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Hipertermia maligna

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O que é a hipertermia maligna?

A hipertermia maligna é uma síndrome1 clínica de hipermetabolismo, potencialmente grave, que envolve o músculo esquelético2 e que ocorre nos indivíduos susceptíveis, quando expostos especialmente a determinados anestésicos inalatórios. Foi descrita inicialmente na Austrália, no ano de 1960, por Denborough e Lowell.

Quais são as causas da hipertermia maligna?

A hipertermia maligna é uma doença muscular hereditária, latente, de herança autossômica3 dominante desencadeada em indivíduos susceptíveis, principalmente pelos agentes anestésicos inalatórios voláteis e o relaxante muscular succinilcolina, embora outras drogas também tenham sido implicadas como desencadeantes potenciais. As pessoas com história familiar de hipertermia maligna e as que apresentam contratura do músculo masséter4, quando utilizam o medicamento succinilcolina, têm maior chance de desenvolver hipertermia.

Qual é o mecanismo fisiológico5 da hipertermia maligna?

A hipertermia maligna é uma miopatia6 subclínica que libera grandes quantidades de cálcio do retículo sarcoplasmático7 do músculo esquelético2 e causa um estado hipermetabólico após a exposição a agentes desencadeantes. A cinética8 alterada do canal do cálcio é a causa subjacente responsável pela rigidez muscular, permeabilidade9 celular alterada e hipercalemia10. A tensão arterial do dióxido de carbono pode exceder 100 mmHg e o pH pode cair abaixo de 7. Pode-se observar um aumento no consumo de oxigênio e no lactato11 sanguíneo. Ocorre também uma onda simpática de catecolaminas.

O hipermetabolismo evoca uma resposta maciça, levando à elevação extrema da temperatura. A rabdomiólise12 leva a níveis aumentados de potássio, mioglobina e creatinoquinase, bem como a edema13. A mioglobina elevada pode danificar os rins14 e, sem tratamento adequado, o processo pode progredir para falência de múltiplos órgãos e morte.

Saiba mais sobre "Miopatias", "Rabdomiólise12" e "Edema13 ou inchaço15".

O hipermetabolismo prevalente pode prejudicar gravemente a função miocárdica. A elevação da temperatura, a hipercalemia10, a acidose16 e o edema13 cerebral podem afetar o sistema nervoso central17, causando coma18, arreflexia e pupilas dilatadas. A excitação do sistema nervoso19 simpático20 ocorre logo cedo. A coagulação21 intravascular22 disseminada pode ocorrer como consequência da liberação de tromboplastina23 tecidual. As alterações pulmonares são secundárias aos efeitos sistêmicos24. Eventualmente, a exaustão metabólica ocorre, levando à maior permeabilidade9 celular, edema13 de todo o corpo, síndrome1 do compartimento nas extremidades e morte.

Em resumo, a hipertermia maligna ocorre, na maioria dos casos, devido à mutação25 de um canal de cálcio da musculatura esquelética. Essa mutação25 pode resultar na liberação exacerbada de cálcio no músculo, quando na presença de alguns anestésicos. Isso pode resultar na destruição da fibra muscular esquelética. Como há um elevado consumo de energia, aumento de produção de CO2 e rápido aumento da temperatura corporal, com consequências bioquímicas e hematológicas, também pode haver a evolução para choque26 irreversível e colapso27 cardiovascular.

Leia sobre "Acidose16", "Edema13 cerebral", "Estado de coma28" e "Coagulação21 intravascular22 disseminada".

Quais são as principais características clínicas da hipertermia maligna?

Os sintomas29 da hipertermia maligna ocorrem no momento da anestesia30 ou mais raramente no pós-anestésico. A síndrome1 pode apresentar-se como de início agudo31 e fulminante ou instalar-se insidiosamente e pode ocorrer quando o indivíduo recebe anestesia30 pela primeira vez ou em anestesias subsequentes, em mais de um terço dos casos.

Pode ocorrer ainda taquicardia32, hipertermia, arritmias33 cardíacas e hipertensão arterial34. Acontecem também contraturas musculares excessivas, levando à rabdomiólise12 e mioglobinúria. Deve-se suspeitar de hipertermia maligna quando a pessoa em anestesia30, mesmo estando em ventilação35 mecânica adequada, apresenta aumento de gás carbônico e taquicardia32.

Como o médico diagnostica a hipertermia maligna?

Os indivíduos susceptíveis só desenvolvem o quadro clínico quando expostos aos agentes desencadeantes e, por isso, o diagnóstico36 é difícil. A biópsia37 muscular é o diagnóstico36 definitivo da hipertermia maligna. O método utilizado até hoje como padrão é o teste de contratura in vitro, em que uma amostra da musculatura do indivíduo, mandada para análise, apresenta resposta contrátil aumentada na presença do anestésico halotano e cafeína.

Como o médico trata a hipertermia maligna?

O único tratamento eficaz para a hipertermia maligna é a interrupção imediata do uso do anestésico desencadeante e a administração de dantrolene sódico intravenoso, que reduz a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático7 do músculo estriado38 esquelético. Essa medida reduz imensamente as sequelas39 metabólicas. Deve ser feito paralelamente uma terapia adjuvante de resfriamento rápido do paciente, inalação de oxigênio a 100%, controle da acidose16 e das arritmias33 e proteção renal40.

Como evolui a hipertermia maligna?

Se a hipertermia maligna for tratada no início, pode esperar-se uma recuperação completa. O surgimento da medicação dantrolene reduziu a mortalidade41 de mais de 70% para cerca de 5%. Caso não seja tratado imediatamente, o quadro pode evoluir para óbito42.

Veja também sobre "Arritmia43 cardíaca", "Hipertensão Arterial34" e "Anestesia30 geral".

 

ABCMED, 2017. Hipertermia maligna. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1288868/hipertermia-maligna.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Músculo Esquelético: Subtipo de músculo estriado fixado por TENDÕES ao ESQUELETO. Os músculos esqueléticos são inervados e seu movimento pode ser conscientemente controlado. Também são chamados de músculos voluntários.
3 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
4 Músculo Masséter: Músculo mastigatório cuja ação é o fechamento da mandíbula.
5 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
6 Miopatia: Qualquer afecção das fibras musculares, especialmente dos músculos esqueléticos.
7 Retículo Sarcoplasmático: Rede de túbulos e cisternas localizada no citoplasma de músculos esqueléticos. Participam na contração e no relaxamento dos músculos através da liberação e armazenamento de íons cálcio.
8 Cinética: Ramo da física que trata da ação das forças nas mudanças de movimento dos corpos.
9 Permeabilidade: Qualidade dos corpos que deixam passar através de seus poros outros corpos (fluidos, líquidos, gases, etc.).
10 Hipercalemia: É a concentração de potássio sérico maior que 5.5 mmol/L (mEq/L). Uma concentração acima de 6.5 mmol/L (mEq/L) é considerada crítica.
11 Lactato: Sal ou éster do ácido láctico ou ânion dele derivado.
12 Rabdomiólise: Síndrome caracterizada por destruição muscular, com liberação de conteúdo intracelular na circulação sanguínea. Atualmente, a rabdomiólise é considerada quando há dano secundário em algum órgão associado ao aumento das enzimas musculares. A gravidade da doença é variável, indo de casos de elevações assintomáticas de enzimas musculares até situações ameaçadoras à vida, com insuficiência renal aguda ou distúrbios hidroeletrolíticos. As causas da rabdomiólise podem ser classificadas em quatro grandes grupos: trauma ou lesão muscular direta, excesso de atividade muscular, defeitos enzimáticos hereditários ou outras condições clínicas.
13 Edema: 1. Inchaço causado pelo excesso de fluidos no organismo. 2. Acúmulo anormal de líquido nos tecidos do organismo, especialmente no tecido conjuntivo.
14 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
15 Inchaço: Inchação, edema.
16 Acidose: Desequilíbrio do meio interno caracterizado por uma maior concentração de íons hidrogênio no organismo. Pode ser produzida pelo ganho de substâncias ácidas ou perda de substâncias alcalinas (básicas).
17 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
18 Coma: 1. Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte. 2. Presente do subjuntivo ou imperativo do verbo “comer.“
19 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
20 Simpático: 1. Relativo à simpatia. 2. Que agrada aos sentidos; aprazível, atraente. 3. Em fisiologia, diz-se da parte do sistema nervoso vegetativo que põe o corpo em estado de alerta e o prepara para a ação.
21 Coagulação: Ato ou efeito de coagular(-se), passando do estado líquido ao sólido.
22 Intravascular: Relativo ao interior dos vasos sanguíneos e linfáticos, ou que ali se situa ou ocorre.
23 Tromboplastina: Conhecida como fator tissular ou Fator III, a tromboplastina é uma substância presente nos tecidos e no interior das plaquetas. Ela tem a função de transformar a protrombina em trombina na presença de íons cálcio, atuando de maneira importante no processo de coagulação.
24 Sistêmicos: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
25 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
26 Choque: 1. Estado de insuficiência circulatória a nível celular, produzido por hemorragias graves, sepse, reações alérgicas graves, etc. Pode ocasionar lesão celular irreversível se a hipóxia persistir por tempo suficiente. 2. Encontro violento, com impacto ou abalo brusco, entre dois corpos. Colisão ou concussão. 3. Perturbação brusca no equilíbrio mental ou emocional. Abalo psíquico devido a uma causa externa.
27 Colapso: 1. Em patologia, é um estado semelhante ao choque, caracterizado por prostração extrema, grande perda de líquido, acompanhado geralmente de insuficiência cardíaca. 2. Em medicina, é o achatamento conjunto das paredes de uma estrutura. 3. No sentido figurado, é uma diminuição súbita de eficiência, de poder. Derrocada, desmoronamento, ruína. 4. Em botânica, é a perda da turgescência de tecido vegetal.
28 Estado de coma: Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte.
29 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
30 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
31 Agudo: Descreve algo que acontece repentinamente e por curto período de tempo. O oposto de crônico.
32 Taquicardia: Aumento da frequência cardíaca. Pode ser devido a causas fisiológicas (durante o exercício físico ou gravidez) ou por diversas doenças como sepse, hipertireoidismo e anemia. Pode ser assintomática ou provocar palpitações.
33 Arritmias: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
34 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
35 Ventilação: 1. Ação ou efeito de ventilar, passagem contínua de ar fresco e renovado, num espaço ou recinto. 2. Agitação ou movimentação do ar, natural ou provocada para estabelecer sua circulação dentro de um ambiente. 3. Em fisiologia, é o movimento de ar nos pulmões. Perfusão Em medicina, é a introdução de substância líquida nos tecidos por meio de injeção em vasos sanguíneos.
36 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
37 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
38 Músculo Estriado: Um dos dois tipos de músculo do corpo, caracterizado pelo arranjo em bandas observadas ao microscópio. Os músculos estriados podem ser divididos em dois subtipos
39 Sequelas: 1. Na medicina, é a anomalia consequente a uma moléstia, da qual deriva direta ou indiretamente. 2. Ato ou efeito de seguir. 3. Grupo de pessoas que seguem o interesse de alguém; bando. 4. Efeito de uma causa; consequência, resultado. 5. Ato ou efeito de dar seguimento a algo que foi iniciado; sequência, continuação. 6. Sequência ou cadeia de fatos, coisas, objetos; série, sucessão. 7. Possibilidade de acompanhar a coisa onerada nas mãos de qualquer detentor e exercer sobre ela as prerrogativas de seu direito.
40 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
41 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
42 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
43 Arritmia: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.

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