Neurociência - o que ela estuda?
O que é Neurociência?
Neurociência, ou neurobiologia, é o estudo científico do sistema nervoso1. É um ramo multidisciplinar da biologia que combina fisiologia2, anatomia, biologia molecular, biologia do desenvolvimento, citologia, modelagem matemática e psicologia para entender as propriedades fundamentais dos neurônios3 e dos circuitos neurais.
Os estudos sobre o funcionamento do cérebro4, embora remonte a alguns milênios, ficou adormecido durante muito tempo e acumulou muitas ideias e conhecimentos errôneos. Só recentemente, graças ao exponencial progresso da ciência e tecnologia médicas, eles vieram a retomar impulso e a produzir resultados surpreendentes e revolucionários. Para entender-se a complexidade desse campo, basta lembrar que cada pessoa tem cem bilhões de neurônios3, com cerca de um quatrilhão de conexões entre eles.
A neurociência busca a compreensão da base biológica da aprendizagem, memória, comportamento, percepção e consciência. Ela é o campo onde confluem a psicologia e a biologia e onde cada vez mais se encontram as bases orgânicas dos fenômenos psíquicos e das doenças neurológicas.
O escopo da neurociência se ampliou ao longo do tempo e passou a incluir diferentes abordagens usadas para estudar o sistema nervoso1 em diferentes escalas e as técnicas utilizadas pelos neurocientistas se expandiram enormemente, de estudos moleculares e celulares de neurônios3 individuais até imagens de tarefas sensoriais, motoras e cognitivas do cérebro4.
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História do estudo do cérebro4
O primeiro estudo do sistema nervoso1 data do antigo Egito. Manuscritos datados de 1700 a.C. indicam que os egípcios já tinham algum conhecimento sobre sintomas5 de danos cerebrais. A trepanação (prática cirúrgica de perfurar o crânio6) com a finalidade de curar distúrbios mentais, ou aliviar a pressão craniana, foi registrada pela primeira vez durante o período neolítico.
Galvani, no final dos anos 1700, preparou o terreno para o estudo da excitabilidade elétrica dos músculos7 e neurônios3. Na primeira metade do século XIX, Flourens foi pioneiro no método experimental de realizar lesões8 localizadas do cérebro4 em animais vivos descrevendo seus efeitos periféricos sobre a motricidade, sensibilidade e o comportamento. Em 1843, Emil du Bois-Reymond demonstrou a natureza elétrica do sinal9 do nervo.
Estudos do cérebro4 tornaram-se mais sofisticados após a invenção do microscópio e o desenvolvimento de um procedimento de coloração do tecido nervoso10 por Golgi durante o final da década de 1890. A técnica levou à formação da doutrina dos neurônios3, a unidade funcional do cérebro4, por Ramón y Cajal. Paralelamente, Broca descreveu certas regiões do cérebro4 responsáveis por determinadas funções, especialmente a fala. Hughlings Jackson, estudando epilépticos, mostrou como se dá a progressão das convulsões através do corpo. Carl Wernicke desenvolveu ainda mais a teoria da especialização de estruturas cerebrais específicas na compreensão e produção da linguagem.
Pesquisas atuais têm progredido enormemente com as modernas técnicas de neuroimagem. Durante o século XX, a neurociência começou a ser reconhecida como uma disciplina acadêmica distinta por si só e não como estudos do sistema nervoso1 dentro de outras disciplinas. A compreensão dos neurônios3 e da função do sistema nervoso1 tornou-se cada vez mais precisa e molecular durante o século XX. Em 1952, foi elaborado um modelo de transmissão de sinais11 elétricos em neurônios3 e foram melhor reconhecidas as sinapses. Daí para frente, os estudos têm sido mais refinados e incluído funções e detalhes antes inimagináveis.
A grande evolução da tecnologia médica, incluindo as simulações de computador, estudo de imagens e outras ferramentas, dão aos pesquisadores e especialistas médicos uma nova visão12 da anatomia física do cérebro4 e dos circuitos neuronais e sua relação com o resto da mente e do corpo.
O que estuda a Neurociência?
Assim como os computadores são ligados por conexões elétricas, o cérebro4 é ligado a conexões neurais que ligam seus vários lóbulos e também vinculam a entrada sensorial e a saída motora com os centros de mensagens do cérebro4, permitindo que as informações cheguem ou sejam enviadas.
Um dos papeis da pesquisa em Neurociência é estudar os danos à “fiação” do cérebro4. Novos desenvolvimentos na varredura do cérebro4 permitem que os pesquisadores vejam imagens mais detalhadas, geralmente coloridas, e determinem não apenas onde pode haver dano, mas também como esse dano afeta, por exemplo, habilidades motoras e comportamentos cognitivos13 em condições como a esclerose múltipla14 e a demência15, por exemplo.
Mas a neurociência não estuda apenas os danos cerebrais, estuda também a arquitetura e funcionamento normal do cérebro4. Ela estuda o comportamento, os processos cognitivos13, a memória, a aprendizagem, as emoções, a atenção e demais funções cerebrais. Com isso, têm sido possíveis novos tratamentos para doenças neurológicas e psiquiátricas que antes evoluíam quase que espontaneamente.
Uma certa comparação do funcionamento cerebral com os computadores modernos é inevitável e a associação de ambos permitirá, no futuro, avanços hoje insuspeitados nas duas áreas.
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As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.