Depressão maior ou transtorno depressivo reativo?
O que é depressão?
O termo depressão tem sido fartamente utilizado pelos leigos para descrever diversas situações de desconforto emocional, nem sempre de forma precisa. Mesmo quando adequadamente utilizado, ele abrange uma enorme variedade de situações psicológicas, tornando difícil sua adequada delimitação. O termo se refere a estados que vão desde ligeiras reações a certos eventos vivenciais até à verdadeira doença depressiva, chamada depressão maior, que constituía um dos aspectos clínicos da antigamente denominada psicose1 maníaco depressiva, hoje chamada transtorno bipolar do humor. As diferenças entre ambas não são apenas quantitativas, mas também qualitativas. Enquanto os transtornos depressivos reativos correspondem a um humor triste superficial, motivados por algum acontecimento desastroso (real ou suposto), o qual pode ser afastado, ainda que momentaneamente, a depressão maior corresponde a uma tristeza profunda e corporalizada (manifestada não só no afeto depressivo, mas também no tom da voz, no brilho dos olhos2, na lentificação da motricidade e dos ritmos fisiológicos, em deficientes secreções hormonais, em atividade imunológica diminuída, etc.) que acontece inclusive quando tudo está indo muito bem e que não pode ser voluntariamente suspensa, ainda que por breves instantes.
Um professor reativamente deprimido, por exemplo, talvez consiga deixar sua tristeza fora da sala enquanto dá a sua aula e pegá-la de volta quando tiver terminado sua aula. O deprimido de uma depressão doentia não consegue fazer isso. Enquanto a primeira é apenas uma reação psicológica e demanda tratamento psicoterápico, a segunda é uma verdadeira doença que requer tratamento medicamentoso.
Quais são as causas e os sintomas3?
Nas causas das depressões maiores é muito nítida a influência da genética, mas mesmos nas outras o fator hereditário tem importância, embora menor. Quanto a sintomas3, eles variam em intensidade e modalidade nas diferentes formas de depressão, mas no geral compreendem:
- Estado de ânimo triste, desânimo, fadiga4 fácil e/ou irritação.
- Incapacidade para sentir prazer nas atividades cotidianas.
- Insônia ou excesso de sono.
- Diminuição do apetite e perda de peso.
- Baixa autoestima e sentimento injustificável de culpa.
- Dificuldades de concentração.
- Lentificação dos movimentos.
- Isolamento social.
- Desesperança e impotência5 pessoal.
- Ideação sobre morte e suicídio.
Do ponto de vista do tratamento, as medicações antidepressivas, fartamente receitadas, têm pouca ação sobre as depressões reativas, mas agem muito bem nas outras.
Quais são os principais tipos de depressão?
- Depressões reativas: são estados entristecidos de humor que se instalam à raiz de eventos dolorosos, como divórcio, separação dos pais, morte de pessoa chegada, doenças ou acidentes graves em si próprio ou em membro da família, abuso ou abandono, perda do emprego, isolamento, mudanças ambientais bruscas, término de namoro, reprovação escolar ou em concursos, desastres econômicos, etc. Em geral, as depressões reativas são de duração e intensidade proporcionais aos acontecimentos desencadeantes e respondem em certa medida aos esforços alentadores das demais pessoas ou do ambiente. Embora possam afetar diversas funções psicológicas, como o sono e o apetite, por exemplo, geralmente não chegam a comprometer mais profundamente o funcionamento orgânico.
- Depressões neuróticas: são estados entristecidos de humor de duração prolongada, de maior ou menor intensidade e de qualidade diferente da tristeza reativa e que geralmente se acompanham de outros sintomas3 neuróticos. Essas depressões podem ser chamadas de endorreativas porque elas tanto dependem de fatores interiores do paciente, quanto de ocorrências ambientais. No entanto, nelas não há adequação nem uma exata proporção entre os acontecimentos objetivos e as reações depressivas porque aqueles são vivenciados de maneira simbólica, alterada, nem sempre objetiva, e assumem significados diferentes do normal. As depressões neuróticas em geral pioram à tarde e à noite e melhoram pela manhã, ao contrário das depressões endógenas.
- Depressão maior: uma tríade de sintomas3, sempre presentes, caracteriza a depressão maior ou endógena:
- Tristeza profunda.
- Inibição psicomotora6.
- Lentificação dos ritmos fisiológicos.
Como correlatos desses sintomas3, nelas ocorrem, além dos sintomas3 gerais, uma completa anedonia7 (perda de prazer nas atividades diárias); diminuição da capacidade de raciocinar, concentrar e tomar decisões; total abolição do interesse sexual; isolamento social e ideias (e às vezes consecução) de suicídio. Essas depressões se acentuam pela madrugada e o paciente está pior pela manhã que à tarde. Em geral elas coexistem com episódios inversos, de hiperforia8. Dentre os vários fatores causais da depressão maior sobrelevam em importância as alterações dos neurotransmissores cerebrais, notadamente da serotonina. Por isso, o tratamento dela é feito por meios físicos, através de medicamentos ou de eletroconvulsoterapia (eletrochoque). Essas depressões podem cursar com sintomas3 psicóticos como delírios e/ou alucinações9, congruentes com temas depressivos.
Há, ainda, depressões que ocorrem em condições especiais. Embora valha para elas as mesmas observações feitas para as depressões em geral, elas parecem ter um condicionante especial nessas condições. As principais delas são as depressões pós-parto, as depressões na gravidez10, as depressões dos idosos, etc.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.