O que é dor? Como nós a sentimos?
O que é a dor?
A dor não é uma doença, mas um sintoma1 e um sinal2. A Associação Internacional dos Estudos da Dor define essa sensação como uma experiência física e emocional desagradável, associada ou relacionada à lesão3 real ou potencial dos tecidos. Se por um lado, a dor é sinal2 de ameaça ou dano ao organismo, por outro lado é um importante mecanismo de defesa e um valioso sinal2 que indica para o médico o local onde há algo errado. Nunca sentir dor seria tão danoso quando senti-la eventualmente. As enfermidades que cursam sem dor podem ser tão graves quanto as que a geram e muitas vezes evoluem até estágios avançados sem serem percebidas. As pessoas que têm partes do corpo anestesiadas, como ocorre nos acidentes vasculares4 cerebrais, por exemplo, podem se ferir sem perceber. As reações individuais à dor variam segundo a cultura, as experiências anteriores da pessoa e o sexo. Portanto, a dor é uma resposta subjetiva em que cada indivíduo aprende a sensação por meio de experiências relacionadas com lesões5 no início da vida. As dores são mais prevalentes nas mulheres em razão de fatores hormonais, genéticos e sociais.
Quais são as causas da dor?
As dores ocorrem numa variedade inabarcável de doenças e condições médicas: após cirurgias, traumatismos, queimaduras, inflamações6, infecções7, alterações da coluna, fibromialgias, neuropatias, lesões5 por esforços repetitivos e câncer8, entre outras. Algumas dores se devem a espasmos9, dilatações musculares ou viscerais ou a compressões de raízes nervosas10 por estruturas adjacentes. Muitas pessoas relatam dor na ausência de lesão3 ou de qualquer causa fisiopatológica provável, por motivos psicológicos. A dor do membro fantasma é uma sensação sentida mesmo na ausência do membro que tenha sido amputado. A dor neuropática11 (nevralgia), por seu turno, pode ocorrer como resultado de estímulo que parta do tecido nervoso12 propriamente dito.
Qual é a fisiopatologia13 da dor?
Quando um tecido14 é traumatizado ocorre liberação local de substâncias químicas, imediatamente detectadas pelas terminações nervosas. Estas disparam um impulso elétrico que corre até a parte posterior da medula espinal15. Nessa região, um grupo especial de neurônios16 se encarrega de transmiti-los em altíssima velocidade para o córtex cerebral, área responsável pela cognição17, onde são decodificados como dor e referidos à sua localização. O próprio organismo procura defender-se da dor, liberando endorfinas e encefalinas, que são substâncias que inibem a propagação do impulso elétrico. Se não fossem elas, mesmo a dor de um pequeno ferimento persistiria enquanto o mesmo durasse. Nas dores fisiológicas18, a percepção ocorre graças a terminações nervosas independentes dos neurônios16 localizados nos gânglios19 da raiz dorsal, estimuladas mecânica, elétrica, térmica ou quimicamente. Esse processo libera glutamato, um neurotransmissor responsável por enviar a informação de neurônio a neurônio até o tálamo20.
Quais são os principais sinais21 e sintomas22 da dor?
A dor não se resume apenas a uma sensação desagradável que leva a um desconforto leve ou intenso, mas compromete também o bem-estar social e emocional do indivíduo, além de afetar a produtividade no trabalho, o apetite e o sono. Quanto a seu curso, a dor pode ser aguda ou crônica: a dor aguda dura apenas alguns segundos, dias ou semanas, já a dor crônica pode durar meses, anos ou mesmo ser indefinida no tempo. Segundo a intensidade, a dor pode variar de um simples desconforto à agonia, geralmente graduada como leve, moderada e severa. No que se refere à sua fenomenologia clínica, a dor pode ter diversas características: dor em queimação, dor em pontada, dor em cólicas23, etc. Quanto à localização, pode-se dizer que a dor é localizada ou difusa. Diz-se que uma dor é somática quando tem origem em ligamentos24, ossos, tendões25, vasos sanguíneos26 e nervos e que é visceral quando se origina dentro dos órgãos e cavidades internas do corpo. Cada tipo de dor sugere um tipo de transtorno orgânico e pode, assim, orientar o médico. Há dores que se irradiam ao longo de trajetos nervosos, como as dores ciáticas, por exemplo, e outras que são sentidas à distância do órgão afetado (dores referidas), como pode acontecer no infarto do miocárdio27, por exemplo.
Como o médico diagnostica a dor?
A principal ferramenta para que um profissional avalie como é a dor de um paciente é conseguir que este descreva detalhadamente qual a sua característica, intensidade, localização, fatores de melhora e piora, além dos tratamentos anteriores. Quanto melhor o paciente puder explicar sua dor, mais facilmente o médico poderá indicar o tratamento adequado. Outra coisa diferente é diagnosticar as causas da dor, o que pode envolver todos os exames de que a medicina dispõe.
Como o médico trata a dor?
O tratamento da dor, sobretudo da dor crônica, deve ser multidisciplinar, incluindo, além do médico, o fisiatra, o fisioterapeuta, o psicólogo, o acupunturista, etc, e não somente com medicações ou outras intervenções médicas. O tratamento da dor não deve resumir-se a suprimi-la, mas a desvendar sua causa e a tratar adequadamente a condição subjacente a ela. Algumas vezes, apenas suprimir a dor constitui-se numa má prática médica. O tratamento clássico para as dores são as medicações analgésicas ou entorpecentes que bloqueiam a chegada dos estímulos ao sistema nervoso central28 ou impedem a interpretação deles no cérebro29, mas podem envolver também anti-inflamatórios, antiespasmódicos ou relaxantes musculares. Além de medicações, outras práticas podem ser utilizadas contra as dores, como acupuntura, bloqueios nervosos, intervenções que diminuam a intensidade de seus fatores causais e mesmo cirurgias.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.