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Bócio mergulhante

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O que é bócio1?

O bócio1, vulgarmente conhecido como "papo", é um quadro de crescimento crônico2 da glândula3 tireoide4, de evolução lenta e de aspecto insidioso, o qual pode envolver toda a glândula3 (bócio1 difuso) ou apenas parte dela (bócio1 nodular). Ele pode ser facilmente perceptível como uma protrusão no pescoço5.

Os bócios podem ser de pequeno tamanho, gerando apenas ligeiras saliências no pescoço5, ou serem volumosos, constituindo grandes massas disformes. O bócio1 nodular pode ser uninodular (apenas um nódulo6) ou multinodular (dois ou mais nódulos).

A glândula3 tireoide4 pode estar funcionando em excesso, ocasionando um hipertireoidismo7 clínico, ou em déficit, ocasionando um hipotireodismo clínico, e seus respectivos sintomas8.

Saiba mais sobre "Bócio1", "Doença de Plummer", "Hipertireoidismo7" e "Hipotireoidismo9".

O que é bócio1 mergulhante?

O bócio1 mergulhante tem a mesma natureza clínica de qualquer outro bócio1, mas o seu crescimento se dá principalmente para dentro da cavidade torácica, exigindo técnicas mais complexas para a correção cirúrgica. Estima-se que, de cada 100 casos de bócio1, apenas um seja do tipo mergulhante.

Quais são as causas dos bócios em geral?

As causas dos bócios em geral variam, mas sempre estão relacionados a problemas relativos à secreção de hormônios tireoideanos. Podem estar ligados tanto a fatores genéticos como adquiridos. As causas principais são: (1) falta de iodo (bócio1 endêmico), (2) uso de determinados medicamentos, (3) presença de tumores benignos ou malignos na glândula3, (4) doenças autoimunes10 e (5) infecções11 da tireoide4.

Não foi evidenciada qualquer relação com fatores familiares ou genéticos na gênese anatômica do bócio1 mergulhante, especificamente.

Qual é o substrato fisiopatológico do bócio1 mergulhante?

A fisiopatogenia do bócio1 mergulhante ainda não está bem estabelecida, sendo assunto polêmico e controverso. Não se compreende com clareza os mecanismos que levam à invasão da cavidade torácica pela glândula3 tireoide4. Apenas supõe-se que o tamanho do pescoço5, a musculatura cervical hipertrofiada e a cifose acentuada podem ser fatores predisponentes ao bócio1 mergulhante.

A musculatura hipertrófica situada anteriormente à tireoide4 impediria o crescimento normal do bócio1 por obstrução mecânica e, como consequência, a tireoide4 tenderia a crescer em direção ao estreito superior do tórax12, onde a resistência seria menor, invadindo a cavidade torácica, gerando o quadro de bócio1 mergulhante.

Quais são as características clínicas do bócio1 mergulhante?

Cerca de 60% dos portadores de bócio1 mergulhante são assintomáticos. O bócio1 mergulhante é mais frequente em indivíduos do sexo feminino, maiores de 60 anos e com história pregressa de cirurgia tireoidiana. Em geral, os sintomas8 começam a aparecer quando o bócio1 começa a afetar estruturas anatômicas normais.

Os sintomas8 mais comuns devidos ao “mergulho” do bócio1 na cavidade torácica são a dispneia13 (59% dos casos), disfagia14 progressiva (43% dos casos), síndrome15 de compressão da veia cava superior (5–9% dos casos) e insuficiência respiratória aguda16, em alguns casos.

A disfonia17 é menos frequente, mas requer laringoscopia indireta pré-operatória para avaliar a mobilidade das pregas vocais. A alteração da função tireoidiana não foi um achado frequente e, quando ocorreu, a taxa de hipertireoidismo7 foi moderada, variando entre 9,0 e 13,1% dos casos de bócio1 mergulhante. O hipotireoidismo9 é manifestação rara nos casos de bócio1 mergulhante.

Cerca de 30% dos pacientes procuraram o serviço médico especializado depois do achado acidental de massa mediastinal à radiografia.

O risco de malignização do bócio1 mergulhante ainda é assunto controverso. A maioria dos casos de bócio1 mergulhante é causada por bócio1 multinodular coloide. O carcinoma18 papilífero representou 1,5% a 11,5% dos casos. Esse resultado, embora baixo, alerta para a conveniência do tratamento cirúrgico nesses casos.

Como o médico diagnostica o bócio1 mergulhante?

Levantada a suspeita, a tomografia computadorizada19 é essencial, para mostrar o volume e extensão da massa intratorácica. Exames de sangue20 devem ser realizados para análise da função tireoidiana.

Como o médico trata o bócio1 mergulhante?

O bócio1 mergulhante é uma entidade específica do ponto de vista da cirurgia da tireoide4. Seu volume, dureza e extensão intratorácica exigem que o cirurgião adapte a técnica cirúrgica e realize uma investigação pré-operatória minuciosa, para elaborar um plano terapêutico completo. A tomografia computadorizada19 é indispensável, para antecipar riscos e determinar se a esternotomia é ou não necessária. Esta cirurgia parece induzir mais complicações pós-operatórias do que a cirurgia convencional, embora elas possam ser reduzidas pela técnica correta que otimize o controle das estruturas adjacentes.

O objetivo é extrair todo o bócio1 através de uma abordagem cervical. A cirurgia cérvico-torácica do bócio1 lida com estruturas anatômicas muito delicadas. Entre elas, nervo laríngeo inferior e veias21, em particular a veia braquiocefálica e veia ázigos22. O controle de problemas vasculares23 e nervosos do bócio1 pode ser difícil e arriscado e, portanto, é importante que seja conduzido por um cirurgião experiente.

Leia sobre "Nódulos da tireoide24", "Cintilografia25 da tireoide4", "Tireoidite de Hashimoto" e "Doença de Graves".

 

ABCMED, 2020. Bócio mergulhante. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/tireoide/1366503/bocio-mergulhante.htm>. Acesso em: 20 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Bócio: Aumento do tamanho da glândula tireóide, que produz um abaulamento na região anterior do pescoço. Em geral está associado ao hipotireoidismo. Quando a causa desta doença é a deficiência de ingestão de iodo, é denominado Bócio Regional Endêmico. Também pode estar associado a outras doenças glandulares como tumores, infecções ou inflamações.
2 Crônico: Descreve algo que existe por longo período de tempo. O oposto de agudo.
3 Glândula: Estrutura do organismo especializada na produção de substâncias que podem ser lançadas na corrente sangüínea (glândulas endócrinas) ou em uma superfície mucosa ou cutânea (glândulas exócrinas). A saliva, o suor, o muco, são exemplos de produtos de glândulas exócrinas. Os hormônios da tireóide, a insulina e os estrógenos são de secreção endócrina.
4 Tireoide: Glândula endócrina altamente vascularizada, constituída por dois lobos (um em cada lado da TRAQUÉIA) unidos por um feixe de tecido delgado. Secreta os HORMÔNIOS TIREOIDIANOS (produzidos pelas células foliculares) e CALCITONINA (produzida pelas células para-foliculares), que regulam o metabolismo e o nível de CÁLCIO no sangue, respectivamente.
5 Pescoço:
6 Nódulo: Lesão de consistência sólida, maior do que 0,5cm de diâmetro, saliente na hipoderme. Em geral não produz alteração na epiderme que a recobre.
7 Hipertireoidismo: Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma produção destes nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda de peso, hiperatividade, exoftalmia.
8 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
9 Hipotireoidismo: Distúrbio caracterizado por uma diminuição da atividade ou concentração dos hormônios tireoidianos. Manifesta-se por engrossamento da voz, aumento de peso, diminuição da atividade, depressão.
10 Autoimunes: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
11 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
12 Tórax: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original Sinônimos: Peito; Caixa Torácica
13 Dispnéia: Falta de ar ou dificuldade para respirar caracterizada por respiração rápida e curta, geralmente está associada a alguma doença cardíaca ou pulmonar.
14 Disfagia: Sensação consciente da passagem dos alimentos através do esôfago. Pode estar associado a doenças motoras, inflamatórias ou tumorais deste órgão.
15 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
16 Insuficiência respiratória aguda: Impossibilidade do sistema respiratório em atender a manutenção da oxigenação e/ou ventilação de um indivíduo, que se instala de modo abrupto e leva ao surgimento de manifestações clínicas intensas. O sangue venoso que retorna aos pulmões não é suficientemente oxigenado, assim como o dióxido de carbono não é adequadamente eliminado. Este quadro tem como expressão gasométrica: PaO2 50mmHg (com pH < 7.35 ).
17 Disfonia: Alteração da produção normal de voz.
18 Carcinoma: Tumor maligno ou câncer, derivado do tecido epitelial.
19 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
20 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
21 Veias: Vasos sangüíneos que levam o sangue ao coração.
22 Veia Ázigos: Veia que nasce da veia lombar ascendente direita ou da veia cava, penetra no tórax através do orifício aórtico do diafragma e termina na veia cava superior.
23 Vasculares: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
24 Nódulos da tireoide: Nódulos da tireoide resultam em crescimentos anormais de células da tireoide, que formam protuberâncias dentro da glândula, normalmente visíveis sob a pele do pescoço.
25 Cintilografia: Procedimento que permite assinalar num tecido ou órgão interno a presença de um radiofármaco e acompanhar seu percurso graças à emissão de radiações gama que fazem aparecer na tela uma série de pontos brilhantes (cintilação); também chamada de cintigrafia ou gamagrafia.
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