Inteligência artificial oferece novos indicadores de envelhecimento cerebral
O que sabemos hoje sobre o envelhecimento cerebral?
Nos últimos anos, a compreensão do envelhecimento cerebral avançou significativamente, impulsionada pela combinação entre ressonância magnética1 (RM), ciência de dados e inteligência artificial (IA). A ressonância magnética1 estrutural, quando processada por modelos de IA, tem se mostrado uma ferramenta promissora para estimar o envelhecimento biológico do cérebro2, detectando padrões que não são visíveis ao olho3 humano muito antes do aparecimento de sintomas4 clínicos.
Estudos conduzidos por neurocientistas da Universidade de Duke utilizam IA para analisar imagens de RM e identificar marcadores estruturais associados ao envelhecimento, como espessura cortical, volume de substância cinzenta, integridade da substância branca e grau de atrofia5 hipocampal. Esses marcadores permitem estimar o ritmo de envelhecimento cerebral e prever manifestações futuras, incluindo declínio de memória, lentificação motora e redução da velocidade de processamento, mesmo em pessoas ainda assintomáticas.
A análise de mais de 50 mil exames de neuroimagem mostrou que padrões estruturais do cérebro2 são mais precisos para estimar o envelhecimento biológico do que indicadores isolados baseados em exames de sangue6, testes físicos ou marcadores inflamatórios. Além disso, a IA já é usada para detectar sinais7 iniciais de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer8.
Um estudo da Universidade do Sul da Califórnia desenvolveu um modelo capaz de predizer a “idade cerebral” e identificar riscos de declínio cognitivo9 usando apenas RM, revelando diferenças regionais de envelhecimento entre homens e mulheres. Já pesquisadores da Universidade de Cambridge alcançaram 82% de acurácia na previsão de Alzheimer8 em pacientes com comprometimento cognitivo9 leve, com base apenas em RM e testes clínicos, reduzindo a necessidade de exames invasivos.
Leia sobre "Perda de memória", "Mal de Alzheimer8" e "Demência10".
Como é possível medir o ritmo do envelhecimento cerebral com uma única ressonância magnética1?
Em julho de 2025, pesquisadores da Universidade de Duke, em colaboração com Harvard e Universidade de Otago, divulgaram um estudo apresentando o DunedinPACNI (Dunedin Pace of Aging Calculated from Neuroimaging), uma ferramenta que estima o ritmo de envelhecimento cerebral a partir de uma única ressonância magnética1.
O modelo analisa parâmetros como volumes regionais, espessura cortical, integridade de substância branca e proporções anatômicas, processando essas informações por aprendizado de máquina para gerar um índice individualizado de “ritmo de envelhecimento”.
Indivíduos com envelhecimento cerebral acelerado apresentaram:
- Pior desempenho cognitivo11 global
- Encolhimento hipocampal mais rápido
- Risco até 60% maior de desenvolver demência10
A ferramenta mostrou boa generalização entre diferentes etnias, níveis socioeconômicos e países, sugerindo potencial uso clínico. Como o tipo de RM necessário é amplamente utilizado na prática médica, os autores destacam que o método pode ser incorporado à prevenção em saúde12, com criação futura de tabelas normativas para comparação populacional e decisões clínicas precoces.
Como a retina13 pode revelar sinais7 de Alzheimer8?
Outra linha de pesquisa da Universidade de Duke investiga biomarcadores de Alzheimer8 pela retina13, que é considerada uma extensão do sistema nervoso central14.
Em 2020, pesquisadores analisaram exames de retinografia15, tomografia de coerência óptica (OCT) e angiografia16 por tomografia de coerência óptica (OCTA) e identificaram alterações como redução da densidade capilar17 macular e alterações estruturais e vasculares18 finas associadas à presença de Alzheimer8 sintomático19.
Em 2023, a mesma equipe aprimorou o modelo para detectar comprometimento cognitivo9 leve (CCL), precursor da demência10, com sensibilidade de 79% e especificidade de 83%. Esses achados são relevantes porque oferecem uma estratégia de triagem não invasiva, utilizam equipamentos já disponíveis na oftalmologia, podem ser escaláveis em contextos com poucos recursos e permitem detecção de alterações que surgem antes dos sintomas4 cognitivos20 perceptíveis.
Quais fatores de vida influenciam o envelhecimento cerebral e a memória?
Um estudo do Duke-UNC Alzheimer’s Disease Research Center, publicado em junho de 2025, analisou como fatores de vida afetam a memória em adultos entre 54 e 90 anos.
Foram avaliados 15 fatores demográficos e de estilo de vida em uma coorte21 com mais de 2.200 participantes. Os principais preditores de melhor memória foram:
- Maior nível educacional
- Maior renda
- Boa qualidade do sono
- Engajamento social (como voluntariado)
- Sexo feminino, que apresentou desempenho superior em algumas tarefas de memória
Curiosamente, raça e etnia tiveram impacto menos relevante, apesar de pequenas diferenças entre grupos brancos e latinos. Esse tipo de análise multivariada é possível graças a modelos de IA que atribuem pesos relativos a múltiplos fatores, permitindo compreender como diferentes dimensões da vida influenciam os mecanismos cognitivos20.
Saiba mais sobre "Envelhecimento saudável", "Névoa cerebral" e "Como exercitar o cérebro2".
Quais outras linhas de pesquisa estão avançando o entendimento do envelhecimento e das doenças neurodegenerativas?
Diferentes grupos da Universidade de Duke têm explorado biomarcadores sofisticados de envelhecimento e neurodegeneração.
Uma linha investiga alterações topológicas nas redes neurais estruturais e funcionais ao longo da progressão, desde o envelhecimento saudável até o Alzheimer8. A ideia é que mudanças sutis na conectividade global do cérebro2 possam atuar como biomarcadores mais sensíveis que análises regionais tradicionais, possibilitando futuramente um atlas22 espaçotemporal das mudanças no conectoma humano ao envelhecer.
Outra frente combina deep learning (aprendizado profundo) com análise comportamental 3D e registros eletroencefalográficos (EEG). Inicialmente aplicada em modelos animais, essa abordagem permite identificar padrões motores finos, detectar alterações comportamentais precoces e estudar doenças como Parkinson, autismo e transtornos do movimento.
Um projeto complementar utiliza visão23 computacional para extrair, a partir de vídeo e EEG, biomarcadores de autismo, ataxias e outras condições neurológicas, demonstrando que modelos pré-treinados conseguem captar sinais7 relevantes mesmo sem grandes bases rotuladas, o que facilita o uso clínico em múltiplos centros.
Quais são os impactos presentes e futuros dessas tecnologias para a saúde12 cerebral?
Ferramentas de IA como o DunedinPACNI, modelos de retina13 e marcadores conectômicos representam um avanço expressivo na capacidade de detectar envelhecimento cerebral acelerado e risco de neurodegeneração antes dos sintomas4.
Isso abre oportunidades importantes:
- Intervenção precoce: identificar risco antes da manifestação clínica permite ajustar hábitos de vida, controlar fatores cardiovasculares, tratar distúrbios do sono e avaliar terapias neuroprotetoras em tempo oportuno.
- Políticas de saúde12 cerebral: educação, sono adequado, renda estável e engajamento social, agora confirmados como fatores protetores, podem orientar programas de saúde12 pública voltados ao envelhecimento saudável.
- Biomarcadores mais sensíveis: o uso de topologia persistente e modelos conectômicos pode permitir triagem e acompanhamento com resolução muito superior à obtida por métodos tradicionais.
- Panorama digital integrado: combinar RM, retina13, EEG, comportamento, genética e dados ambientais em modelos de IA pode criar um retrato abrangente e personalizado do envelhecimento cerebral, para prever risco individual com maior precisão.
Uma importante questão ainda em aberto é avaliar se e em que grau intervenções, como melhorar o sono, controlar pressão arterial24, adotar atividade física e promover interação social, podem de fato retardar ou reverter marcadores de envelhecimento cerebral. Este deve ser o foco de estudos futuros.
Veja também sobre "Demência10 frontotemporal", "Demência10 vascular25" e "Como prevenir o declínio cognitivo9".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Universidade Federal de Uberlândia -MG e da Agência Einstein.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.















