representa os triglicérides (um quinto destes).
4 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
5 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
6 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
7 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
8 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
9 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
10 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
11 Mucosas: Tipo de membranas, umidificadas por secreções glandulares, que recobrem cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
12 Intoxicações exógenas: Intoxicação exógena ou envenenamento é o resultado da contaminação de um ser vivo por um produto químico, excluindo reações imunológicas tais como alergias e infecções. Para que ocorra um envenenamento são necessários três fatores: substância, vítima em potencial e situação desfavorável.
13 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
14 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
15 Constipação: Retardo ou dificuldade nas defecações, suficiente para causar desconforto significativo para a pessoa. Pode significar que as fezes são duras, difíceis de serem expelidas ou infreqüentes (evacuações inferiores a três vezes por semana), ou ainda a sensação de esvaziamento retal incompleto, após as defecações.
16 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
17 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
18 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
19 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
20 Porfiria: Constituem um grupo de pelo menos oito doenças genéticas distintas, além de formas adquiridas, decorrentes de deficiências enzimáticas específicas na via de biossíntese do heme, que levam à superprodução e acumulação de precursores metabólicos, para cada qual correspondendo um tipo particular de porfiria. Fatores ambientais, tais como: medicamentos, álcool, hormônios, dieta, estresse, exposição solar e outros desempenham um papel importante no desencadeamento e curso destas doenças.
21 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
22 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.