Posso beber tomando remédios?
O que é a interação entre álcool e medicamentos?
Chama-se interação entre álcool e medicamentos aos efeitos do uso concomitante de certos medicamentos com bebidas alcoólicas.
Uma pergunta que as pessoas fazem frequentemente quando estão em uso de alguma medicação é se podem ou não ingerir bebidas alcoólicas estando em uso de um determinado medicamento. Muitas medicações não têm nenhuma interação com o álcool e as que têm podem exibir de efeitos leves a outros extremamente graves e até mesmo mortais.
Algumas vezes, as interações desfavoráveis acontecem não com o álcool, mas com outros componentes das bebidas alcoólicas, como acontece, por exemplo, entre o vinho Chianti e os antidepressivos inibidores da monoamina oxidase. Em quase todos os casos, os resultados da interação dependem das dosagens em que estão sendo usados os dois componentes da interação, o álcool e a medicação.
Como age o álcool na sua interação com os medicamentos?
Os efeitos da interação álcool/medicamentos dependem das doses, do tipo de bebida alcoólica, da idade e da sensibilidade de cada pessoa. O álcool pode alterar a interação de enzimas e de outras substâncias corporais quando entra em contato com certas medicações, interferindo na potencialidade delas.
Além disso, ele pode ainda dissolver resíduos de medicamentos no organismo, que podem representar até três vezes a dose original do medicamento. Alguns medicamentos que normalmente não se dissolvem totalmente no estômago1 e no intestino podem se dissolver mais facilmente na presença do álcool, intensificando assim o seu efeito.
Dependendo do medicamento a que se associe, o álcool ainda pode causar:
- Hipotensão arterial2.
- Aumentar o risco de lesão3 hepática4.
- Aumentar a duração do potencial teratogênico5 do medicamento.
- Induzir a tolerância aos efeitos do fármaco6 ou aumentar a sua excreção, prejudicando a eficácia.
- Potencializar o risco de sangramentos.
- Diminuir a eficácia terapêutica7 da medicação.
O etanol, em si, já é um depressor do sistema nervoso central8. Por isso, mesmo em pequenas quantidades, sua ingestão simultânea com outros depressores, pode potencializar suas ações. Os riscos de interação entre álcool e medicamentos são agravados em pacientes com doenças crônicas, especialmente naqueles em uso de medicamentos que aumentam o risco de patologias hepáticas9, de hemorragia10 gástrica ou de quedas.
Exemplos da interação do álcool com alguns medicamentos comuns
Álcool e dipirona |
O efeito do álcool pode ser potencializado. |
Álcool e paracetamol | Aumenta o risco de hepatite11 medicamentosa. |
Álcool e ácido acetilsalicílico | Eleva o risco de sangramentos no estômago1. |
Álcool e antibióticos | Pode levar a vômitos12, palpitação13, dor de cabeça14, hipotensão arterial2, dificuldade respiratória, potencialização de hepatotoxicidade15 e até mesmo morte. |
Álcool e anti-inflamatórios | Aumenta o risco de úlcera gástrica16 e sangramentos. |
Álcool e antidepressivos | Aumenta as reações adversas e o efeito sedativo de ambos, além de diminuir a eficácia dos antidepressivos. |
Álcool e ansiolíticos | Os ansiolíticos benzodiazepínicos têm seu efeito sedativo aumentado, o que aumenta o risco de coma17 e insuficiência respiratória18. |
Álcool e inibidores de apetite | Aumenta o potencial de efeitos sobre o sistema nervoso central8, tais como: tontura19, vertigem20, fraqueza, síncope21 e confusão. |
Álcool e insulina22 | Pode gerar hipoglicemia23. O uso agudo24 de etanol prolonga os efeitos, enquanto que o uso crônico25 inibe os efeitos dos antidiabéticos. |
Álcool e anticonvulsivantes | Aumenta os efeitos colaterais26 e o risco de intoxicação das medicações, enquanto que diminui a eficácia contra as crises de epilepsia27. |
Álcool e contraceptivos orais | Aumenta a possibilidade de falha terapêutica7, o que pode acarretar em uma gravidez28 indesejável. |
Álcool e corticoides | Os corticoides são metabolizados de forma mais lenta. O álcool pode atrapalhar o efeito esperado desta medicação. |
Enfim, estando tomando alguma medicação, o paciente deve sempre consultar o médico quanto à possibilidade de tomar ou não alguma bebida alcoólica.
Veja também: "Os perigos da automedicação29", "Você está tomando seus remédios como devia?" e "Paracetamol usado durante a gestação pode estar relacionado a problemas de comportamento na infância."
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.