Perguntas e respostas sobre antidepressivos: descubra os fatos e equívocos comuns
A demanda por antidepressivos e estabilizadores de humor tem apresentado um aumento constante no Brasil ao longo dos anos. Segundo informações do Conselho Federal de Farmácia, houve um incremento de aproximadamente 58% nas vendas desses medicamentos entre 2017 e 2021.
A população brasileira tem buscado cada vez mais esses remédios para lidar com questões de saúde1 mental. Um estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde1 (OMS) em 2017 aponta que o Brasil figura entre os países com maiores índices de depressão e ansiedade no mundo, com 5,8% dos brasileiros sofrendo de depressão e 9,3% enfrentando problemas de ansiedade.
Essas estatísticas ajudam a compreender a crescente procura por ansiolíticos, antidepressivos e sedativos nos últimos tempos.
Apesar da prevalência2 desses medicamentos, alguns pacientes têm “equívocos significativos” sobre como os medicamentos funcionam, disse o Dr. Andrew J. Gerber, psiquiatra, presidente e diretor médico do Silver Hill Hospital em New Canaan, Connecticut, Estados Unidos.
Cerca de 80 por cento dos antidepressivos são prescritos por médicos de cuidados primários que não tiveram formação extensiva no tratamento de doenças mentais.
Paul Nestadt, professor associado de psiquiatria da Escola de Medicina Johns Hopkins, também nos Estados Unidos, afirmou que os pacientes lhe dizem: “’Sabe, doutor, eu tentei de tudo’”. Mas muitas vezes, segundo ele, “eles nunca chegavam a uma boa dose ou tomavam o medicamento apenas por uma ou duas semanas”.
Neste texto apresentamos algumas respostas para perguntas frequentes sobre antidepressivos.
Saiba mais sobre "Tipos de depressão" e "Principais transtornos mentais".
Como funcionam os antidepressivos?
Existem muitos tipos de antidepressivos e todos funcionam de maneira um pouco diferente.
Em geral, eles iniciam uma mudança na forma como as células3 cerebrais – e diferentes regiões do cérebro4 – comunicam umas com as outras, disse o Dr. Gerard Sanacora, professor de psiquiatria na Escola de Medicina de Yale, EUA.
Ensaios clínicos5 demonstraram que os antidepressivos são geralmente mais eficazes na depressão moderada, grave e crônica do que na depressão leve. Mesmo assim, é um efeito modesto quando comparado com o placebo6.
O maior estudo de múltiplos antidepressivos – apelidado de ensaio STAR*D – descobriu que metade dos participantes melhorou depois de usar o primeiro ou o segundo medicamento que experimentaram, e quase 70% das pessoas ficaram livres dos sintomas7 com o quarto antidepressivo utilizado.
Infelizmente, não há como saber com antecedência como um indivíduo responderá a qualquer medicamento, portanto pode haver um período de tentativa e erro.
São necessárias mais pesquisas para compreender melhor como os antidepressivos funcionam e sua eficácia, especialmente quando tomados ao longo de vários anos.
Como posso saber qual tomar?
Os antidepressivos mais comumente prescritos são inibidores seletivos da recaptação da serotonina, ou ISRS, como Prozac ou Zoloft, e inibidores da recaptação da serotonina-norepinefrina, ou IRSN, como Cymbalta e Efexor. Esses dois tipos tendem a ter menos efeitos colaterais8 do que os antidepressivos tricíclicos, como a clomipramina, ou os inibidores da monoaminoxidase9, como a fenelzina.
De modo geral, os ISRSs e os IRSNs são igualmente eficazes.
Mas para algumas pessoas, as diferenças entre esses medicamentos – mesmo aqueles da mesma classe – não parecem nada sutis. Se um medicamento não parece certo, existem outras opções. Os especialistas aconselham trabalhar com seu médico para encontrar a melhor opção.
Quanto tempo os antidepressivos levam para fazer efeito?
Um mito comum é que os antidepressivos são “soluções rápidas”, disse o Dr. Kao-Ping Chua, pediatra e pesquisador de políticas de saúde1 da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan, EUA. “Eles definitivamente não são.”
Em geral, pode levar de um a dois meses para começar a ver efeitos positivos, dizem os especialistas. E isso presumindo que você esteja tomando a quantidade ideal.
No início, os médicos tendem a fazer acompanhamentos mais frequentes para poder monitorar os pacientes.
“Pode levar algum tempo para identificar a dose certa”, disse o Dr. Chua. Se a dosagem for ajustada e ainda não funcionar, “mudar para um antidepressivo diferente pode ser razoável”, disse ele.
Leia: "O que saber sobre antidepressivos" e "Uso excessivo de antidepressivos".
Os efeitos colaterais8 são inevitáveis?
Não.
Ao contrário dos antidepressivos mais antigos, medicamentos ISRS e IRSN normalmente não apresentam muitos efeitos colaterais8 de curto prazo e, se apresentam, geralmente são leves.
Alguns dos mais comuns, que podem surgir poucos dias após o início da medicação, são diminuição da libido10, dor de cabeça11, boca12 seca e dor de estômago13. Mas muitas pessoas não apresentam nenhum efeito colateral14, disseram os especialistas.
Os efeitos colaterais8 de curto prazo geralmente desaparecem à medida que seu corpo se ajusta à medicação – você deve saber quais deles têm maior probabilidade de persistir cerca de duas a três semanas após o início da medicação, disse o Dr. Nestadt.
A diminuição da libido10 pode ser persistente, o que pode ser um empecilho, disse ele. Nesse ponto, os médicos podem tentar tratar o problema com um medicamento adicional ou mudar para um antidepressivo diferente.
O uso prolongado pode trazer outros efeitos colaterais8, incluindo ganho de peso ou embotamento15 emocional.
Finalmente, os antidepressivos podem interagir com outros medicamentos. Um ISRS combinado com ibuprofeno, por exemplo, aumenta o risco de sangramento gastrointestinal. Além disso, geralmente não é aconselhável beber álcool enquanto se toma antidepressivos.
Devo fazer mais alguma coisa além de tomar a medicação?
Sim.
Psicoterapia continua sendo um dos primeiros tratamentos recomendados para a depressão. Os antidepressivos não fazem com que os problemas desapareçam, mas podem tornar mais fácil lidar com eles, disse o Dr. Chua.
Mudanças no estilo de vida também podem ajudar, disseram os especialistas. Pesquisas mostraram que o exercício pode reduzir os sintomas7 da depressão. E seguir uma dieta saudável para o coração16 pode ser benéfico, embora sejam necessárias mais pesquisas sobre como os alimentos afetam o humor. Dormir muito ou pouco também afeta a forma como nos sentimos, por isso é importante descansar o suficiente.
Os antidepressivos são usados para alguma outra coisa senão a depressão?
Sim.
Eles também podem tratar condições de dor crônica, como herpes zoster17 e enxaquecas18, bem como ansiedade, fobia19 social, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo.
E o aviso da “caixa preta”?
Em 2004, a Food and Drug Administration, agência dos Estados Unidos que desempenha o mesmo papel da Anvisa no Brasil, emitiu um alerta de “caixa preta” dizendo que o uso de certos antidepressivos pode estar ligado a ideação e comportamentos suicidas em adolescentes. Três anos depois, o alerta foi estendido para incluir pessoas de 18 a 24 anos.
O alerta foi baseado em uma análise de ensaios clínicos5 de medicamentos nos quais não houve suicídios. Os pesquisadores, no entanto, encontraram um risco significativo de pensamentos suicidas. Outros estudos descobriram que os ISRS diminuem as taxas de suicídio e o comportamento suicida entre os jovens, o que levou alguns especialistas a pedir que o alerta fosse reavaliado.
Como posso saber quando é hora de parar de tomar antidepressivos?
Os psiquiatras geralmente recomendam discutir a possibilidade de interromper a medicação depois de sentir os benefícios por, pelo menos, seis meses.
Estudos mostram que “os pacientes que estão bem com antidepressivos têm maior probabilidade de sofrer recaídas de depressão se pararem de tomar antidepressivos”, disse o Dr. Chua.
Mas esse não é o caso de todos, acrescentou ele, por isso consulte o seu médico para decidir se deve parar de tomar o medicamento.
A psicoterapia pode ajudar as pessoas a interromper com sucesso os antidepressivos. Mas é sempre importante diminuir gradualmente a medicação sob a supervisão de um médico.
Em alguns casos, se a redução gradual não for feita lentamente o suficiente, os pacientes podem experimentar o que é comumente chamado de choques cerebrais, que parecem choques elétricos, ou outros efeitos colaterais8, como náuseas20, disse o Dr. David J. Hellerstein, professor de psiquiatria clínica no Irving Medical Center da Universidade de Columbia, Estados Unidos.
A redução lenta é especialmente importante com um antidepressivo que tem meia-vida curta, como Efexor ou Paxil, acrescentou. Quando os pacientes descontinuam medicamentos como esses, a quantidade de medicamento no corpo “diminui muito rapidamente”, acrescentou.
Algumas pessoas com depressão crônica e recorrente podem precisar tomar antidepressivos indefinidamente, disse o Dr. Hellerstein.
Isto é geralmente considerado seguro, disse ele, acrescentando que é significativamente mais arriscado para as pessoas ficarem sem tratamento.
Veja também sobre "Psicoterapias", "Terapia cognitivo21 comportamental" e "Depressão maior".
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.