Transplante de órgãos: quem pode e quem não pode doar ou receber órgãos?
O que é transplante de órgãos?
Pode-se extrair um órgão sadio (ou parte dele) ou tecido1 de um indivíduo que esteja em estado de morte encefálica2, desde que haja consentimento da família, e transplantá-lo num outro indivíduo que necessite de um órgão homólogo. A mesma coisa pode ser feita a partir de um indivíduo vivo que dê o consentimento, com um órgão cuja retirada não afete sua saúde3 ou suas habilidades. A este procedimento chama-se transplante de órgãos. Nessa segunda modalidade fala-se em transplante de órgãos intervivos. Em alguns casos de transplante de tecidos orgânicos acontece ainda que o doador e o receptor sejam o mesmo indivíduo.
Devido às suas óbvias implicações fisiológicas4, alguns transplantes só podem ser feitos a partir de doadores que estejam em estado de morte encefálica2, como nos casos de transplantes de córnea5, pâncreas6 ou coração7, mas outros podem também ser feitos a partir de pessoas vivas, como o de um rim8, por exemplo. O transplante de tecidos do mesmo indivíduo, de um lugar para outro é dito autoplástico; o transplante de um indivíduo para outro é dito heteroplástico e pode ser homólogo, quando ocorre entre indivíduos da mesma espécie ou heterólogo, se ocorre entre indivíduos de espécies diferentes.
Quem pode e quem não pode doar órgãos para transplante?
Tipicamente, os doadores são pessoas sadias que tenham sofrido um acidente que provocou um dano na cabeça9, como acidente com carro, moto, quedas, etc e que estejam em situação de morte encefálica2. Só podem se tornar doadores os pacientes que tiverem recebido este diagnóstico10. A decisão quanto à doação pertence à família, independentemente do desejo expresso em vida pela pessoa em causa. É, pois, muito importante que uma pessoa que deseja ser doadora de órgãos comunique à família o seu desejo, para que a mesma autorize a doação no momento oportuno. Apesar da morte encefálica2, o coração7 do doador deve permanecer batendo até o momento da cirurgia de retirada do(s) órgão(s), valendo-se do uso de aparelhos e medicamentos. Se o coração7 parar de bater, só poderão ser doados alguns tecidos como córneas, pele11 e ossos.
Para doar órgãos em vida é necessário:
- Ser maior de 18 anos e juridicamente capaz.
- Estar em boas condições de saúde3.
- Doar um órgão que seja duplo e não impeça o doador continuar “funcionando” normalmente.
- Ter um receptor determinado, ser parente dele até quarto grau ou cônjuge ou, no caso de não parentes, ter autorização judicial.
Não devem ou não podem doar órgãos:
- Pacientes que sofram uma insuficiência12 orgânica importante, como insuficiência12 renal13, hepática14, cardíaca, pulmonar, pancreática ou medular.
- Portadores de doenças transmissíveis por transplante.
- Pacientes com infecção15 generalizada ou com tumores malignos (exceto tumor16 primitivo do sistema nervoso central17, carcinoma18 basocelular e carcinoma18 “in situ19” do útero20).
- Pessoas com doenças degenerativas21.
O dano estrutural de um órgão específico, por acidente, por exemplo, não contraindica nem impede a doação dos demais órgãos. No caso de doadores vivos, deve-se fornecer a ele toda a informação possível quanto aos incômodos que terá e quais os riscos que corre. Apesar de não existirem benefícios físicos e sim incômodos e riscos para o doador, eles geralmente experimentam uma agradável elevação da autoestima e dos sentimentos de bem-estar.
A doação por menores de idade é permitida somente com autorização de ambos os pais ou responsáveis. Os deficientes mentais e pessoas mentalmente incapazes não podem ser doadores.
Quem pode e quem não pode receber um órgão transplantado?
O transplante só deve ser realizado se houver expectativa de sucesso clínico. Em primeiro lugar, os futuros receptores de um órgão transplantado devem receber todas as informações acerca do procedimento e de suas possíveis complicações. É importante salvaguardar a identidade do doador. O receptor não deve ter acesso à identidade do doador, tanto porque isso leva a reações emocionais imprevistas, quanto porque o fato dele conhecer dados biológicos do doador pode também ter efeitos negativos.
Ainda do ponto de vista clínico, a verificação da compatibilidade precede o transplante propriamente dito. O médico deve verificar a compatibilidade de sangue22 e antígenos23, ou seja, das moléculas do corpo capazes de iniciar a resposta imune de rejeição. A rejeição ocorre quando o sistema imunológico24 do receptor não reconhece o novo tecido1 e passa a produzir anticorpos25 contra ele, o que acaba causando a destruição do órgão transplantado e pode levar à morte. Quanto maior a compatibilidade dos antígenos23 do doador e do receptor, mais altas são as chances de o procedimento ser bem sucedido; mas mesmo que a compatibilidade seja alta, os tecidos são rejeitados e o paciente tem que fazer uso contínuo de medicamentos imunossupressores, a não ser nos casos de transplantes autoplásticos.
Quais são os órgãos que podem ser transplantados?
Os transplantes mais realizados em todo o mundo são os de medula óssea26, rim8, fígado27, coração7, pulmão28 e pâncreas6, mas também podem ser feitos transplantes de intestinos29, córneas, pele11, osso, válvulas cardíacas, tendões30 e outros. Pacientes com insuficiência renal31 podem se submeter ao procedimento como uma alternativa à diálise32. O transplante de fígado27 é a única opção para indivíduos cujo órgão deixa de funcionar. Quanto ao coração7, em casos em que uma doença pulmonar provocou lesão33 cardíaca, o transplante de ambos os órgãos pode ser realizado de forma combinada. O transplante de medula óssea26 atualmente beneficia pacientes com leucemia34 e outros tipos de câncer35 sanguíneos.
As técnicas de transplantes têm evoluído tanto que equipes de várias partes do mundo têm tido sucesso nos reimplantes de rostos, mãos36 e pernas.
Em que consiste a rejeição a um órgão transplantado?
A rejeição a um órgão transplantado ocorre quando o sistema autoimune37 do receptor ataca o órgão transplantado, porque ele distingue entre o próprio e o estranho e reage contra o que considera como estranho. Duas pessoas distintas, com exceção de gêmeos idênticos, nunca têm antígenos23 teciduais iguais e, por essa razão, o transplante de órgãos quase sempre resulta em ataque imunológico ao transplante. Quanto maior for a diferença de antígenos23, maior a causa de rejeição e mais ela será rápida e grave.
Para minimizar o problema, o médico faz uma prévia "tipagem” do tecido1 do órgão, de modo a assegurar-se de que o órgão do doador seja, tanto quanto possível, semelhante ao do receptor. Além do gene HLA, responsável pelo grau de compatibilidade orgânica, o tipo sanguíneo também é importante para o transplante. Pacientes do grupo O só podem receber órgãos de pessoas também O; os de tipo A podem receber dos tipos A ou O; pacientes do tipo B podem receber dos tipos B ou O e os de tipo AB, podem receber dos tipos AB, A, B ou O. O fator RH negativo ou positivo é pouco importante, neste caso.
Como evolui o transplante de órgãos?
Todo indivíduo que tenha recebido um transplante precisa tomar medicamentos imunossupressores para o resto da vida.
Um transplante que dure pelo menos dez anos já pode ser considerado um sucesso, mas existem casos de pessoas com até 30 anos de transplante.
Quanto mais próximos geneticamente forem o doador e o receptor, menos drogas serão necessárias e mais tempo o órgão transplantado poderá durar.
Quais são as complicações possíveis de um transplante de órgãos?
A complicação mais temível é a rejeição, tornando o órgão transplantado inutilizável. Outra situação preocupante é que as defesas orgânicas ficam muito diminuídas pelas drogas imunossupressoras, possibilitando infecções38. Além disso, há os riscos próprios das cirurgias necessárias para realização dos transplantes.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.