Refluxo ou Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)
Sinônimos:
Azia1, Refluxo, Doença do Refluxo
O que é?
É uma condição crônica decorrente do retorno de conteúdo do estômago2 e duodeno3 para o esôfago4, acarretando sinais5 ou sintomas6 esofagianos variados que podem estar associados ou não a lesões7 nos tecidos.
Quais são as causas?
O refluxo ocorre quando o músculo localizado no fim do esôfago4, chamado de esfíncter8 inferior do esôfago4, não funciona adequadamente. Este músculo deveria estar fechado na maior parte do tempo, abrindo apenas para a entrada de alimentos no estômago2. Mas ele pode apresentar uma certa incapacidade e não se fechar completamente, o que permite o retorno do conteúdo do estômago2 para o esôfago4.
Outras situações podem contribuir para o refluxo, como a elevada produção de ácido gástrico9, obesidade10, gravidez11, hérnia12 de hiato, síndrome de Zollinger-Ellison13, hipercalcemia e esclerose14 sistêmica.
O que sente o portador desta condição?
As principais manifestações clínicas são:
- Pirose15 (azia1): sensação de queimação no peito16, atrás do esterno17, que pode chegar até a garganta18. Este é o sintoma19 mais comum do refluxo, podendo piorar quando a pessoa come, agacha ou deita. Às vezes ela é confundida com infarto do miocárdio20 ou angina21
- Sensação de plenitude gástrica: relatada pelos pacientes como inchaço22 no estômago2 ou má digestão23
- Dor em queimação na “boca do estômago” (abdome24 superior), que normalmente acorda a pessoa no meio da noite
- Eructação25 (arrotos)
- Náuseas26
- Excesso de salivação
- Regurgitação27 ácida: refluxo de líquidos ou alimentos do estômago2 à boca28
- Disfagia29 (dificuldade para engolir): manifestada por engasgos
- Sensação de asfixia30 noturna
- Rouquidão, principalmente pela manhã
- Dor de garganta18
- Pigarro ou necessidade de limpar a garganta18 repetidamente
- Tosse crônica, pneumonias de repetição, asma31, sinusite32 crônica
- Desgaste do esmalte dentário33, halitose34 (mau-hálito)
A intensidade e a freqüência dos sintomas6 não são sinais5 de gravidade da esofagite35. Mas existe correlação entre o tempo de duração dos sintomas6 e o aumento do risco para o desenvolvimento do Esôfago4 de Barrett e do adenocarcinoma36 (câncer37) do esôfago4.
Alguns sintomas6 são considerados “manifestações de alarme” e devem ser investigados mais rapidamente. São eles: dificuldade para engolir, dor de garganta18, anemia38, hemorragia39 digestiva, emagrecimento, história familiar de câncer37, náuseas26 e vômitos40, além de sintomas6 de grande intensidade e/ou de ocorrência noturna.
Como o médico faz o diagnóstico41?
O diagnóstico41 é realizado a partir de uma história clínica detalhada. Os pacientes que apresentam sintomas6 com freqüência mínima de duas vezes por semana, ao longo de 4 a 8 semanas, devem ser considerados possíveis portadores da DRGE.
Como as manifestações clínicas são variadas, podem ser necessários exames complementares como a endoscopia42 digestiva alta, exame radiológico contrastado do esôfago4, cintilografia43, manometria, pHmetria de 24 horas ou teste terapêutico para auxiliar no diagnóstico41.
A endoscopia42 digestiva alta é particularmente importante nos pacientes com mais de 40 anos de idade, bem como nos que apresentam “manifestações de alarme”. Ela permite ver diretamente a mucosa44. Mas é importante saber que uma endoscopia42 normal não exclui o diagnóstico41 de DRGE, pois pode estar presente em 25-40% dos pacientes com DRGE.
Procure um especialista em gastroenterologia para avaliar os seus sintomas6 e a necessidade de realizar exames complementares para o diagnóstico41.
No Brasil, pelo baixo custo do exame endoscópico, ele faz parte da propedêutica inicial para pacientes45 com história clínica e sintomas6 de DRGE, mesmo em idade abaixo de 40 anos.
Quais as opções de tratamento disponíveis?
Existem dois tipos de tratamento: as medidas comportamentais (mudanças de hábitos) e as farmacológicas (uso de medicamentos). Elas devem ser implementadas simultaneamente em todas as fases da doença.
Pacientes conscientes da importância de modificar o seu estilo de vida ajudam muito no tratamento.
Fazem parte das medidas comportamentais:
- Elevação da cabeceira da cama em 15 centímetros para dificultar o refluxo de alimentos do estômago2 para o esôfago4.
- Moderada ingestão de alimentos gordurosos, café, bebidas alcoólicas, bebidas gasosas, menta, hortelã, produtos de tomate, condimentos e leite integral. Estes alimentos são irritantes da mucosa44 gástrica.
- Cuidados especiais para o uso de medicamentos que podem piorar o refluxo, como anticolinérgicos, teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores de canais de cálcio, agonistas ß adrenérgicos46 e alendronato.
- Evitar comer até duas horas antes do horário de dormir (deitar).
- Evitar refeições copiosas. O melhor é fazer refeições fracionadas, mais vezes ao dia.
- Parar de fumar.
- Emagrecimento.
- Evitar o uso de roupas apertadas, pois elas aumentam a pressão no abdome24, piorando o refluxo.
A presença de esofagite35 à endoscopia42 indica o uso de medicamentos inibidores da bomba de prótons (IBP), por um tempo mínimo de 6 semanas, embora 4 semanas também possam ser utilizadas.
Aqueles que não apresentarem resposta satisfatória ao tratamento com IBP por 12 semanas, devem ter a dose dobrada por mais 12 semanas antes de serem considerados como insucesso terapêutico.
Por vezes, o tratamento cirúrgico pode ser recomendado pelo médico, dependendo das indicações.
Quais as opções para prevenir esta doença?
São as mesmas medidas comportamentais adotadas para o tratamento do refluxo.
Quais são as complicações da doença?
As complicações mais comuns são:
- Esofagite35: inflamação47 do esôfago4
- Estenose48: redução do calibre do esôfago4, tornando difícil a deglutição49 de alimentos sólidos
- Úlcera50: aparecimento de uma ferida aberta no esôfago4
- Esôfago4 de Barrett: substituição do epitélio51 estratificado e escamoso52 do esôfago4 por epitélio51 colunar com células53 intestinalizadas ou mistas, em qualquer extensão do órgão. É uma alteração na qual o tecido54 rosado normal do esôfago4 é substituído por um tecido54 de cor “salmão” que mais se assemelha ao revestimento do estômago2 e afeta primariamente indivíduos do sexo masculino, de raça branca, com idade superior a 40 anos
- Sangramento esofágico: costuma ser lento e insidioso, sendo muitas vezes responsável por quadros de anemia38 crônica. O tratamento clínico constitui a melhor opção de tratamento
- Câncer37 de esôfago4: o Esôfago4 de Barrett pode evoluir para o câncer37 de esôfago4 em 2 a 5 por cento das pessoas com esta condição
Fontes:
I Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastroesofágico55
Refluxo Gastroesofágico55: Diagnóstico41 e Tratamento - Projeto Diretrizes
Arquivos Médicos do ABC
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.