Alcoolismo. O que é? Quais as causas e consequências? Como é o tratamento?
O que é alcoolismo?
Nem todo consumo de álcool configura o alcoolismo. Define-se o alcoolismo como o consumo excessivo, duradouro e compulsivo de bebidas alcoólicas, o qual degrada a vida pessoal, familiar, profissional e social do indivíduo. Diz-se que uma pessoa é dependente do álcool quando ela não tem mais forças para interromper o consumo e, se o interrompe, apresenta sintomas1 desagradáveis que cedem com o retorno ao álcool. A esse fato chama-se abstinência.
Antes da dependência ocorre a tolerância, que é o fato de uma pessoa precisar de doses cada vez maiores para produzir os mesmos efeitos que antes conseguia com doses menores.
O álcool também pode ser consumido “socialmente” sem que a pessoa se torne alcoólatra. Na verdade, dentro do consumo “social” de álcool deve-se considerar como aspectos separados e clinicamente específicos:
- O abuso do álcool, que é o consumo excessivo, mas episódico.
- A intoxicação aguda ou embriaguez.
Ambas as situações podem gerar eventos desagradáveis e graves como alterações do comportamento, coma2, ataque epiléptico, acidentes de vários tipos, desastres automobilísticos, etc.
Quanto ao alcoolismo propriamente dito, temos que considerar a dependência ao álcool e a síndrome3 de abstinência do álcool, ambas com consequências muito deletérias.
Segundo a revista médica “The Lancet”, dois bilhões de pessoas no mundo consomem álcool, das quais mais de 76 milhões têm problemas com esta substância. No Brasil, diversas estatísticas apontam que o alcoolismo afeta entre 3 e 6% da população, havendo uma prevalência4 de 5 homens para cada mulher acometida pela doença.
O alcoolismo gera custos muito altos para os serviços de saúde5 em todo o mundo, além de outros representados pela queda de produtividade, pois os alcoólatras têm os seus rendimentos profissionais seriamente prejudicados ou ficam impedidos de trabalhar.
Quais as causas do alcoolismo?
Em nosso meio, as bebidas alcoólicas são cada vez mais consumidas e até exaltadas e as pessoas são introduzidas nelas cada vez mais cedo. É verdade que a maioria das pessoas que consome bebidas alcoólicas não se torna alcoólatra, mas essa disponibilidade aumentada estimula em muito o alcoolismo. Outros fatores sociais, psicológicos e sobretudo genéticos, contribuem decisivamente para a instalação do alcoolismo.
Quais as consequências do alcoolismo?
O alcoolismo continuado leva a alterações dos padrões funcionais do fígado6, do aparelho digestivo7, do coração8, do sangue9, dos músculos10 e das glândulas endócrinas11. Em sua evolução, o alcoolismo também leva a doenças físicas e psíquicas, algumas das quais irreversíveis e que podem resultar em morte.
As doenças mais comuns associadas ao alcoolismo são a cirrose12 hepática13, as síndromes amnéstica, demencial, alucinatória e delirante, além de ansiedade, distúrbios sexuais, alterações do sono, etc. O alcoolismo também aumenta a predisposição a outras doenças, como às infecções14. Por fim, o delirium tremens15, o quadro clínico mais grave da abstinência, pode terminar pela morte.
O consumo crônico16 do álcool por prazo muito longo acaba por levar a mudanças psicológicas profundas, entre as quais aquelas que incluem alterações dos padrões éticos e emocionais da pessoa, deterioração das relações familiares e sociais e descaso com as tarefas laborativas. O alcoólatra (e às vezes o mero usuário não alcoólatra) pode ter um comportamento violento e até mesmo criminal.
Com é o tratamento do alcoolismo?
O tratamento do alcoolismo está fadado ao fracasso se o próprio alcoólatra não engajar-se nele, o que não acontece, na maioria das vezes. Depois de instalada, a dependência pelo álcool é de muito difícil tratamento. O tratamento principal consiste em exortar o alcoolista a parar de beber, ao mesmo tempo dando-lhe apoio.
As psicoterapias individuais são pouco efetivas. As de grupo oferecem melhores resultados. Um movimento leigo, denominado alcoólicos anônimos, parece oferecer resultados ainda melhores. Este grupo existe há mais de 76 anos e em vários países ao redor do mundo.
Quanto aos remédios, até muito recentemente não se tinha nenhuma medicação visando diminuir o desejo pelo álcool. Muito recentemente três substâncias – a naltrexona, a ondansetrona e o acamprosato – vêm sendo testadas com esse objetivo, mas são de uso muito recente e ainda não contam com uma experiência inquestionável.
O dissulfiram, de uso mais antigo, gera um acúmulo de acetaldeído, um metabólito17 do álcool, e produz sintomas1 muito desagradáveis (náuseas18, vômitos19, tonturas20, etc.). Com isso, espera-se que ele seja aversivo em relação ao ato de beber bebidas alcoólicas. No entanto, muitos alcoólatras não conseguem conter o desejo pelo álcool e acabam por interromper a medicação. Alguns nem mesmo conseguem esperar pela eliminação dela e, ingerindo o álcool, experimentam os sintomas1 desagradáveis que a associação acarreta.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.