Oxicodona: remédio ou droga?
O que é a oxicodona?
A oxicodona é um fármaco1 opioide semissintético, a partir da morfina. Possui efeito analgésico2 potente, análogo ao da morfina, mas de potência duas vezes superior a ela. É um medicamento indicado no tratamento da dor de intensidade moderada a intensa, podendo ser associado a analgésicos3 não opioides ou a outras medicações coadjuvantes4.
Devido a seu potencial de dependência e pelo estado mental especial que causa, tem sido usada como droga viciante, principalmente por adolescentes. A droga foi sintetizada na Alemanha, em 1916, por Martin Freund e Edmund Speyer e logo depois foi introduzida no mercado farmacêutico. No Brasil, o analgésico2 possui registro para uso terapêutico desde agosto de 2014.
Oxicodona: remédio ou droga?
No seu uso médico, a oxicodona é utilizada para aliviar a dor aguda de média ou severa intensidade, mas como qualquer opiáceo, pode gerar sintomas5 de abstinência, após uso muito prolongado, levando ao "vício" e se tornando uma necessidade biológica vital. No entanto, por seus efeitos colaterais6 de sensações agradáveis ou eufóricas, potencializados pelo álcool, a droga passou a ser usada recreativamente, na ausência de qualquer doença dolorosa.
Como todos os opiáceos, a oxicodona é formadora de hábito em vários graus. A molécula formadora de hábito parece ser a mesma que tem efeito antálgico7 e, assim, o processo que alivia a dor parece ser o mesmo que leva à dependência, tal como acontece com a morfina. A apomorfina pode controlar a síndrome8 de abstinência da morfina, mas, no entanto, não se deve esperar que controle também a dor. Algo semelhante pode ocorrer com a oxicodona.
A utilização da oxicodona como droga recreativa ainda é novidade no Brasil, mas nos Estados Unidos a substância já é apontada como a “droga da moda em Hollywood” e tem levado muitos adolescentes à morte. Ela também é conhecida como “heroína caipira” e vem sendo citada em séries de televisão.
A oxicodona já foi encontrada na autópsia9 de artistas como Michael Jackson e o ator australiano Heath Ledger. No Brasil, um turista mineiro de 19 anos foi encontrado morto em um hotel no Rio de Janeiro, depois de consumir a droga.
A substância atua diretamente no sistema nervoso central10 e, dependendo da concentração, pode produzir efeitos alucinógenos, além de uma parada geral muscular, cardíaca e respiratória. A oxicodona é um medicamento com fácil potencial para vício e seu consumo pode ser fatal.
A tolerância progressiva que se desenvolve leva à necessidade de aumento das doses, a fim de se manter constante os seus efeitos. A dependência física conduz à ocorrência de sintomas5 de abstinência, quando da retirada da droga, levando a sintomas5 como inquietude, lacrimejamento, coriza11, bocejamento, transpiração12, calafrios13, dor muscular, dilatação da pupila, irritabilidade, ansiedade, dor nas costas14, dor articular, fraqueza, cólicas15 abdominais, insônia, náuseas16, anorexia17, vômitos18, diarreia19, elevações na pressão sanguínea, na frequência respiratória ou cardíaca.
Quais são os cuidados necessários ao usar a oxicodona com propósitos médicos?
Mesmo quando iniciados por indicação médica, os opioides ou seus derivados são substâncias muito aditivas e com alto potencial para dependência e riscos de efeitos graves. A exposição continuada a essas substâncias inicia um processo de habituação20 cerebral e comportamental aos efeitos delas. Com essa adaptação à droga, surgem os sinais21 e sintomas5 da dependência. Não há diferenças entre as percentagens de dependentes homens ou mulheres.
A dependência de opioides é uma condição crônica, com recaídas frequentes, que exige tratamento especializado. A síndrome8 de abstinência é uma situação que necessita manejo clínico apurado. No atendimento do paciente em situação de privação aguda, deve ser realizada uma avaliação clínica detalhada. Os cuidados iniciais associados ao início da medicação visam a diminuição do desconforto do paciente e dos riscos associados à privação. O fármaco1 de primeira escolha para tratamento da abstinência é a metadona, ao qual deve ser associado suporte social, terapia cognitivo22-comportamental, grupos de autoajuda e terapia familiar.
A oxicodona deve ser usada com cautela nas seguintes condições: alcoolismo, insuficiência23 adrenocortical, depressão do sistema nervoso central10 ou coma24, delirium tremens25, pacientes debilitados, cifoscoliose26 (deformação da coluna vertebral27) associada com depressão respiratória, hipotireoidismo28, hiperplasia29 prostática, obstrução uretral30, insuficiência hepática31, pulmonar ou renal32 grave e psicose33 tóxica.
A oxicodona pode agravar as convulsões em pacientes com transtornos convulsivos e pode causar espasmo34 do esfíncter de Oddi35 (músculo circular localizado na junção do colédoco com o duodeno36), devendo ser usada com cautela em pacientes com doenças do trato biliar37 ou pancreatite38 aguda.
Os comprimidos de oxicodona foram formulados para serem engolidos inteiros. Se forem partidos, mastigados ou triturados poderão liberar imediatamente seu conteúdo, acarretando o risco de superdosagem. A pessoa em uso da oxicodona deve evitar desempenhar tarefas potencialmente arriscadas, tais como dirigir veículos ou manusear maquinaria perigosa, por causa das alterações da consciência que ela pode causar. Deve também ser evitada gravidez39 ou amamentação40 durante o uso. A segurança e eficácia dos comprimidos de oxicodona ainda não foram estabelecidas para menores de 18 anos de idade, embora não seja de se prever nenhum novo risco de seu uso, além dos já apontados. A oxicodona produz efeitos aditivos, ao ser utilizada juntamente com drogas que resultem em depressão do sistema nervoso central10.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.