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Intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas: o perigo invisível, especialmente para adolescentes

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O que é o metanol?

O metanol, também chamado álcool metílico, é um composto químico simples (CH₃OH), incolor, volátil, inflamável e com odor alcoólico suave. É amplamente utilizado na indústria como solvente, combustível, anticongelante e na produção de formaldeído e ácido acético. Apesar de se parecer quimicamente com o etanol (o álcool das bebidas), é extremamente tóxico para o ser humano, mesmo em pequenas quantidades.

Quando ingerido, o corpo tenta metabolizar o metanol no fígado1, transformando-o em formaldeído e depois em ácido fórmico. São esses produtos que provocam os principais danos: o ácido fórmico causa acidose2 metabólica grave, afeta o sistema nervoso central3 e pode destruir o nervo óptico, levando à cegueira irreversível.

Onde o metanol pode ser encontrado?

Ele pode estar presente em diversos produtos industriais, como tintas, solventes, líquidos de limpeza e combustíveis. No entanto, o maior risco para a população em geral vem das bebidas alcoólicas adulteradas, nas quais o metanol é usado ilegalmente para aumentar o volume ou a potência alcoólica de forma barata. Essa prática é comum em locais com fiscalização precária e causa surtos de intoxicação, muitas vezes fatais.

Adolescentes estão particularmente vulneráveis: tendem a buscar bebidas mais baratas, podem consumir em festas sem saber a procedência e muitas vezes não percebem o risco real de produtos clandestinos.

Como a intoxicação acontece no corpo?

A intoxicação por metanol costuma evoluir em fases:

  • Fase inicial (0 a 12h): sintomas4 inespecíficos, como náuseas5, vômitos6, dor abdominal, tontura7, sonolência e fala arrastada. A pessoa pode parecer apenas embriagada.
  • Fase latente (6 a 30h): após a metabolização, os sintomas4 pioram. Surge acidose metabólica8 grave, com respiração rápida (taquipneia9), dor abdominal intensa e mal-estar generalizado.
  • Fase tardia: aparecem os danos neurológicos e visuais. O paciente pode ter visão10 borrada, pontos brilhantes (fotopsias), visão10 em túnel, visão10 dupla ou até cegueira total. Convulsões, coma11 e falência de múltiplos órgãos podem ocorrer.

O que torna o quadro ainda mais perigoso é o fato de os sintomas4 demorarem a surgir, fazendo com que a pessoa não perceba a gravidade até que seja tarde.

Leia sobre: "Posso beber tomando remédios?", "Interação entre álcool e drogas psicotrópicas" e "Parar de beber: entendendo o processo e os benefícios".

Quais são os sinais12 de alerta?

Embora nem sempre específicos, alguns sintomas4 devem acender o sinal13 vermelho após ingestão de bebidas de origem duvidosa:

  • Dor de cabeça14 muito forte e diferente.
  • Náuseas5, vômitos6 e dor abdominal intensa.
  • Visão10 borrada, pontos escuros, dificuldade para enxergar cores ou sensação de visão10 em túnel.
  • Respiração acelerada e falta de ar.
  • Confusão mental, sonolência ou convulsões.

Em adolescentes, esses sinais12 podem ser confundidos com “exagero comum de álcool”, atrasando a busca por ajuda médica.

Como o médico diagnostica a intoxicação?

O diagnóstico15 é feito a partir da combinação de história clínica, exame físico e exames laboratoriais. O médico investiga se houve ingestão de bebidas suspeitas ou exposição a produtos químicos, avalia o tempo decorrido desde a ingestão e observa alterações visuais, neurológicas e respiratórias durante o exame físico.

Nos exames laboratoriais, a gasometria arterial revela a presença de acidose metabólica8 com aumento do ânion gap, enquanto o cálculo16 do gap osmolar pode indicar a presença de álcoois tóxicos. Quando disponível, a dosagem direta de metanol no sangue17 confirma o diagnóstico15, e exames complementares como eletrólitos18 e função renal19 e hepática20 ajudam a monitorar complicações.

Em casos de suspeita de dano neurológico grave, exames de imagem como tomografia ou ressonância magnética21 podem ser solicitados.

Qual é o tratamento?

A intoxicação por metanol é uma emergência22 médica. O tratamento deve ser iniciado rapidamente, antes mesmo da confirmação laboratorial, se houver forte suspeita. As medidas incluem:

  • Estabilização clínica: garantir via aérea, respiração e circulação23. Ventilação24 mecânica pode ser necessária.
  • Correção da acidose metabólica8 com bicarbonato de sódio intravenoso.
  • Antídotos específicos:
    • Fomepizol (preferencial, quando disponível).
    • Etanol hospitalar, que compete com o metanol pela mesma via metabólica, reduzindo a formação de ácido fórmico.
  • Hemodiálise25: remove rapidamente o metanol e seus metabólitos26 do sangue17 e corrige a acidose2, sendo essencial nos casos graves.
  • Ácido fólico ou folínico: ajudam a neutralizar o ácido fórmico, reduzindo os danos.

Os pacientes precisam de acompanhamento em UTI, com monitoramento das funções neurológica, renal19 e oftalmológica.

Como a intoxicação evolui?

A evolução depende da quantidade ingerida, do tempo até o início do tratamento e da resposta individual do paciente. Nos casos leves e tratados precocemente, a recuperação pode ser completa em poucos dias, sem deixar sequelas27. Entretanto, nos quadros mais graves ou sem atendimento adequado, a intoxicação pode levar à cegueira definitiva, a convulsões, ao coma11 e até à morte em menos de 72 horas.

Algumas complicações podem persistir mesmo após o tratamento, como sequelas27 neurológicas (distúrbios cognitivos28, parkinsonismo), insuficiência renal29 e danos permanentes ao nervo óptico.

É possível prevenir?

A prevenção está diretamente ligada à segurança no consumo de bebidas alcoólicas. Nunca se deve consumir bebidas de procedência duvidosa, sem rótulo ou vendidas a preços muito abaixo do mercado. Produtos clandestinos, além de ilegais, podem conter metanol em níveis letais.

Adolescentes merecem atenção especial: é fundamental orientá-los sobre os riscos e desencorajar o consumo de álcool de origem desconhecida, pois a curiosidade e a busca por bebidas mais baratas aumentam o risco de intoxicação.

Também é importante manter produtos industriais que contenham metanol armazenados de forma segura, fora do alcance de crianças, para evitar ingestões acidentais.

Veja também: "Como manter mais baixo o risco do consumo de bebidas alcoólicas" e "Limitar o consumo de álcool reduz o risco de câncer30".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da Agência Brasil.

ABCMED, 2025. Intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas: o perigo invisível, especialmente para adolescentes. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1495225/intoxicacao-por-metanol-em-bebidas-alcoolicas-o-perigo-invisivel-especialmente-para-adolescentes.htm>. Acesso em: 2 out. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
2 Acidose: Desequilíbrio do meio interno caracterizado por uma maior concentração de íons hidrogênio no organismo. Pode ser produzida pelo ganho de substâncias ácidas ou perda de substâncias alcalinas (básicas).
3 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
4 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
5 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
6 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
7 Tontura: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
8 Acidose metabólica: A acidose metabólica é uma acidez excessiva do sangue caracterizada por uma concentração anormalmente baixa de bicarbonato no sangue. Quando um aumento do ácido ultrapassa o sistema tampão de amortecimento do pH do organismo, o sangue pode acidificar-se. Quando o pH do sangue diminui, a respiração torna-se mais profunda e mais rápida, porque o corpo tenta liberar o excesso de ácido diminuindo o volume do anidrido carbônico. Os rins também tentam compensá-lo por meio da excreção de uma maior quantidade de ácido na urina. Contudo, ambos os mecanismos podem ser ultrapassados se o corpo continuar a produzir excesso de ácido, o que conduz a uma acidose grave e ao coma. A gasometria arterial é essencial para o seu diagnóstico. O pH está baixo (menor que 7,35) e os níveis de bicarbonato estão diminuídos (<24 mmol/l). Devido à compensação respiratória (hiperventilação), o dióxido de carbono está diminuído e o oxigênio está aumentado.
9 Taquipneia: Aceleração do ritmo respiratório.
10 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
11 Coma: 1. Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte. 2. Presente do subjuntivo ou imperativo do verbo “comer.“
12 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
13 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
14 Cabeça:
15 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
16 Cálculo: Formação sólida, produto da precipitação de diferentes substâncias dissolvidas nos líquidos corporais, podendo variar em sua composição segundo diferentes condições biológicas. Podem ser produzidos no sistema biliar (cálculos biliares) e nos rins (cálculos renais) e serem formados de colesterol, ácido úrico, oxalato de cálcio, pigmentos biliares, etc.
17 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
18 Eletrólitos: Em eletricidade, é um condutor elétrico de natureza líquida ou sólida, no qual cargas são transportadas por meio de íons. Em química, é uma substância que dissolvida em água se torna condutora de corrente elétrica.
19 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
20 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
21 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
22 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
23 Circulação: 1. Ato ou efeito de circular. 2. Facilidade de se mover usando as vias de comunicação; giro, curso, trânsito. 3. Movimento do sangue, fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos do corpo e do coração.
24 Ventilação: 1. Ação ou efeito de ventilar, passagem contínua de ar fresco e renovado, num espaço ou recinto. 2. Agitação ou movimentação do ar, natural ou provocada para estabelecer sua circulação dentro de um ambiente. 3. Em fisiologia, é o movimento de ar nos pulmões. Perfusão Em medicina, é a introdução de substância líquida nos tecidos por meio de injeção em vasos sanguíneos.
25 Hemodiálise: Tipo de diálise que vai promover a retirada das substâncias tóxicas, água e sais minerais do organismo através da passagem do sangue por um filtro. A hemodiálise, em geral, é realizada 3 vezes por semana, em sessões com duração média de 3 a 4 horas, com o auxílio de uma máquina, dentro de clínicas especializadas neste tratamento. Para que o sangue passe pela máquina, é necessária a colocação de um catéter ou a confecção de uma fístula, que é um procedimento realizado mais comumente nas veias do braço, para permitir que estas fiquem mais calibrosas e, desta forma, forneçam o fluxo de sangue adequado para ser filtrado.
26 Metabólitos: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
27 Sequelas: 1. Na medicina, é a anomalia consequente a uma moléstia, da qual deriva direta ou indiretamente. 2. Ato ou efeito de seguir. 3. Grupo de pessoas que seguem o interesse de alguém; bando. 4. Efeito de uma causa; consequência, resultado. 5. Ato ou efeito de dar seguimento a algo que foi iniciado; sequência, continuação. 6. Sequência ou cadeia de fatos, coisas, objetos; série, sucessão. 7. Possibilidade de acompanhar a coisa onerada nas mãos de qualquer detentor e exercer sobre ela as prerrogativas de seu direito.
28 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
29 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
30 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
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