Hemorragia digestiva alta
O que é hemorragia digestiva alta1?
Define-se como hemorragia digestiva alta1 aquela hemorragia2 que se origina das partes superiores do trato digestivo (boca3, faringe4, esôfago5, estômago6 e duodeno7). Em sua forma aguda é uma emergência8 que implica em risco potencial de vida. É cerca de quatro vezes mais comum que o sangramento do trato digestivo inferior e é uma das principais causas de morbidade9 e mortalidade10. Esse artigo não trata das varizes11 esofagianas, tratadas num texto à parte, porque os mecanismos subjacentes de sangramento são diferentes, comportam expressões clínicas diferentes e exigem tratamentos diferentes.
Quais são as causas da hemorragia digestiva alta1?
Afora as varizes11 esofagianas, a úlcera péptica12 é a causa mais comum das hemorragias13 digestivas altas. Outras causas são a gastrite14 ou esofagite15 erosiva, o câncer16 gástrico e o leiomioma17 gástrico ulcerado. Causas raras incluem fístula18 aortoentérica, ectasia vascular19 gástrica, angiectasias e síndrome20 de Osler-Weber-Rendu. Pacientes com história de úlceras21 têm um risco aumentado para a hemorragia digestiva alta1, especialmente quando colocados em terapia com aspirina ou ácido acetilsalicílico.
Qual é a fisiopatologia22 da hemorragia digestiva alta1?
Os mecanismos subjacentes de sangramento, excluídas as varizes11 esofagianas, envolvem hemorragias13 arteriais ou venosas de baixa pressão, já que na hemorragia2 varicosa sempre há uma pressão venosa elevada, a partir do sistema porta23. A úlcera péptica12 continua a ser a causa mais comum de hemorragia digestiva alta1. A úlcera24 pode penetrar profundamente na mucosa25 gastroduodenal e provocar necrose26 da parede arterial, produzindo hemorragia2 por ruptura, mas a hemorragia2 também pode estar relacionada com vômitos27, estresse, gastrite14 aguda, malformação28 vascular19 do estômago6 proximal29 e uso de anti-inflamatórios não esteroides.
Ela está fortemente associada à infecção30 pelo Helicobacter pylori, um microrganismo que provoca o rompimento da barreira mucosa25, reduzindo as defesas dessa barreira e afrouxando as junções celulares. As úlceras21 duodenais são mais comuns do que as úlceras21 gástricas, mas a incidência31 de sangramento é a mesma em ambos os casos. Na maioria dos casos, a hemorragia2 é causada pela erosão de uma artéria32 na base da úlcera24.
Durante os vômitos27, os movimentos do esôfago5 e do estômago6 são invertidos de sentido e isso, associado à violência desse tipo de movimentação, pode levar a uma ruptura da mucosa25 desses órgãos, com consequente sangramento. A gastrite14 aguda de estresse pode alterar as barreiras de proteção e resultar em erosões difusas da mucosa25 gástrica. Os principais mecanismos envolvidos são a diminuição do fluxo sanguíneo da mucosa25 e a elevação da acidez gástrica33 luminal. Os anti-inflamatórios não esteroides provocam ou agravam úlceras21 gástricas e duodenais porque diminuem as defesas das mucosas34.
Quais são as principais características clínicas da hemorragia digestiva alta1?
A história clínica e o exame físico do paciente proporcionam informações cruciais para a avaliação inicial dos pacientes. Os relatos da história clínica geralmente incluem fraqueza, tonturas35, síncope36, além da hematêmese37 (vômitos27 sanguinolentos) e melena38 (fezes escurecidas e com mau odor).
Os pacientes podem ter uma história prévia de dispepsia39, úlcera24, saciedade precoce ou uso de aspirina. Alguns sintomas40 que serão referidos dizem respeito à úlcera24 do paciente. A hemorragia2 pode apresentar em uma fase mais subaguda41, com uma história de dispepsia39 e sangue42 oculto nas fezes ou anemia43 por deficiência de ferro. O uso crônico44 de álcool aumenta o risco de hemorragias13. A presença de hipotensão45 postural indica perda rápida e grave de sangue42.
Como o médico diagnostica a hemorragia digestiva alta1?
O diagnóstico46 de hemorragia digestiva alta1 pode ser suspeitado a partir dos dados da história médica do paciente, por exames de laboratório e de imagens, os quais ajudam a determinar a intensidade e a fonte da hemorragia2. Esse diagnóstico46 evoluiu muito a partir do uso da endoscopia47 digestiva alta. O exame físico do paciente ajuda a avaliar a perda de sangue42 e se há choque48. Uma avaliação da instabilidade hemodinâmica49 e dos sinais50 clínicos de má perfusão deve ser feita e corrigida de início, se isso for factível.
Como o médico trata a hemorragia digestiva alta1?
O objetivo mais imediato nas hemorragias13 digestivas altas é corrigir o choque48 e as eventuais anomalias da coagulação51 sanguínea, para que uma avaliação e tratamento mais aprofundados possam prosseguir. Muitos tratamentos podem ser feitos por meio da endoscopia47, mas as tentativas endoscópicas de fazer homeostase nem sempre têm sucesso, sobretudo se os vasos são maiores.
Os pacientes com Helicobacter pylori devem ser tratados para esta infecção30. Outros podem exigir um procedimento cirúrgico, se o sangramento for recorrente ou profuso. Os pacientes que tiveram sangramentos em virtude de estarem tomando anti-inflamatórios não esteroides devem receber supressão ácida contínua com um inibidor da bomba de prótons, para proteção da mucosa25.
O sangramento da gastrite14 por estresse normalmente é suave, autolimitado e raramente progride para uma hemorragia2 ameaçadora da vida. São fatores de risco para a recidiva52 de sangramento de uma úlcera24, após a terapia endoscópica, uma idade superior a 60 anos, a presença de choque48 no momento da admissão, dificuldades de coagulação51 do sangue42, sangramento ativo pulsátil e presença de doença cardiovascular.
A intervenção cirúrgica só deve ser considerada em pacientes com uma víscera perfurada.
Como evolui a hemorragia digestiva alta1?
Em aproximadamente 80% dos pacientes, o sangramento de uma úlcera péptica12 cessa espontaneamente. Uma taquicardia53 de mais de 100 batimentos por minuto, pressão sanguínea sistólica inferior a 90 mmHg, extremidades frias e síncope36 são sinais50 evidentes de choque48 e representam mau prognóstico54.
Quais são as complicações da hemorragia digestiva alta1?
Uma hemorragia digestiva alta1 que seja intensa pode gerar hipotensão45 grave e outras complicações, principalmente em pacientes mais idosos, e pode mesmo levar à morte.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.