Gostou do artigo? Compartilhe!

Leucodistrofia - uma desordem da substância branca do cérebro

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é leucodistrofia1?

A leucodistrofia1 (do grego: leuko = branca + dis = transtorno, anormal + troph = crescimento) não é uma doença, mas um grupo de desordens caracterizadas pela degeneração2 da substância branca do cérebro3. Até o momento, foram descritas 107 diferentes formas de leucodistrofias4 motivadas por diferentes alterações gênicas e diferentes distúrbios bioquímicos incidentes5 na bainha de mielina6.

Assim, as leucodistrofias4 têm como resultado final o desenvolvimento imperfeito ou a destruição da bainha de mielina6, a capa gordurosa isolante ao redor das fibras nervosas.

Quais são as causas da leucodistrofia1?

A maioria dos tipos de leucodistrofia1 envolve a herança de uma característica dominante ou recessiva ligada ao cromossomo7 X, enquanto outros, embora envolvendo um gene defeituoso, são o resultado de mutação8 espontânea e não de herança genética. Mais frequentemente, a leucodistrofia1 é resultado de um padrão de herança autossômica9 recessiva, embora os padrões de herança dominante não sejam desconhecidos.

Mesmo as causas subjacentes mais específicas da leucodistrofia1 sendo dependentes do tipo, existem padrões fisiopatológicos comuns que podem ser observados entre todos os tipos. Em primeiro lugar, a leucodistrofia1 é uma doença degenerativa10 que é sempre o resultado tanto do comprometimento quanto da manutenção das bainhas de mielina11 ao redor dos axônios12 neuronais no sistema nervoso central13, como resultado de uma mutação genética14.

A mielina11 é uma substância branca e gordurosa que atua como isolante elétrico e reveste os axônios12 para acelerar os impulsos que viajam por eles. Assim, o resultado natural de uma perda dessa substância é a diminuição da eficiência na propagação do impulso. Como a mielina11 é produzida por oligodendrócitos (um tipo de célula15 glial) no sistema nervoso central13, um local fácil para procurar a causa da leucodistrofia1 é uma mutação8 ou mau funcionamento dessas células16 e de outras células16 da glia.

Quais são as principais características clínicas da leucodistrofia1?

Quando ocorrem danos à substância branca, as respostas imunes podem levar à inflamação17 no sistema nervoso central13, juntamente com a perda de mielina11. A leucodistrofia1 é caracterizada por sintomas18 específicos, que variam de um tipo para outro da doença, embora a grande maioria dos sintomas18 seja compartilhada por mais de um tipo.

Os sintomas18 da leucodistrofia1 dependem da idade de início, predominante na infância, embora passa se dar a qualquer momento, e incluem diminuição da função motora, rigidez muscular e eventual degeneração2 da visão19 e da audição. Embora a doença seja fatal, a idade de início é um fator-chave, pois os bebês20 em geral têm uma vida útil de 2 a 8 anos (às vezes mais), enquanto os adultos vivem mais de uma década após o início.

Em crianças, a atividade espástica precede a ataxia21 progressiva e a rápida deterioração cognitiva22, que tem sido descrita como retardo mental. A epilepsia23 é comum em pacientes de todas as idades e aqueles com casos mais evoluídos apresentam fraqueza na deglutição24, levando a crises de tosse espástica devido à saliva inalada.

Saiba mais sobre "Ataxia21", "Retardo mental" e "Esclerose25 lateral amiotrófica".

Como o médico diagnostica a leucodistrofia1?

A degeneração2 da substância branca, que mostra a degeneração2 da mielina11, pode ser vista em uma ressonância magnética26, usada para diagnosticar a leucodistrofia1. Testes eletrofisiológicos e outros tipos de testes laboratoriais também podem ser realizados. Em particular, a velocidade de condução nervosa é analisada para distinguir entre leucodistrofia1 e outras doenças desmielinizantes27, bem como para distinguir entre leucodistrofias4 individuais.

Como o médico trata a leucodistrofia1?

Embora existam tratamentos, a maioria está em fase experimental e só pode prometer uma parada na progressão dos sintomas18. As opções de tratamento são limitadas, embora os transplantes de células-tronco28 hematopoiéticas usando medula óssea29 ou sangue do cordão umbilical30 pareçam ajudar em certos tipos, enquanto mais pesquisas estão sendo feitas. A terapia com Botox é frequentemente usada para tratar pacientes com espasticidade31.

Como evolui a leucodistrofia1?

O curso da leucodistrofia1 depende da idade de início da enfermidade. Bebês20 têm uma expectativa de vida32 de 2 a 8 anos, pessoas jovens, de 2 a 10 anos e adultos, mais de 10 anos. Adultos tipicamente têm um período mais prolongado de estabilidade seguido por um declínio para um estado vegetativo e morte.

Enquanto as crianças experimentam degeneração2 óptica e auditiva, o curso da doença é muito rápido, causando a morte de forma relativamente rápida, já os adultos podem viver com essas condições por muitos anos.

Leia também sobre "Toxina33 botulínica" e "Ressonância magnética26".

 

ABCMED, 2019. Leucodistrofia - uma desordem da substância branca do cérebro. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1332948/leucodistrofia-uma-desordem-da-substancia-branca-do-cerebro.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Leucodistrofia: Doença progressiva, geneticamente determinada, que afeta o sistema nervoso em decorrência de alterações na bainha de mielina (estrutura que reveste as células nervosas).
2 Degeneração: 1. Ato ou efeito de degenerar (-se). 2. Perda ou alteração (no ser vivo) das qualidades de sua espécie; abastardamento. 3. Mudança para um estado pior; decaimento, declínio. 4. No sentido figurado, é o estado de depravação. 5. Degenerescência.
3 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
4 Leucodistrofias: Doenças progressivas, geneticamente determinadas, que afetam o sistema nervoso em decorrência de alterações na bainha de mielina (estrutura que reveste as células nervosas).
5 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
6 Bainha de mielina: É uma bainha rica em lipídeos revestindo muitos axônios tanto no sistema nervoso central como no sistema nervoso periférico. Ela é um isolante elétrico que permite uma condução mais rápida e mais energeticamente eficiente dos impulsos nervosos. Esta bainha é formada pelas membranas celulares das células da glia (células de Schwann no sistema nervoso periférico e oligodendróglia no sistema nervoso central).
7 Cromossomo: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
8 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
9 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
10 Degenerativa: Relativa a ou que provoca degeneração.
11 Mielina: Bainha, rica em lipídeos e proteínas, que reveste os AXÔNIOS, tanto no sistema nervoso central como no periférico. É um isolante elétrico que permite a condução dos impulsos nervosos de modo mais rápido e energeticamente mais eficiente. É formada pelas membranas de células da glia (CÉLULAS DE SCHWANN no sistema nervoso periférico e OLIGODENDROGLIA no sistema nervoso central). A deterioração desta bainha nas DOENÇAS DESMIELINIZANTES é um sério problema clínico.
12 Axônios: Prolongamento único de uma célula nervosa. Os axônios atuam como condutores dos impulsos nervosos e só possuem ramificações na extremidade. Em toda sua extensão, o axônio é envolvido por um tipo celular denominado célula de Schwann.
13 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
14 Mutação genética: É uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
15 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
16 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
17 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
18 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
19 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
20 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
21 Ataxia: Reflete uma condição de falta de coordenação dos movimentos musculares voluntários podendo afetar a força muscular e o equilíbrio de uma pessoa. É normalmente associada a uma degeneração ou bloqueio de áreas específicas do cérebro e cerebelo. É um sintoma, não uma doença específica ou um diagnóstico.
22 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
23 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
24 Deglutição: Passagem dos alimentos desde a boca até o esôfago; ação ou efeito de deglutir; engolir. É um mecanismo em parte voluntário e em parte automático (reflexo) que envolve a musculatura faríngea e o esfíncter esofágico superior.
25 Esclerose: 1. Em geriatria e reumatologia, é o aumento patológico de tecido conjuntivo em um órgão, que ocorre em várias estruturas como nervos, pulmões etc., devido à inflamação crônica ou por razões desconhecidas. 2. Em anatomia botânica, é o enrijecimento das paredes celulares das plantas, por espessamento e/ou pela deposição de lignina. 3. Em fitopatologia, é o endurecimento anormal de um tecido vegetal, especialemnte da polpa dos frutos.
26 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
27 Desmielinizantes: Que remove ou destrói a bainha de mielina de nervo ou trato nervoso.
28 Células-tronco: São células primárias encontradas em todos os organismos multicelulares que retêm a habilidade de se renovar por meio da divisão celular mitótica e podem se diferenciar em uma vasta gama de tipos de células especializadas.
29 Medula Óssea: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
30 Sangue do Cordão Umbilical: Sangue do feto. A troca de nutrientes e de resíduos entre o sangue fetal e o materno ocorre através da PLACENTA. O sangue do cordão é o sangue contido nos vasos umbilicais (CORDÃO UMBILICAL) no momento do parto.
31 Espasticidade: Hipertonia exagerada dos músculos esqueléticos com rigidez e hiperreflexia osteotendinosa.
32 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
33 Toxina: Substância tóxica, especialmente uma proteína, produzida durante o metabolismo e o crescimento de certos microrganismos, animais e plantas, capaz de provocar a formação de anticorpos ou antitoxinas.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.