Esquizofrenia. O que saber sobre ela?
O que é a esquizofrenia1?
A esquizofrenia1 é um transtorno mental grave que afeta praticamente todos os processos mentais (afetividade, percepção, pensamento, motivação, memória, etc.) e que se caracteriza em geral pela presença de ambivalência emocional, alucinações2 (de qualquer dos cinco sentidos, mas predominantemente auditivas e visuais), alterações da forma e do conteúdo do pensamento (sobretudo delírios) e alterações do contato com a realidade. Juntamente com a paranoia e a antiga psicose3 maníaco-depressiva, as esquizofrenias compõem o grupo das enfermidades mentais comumente chamadas psicoses.
Qual a causa da esquizofrenia1?
A causa da esquizofrenia1 não é inteiramente conhecida e parece mesmo não haver um fator causal único, mas multifatores levando a esta condição. A doença parece ser devida ao quadro psicológico (consciente e inconsciente); ao ambiente e ao histórico hereditário familiar para a própria doença e para outros transtornos mentais aparentados. Mais recentemente, tem-se postulado que o uso de substâncias psicoativas pode estar envolvido no desencadeamento de surtos esquizofrênicos que sejam latentes. As teorias genéticas postulam uma participação hereditária; as neurobiológicas defendem que a esquizofrenia1 é causada por alterações estruturais ou químicas do cérebro4; a teoria psicanalítica defende a importância de fatores psicológicos precoces e as teorias familiares alegam a importância de estruturas e formas de comunicação anômalas. Mais recentemente a teoria dos neurotransmissores, segundo a qual a doença estaria ligada à alteração de certos neurotransmissores cerebrais, vem ganhando terreno.
Como a esquizofrenia1 começa?
Geralmente a esquizofrenia1 começa na adolescência ou no adulto jovem, embora possa também começar antes ou depois disso. Tanto pode iniciar-se de forma aguda e exuberante como de maneira insidiosa e larvar. Às vezes a doença se manifesta agudamente, quase que da noite para o dia, por assim dizer; outras vezes as pessoas próximas ao enfermo só se dão plena conta da anormalidade depois de meses de iniciada a doença. Como as mudanças dão-se paulatinamente, é possível que as pessoas que tenham contatos mais esparsos com o paciente as notem mais rapidamente.
De início pode ocorrer uma tensão imotivada, insônia, queda dos rendimentos no estudo ou no trabalho (que às vezes acabam sendo interrompidos), prejuízo da atenção e da concentração. Aos poucos o paciente vai perdendo o interesse pelas coisas que antes gostava, torna-se mais ensimesmado, alega estar ouvindo vozes ou tendo visões que não correspondem à realidade e passa a ter pensamentos e vivências estranhos. Começa a mostrar desleixo com a sua aparência e descaso com sua higiene pessoal.
A fase inicial pode passar despercebida pelos familiares ou ser negada e encobertada por falsas explicações. A doença só fica clara quando o paciente começa a ter alucinações2 ou delírios estranhos.
Em quem ocorre a esquizofrenia1?
A esquizofrenia1 ocorre em cerca de 1% da população, a maioria dos casos se inicia entre os 15 e os 25 anos. A incidência5 dela é igual nos homens e nas mulheres, bem como nas diversas culturas e classes sociais. Há uma evidente participação genética, mas o fator genético não é a causa única. Em mais de 80% dos pacientes não se conhece um familiar que tenha tido a doença. No caso de um dos pais ser esquizofrênico, a probabilidade do filho vir a ter a doença é de 12% e ela aumenta para 40% no caso de ambos os pais sofrerem desta condição.
Quais são os sintomas6 da esquizofrenia1?
Os sintomas6 da esquizofrenia1 são extremamente variados, mormente porque existem diferentes formas da doença, como veremos.
Classicamente, Bleuler descreveu três sinais7 fundamentais: autismo, ambivalência afetiva, desagregação do curso do pensamento. Num sentido clínico mais imediato tem-se indiferença afetiva em relação à realidade (isolamento); falsas percepções (alucinações2), principalmente auditivas e visuais, e alterações na forma e conteúdo do pensamento (desagregações e delírios).
Os sintomas6 da esquizofrenia1 podem ser divididos em positivos e negativos. Os sintomas6 positivos em geral acontecem na fase aguda da doença e são como que “acrescentados” às funções psíquicas normais e as distorcem, como as alucinações2 e os delírios, a desorganização do pensamento, a invenção de palavras, a impulsividade, a ansiedade e a agressividade. Os sintomas6 negativos são de cunho deficitário, no nível das emoções, da motivação, do pensamento e das relações interpessoais, tais como a abulia, a apatia8, o isolamento social, a indiferença emocional, etc.
Os sintomas6 positivos ou negativos não ocorrem igualmente em todos os esquizofrênicos. Em cada paciente há a predominância de uns ou de outros. Também o tempo de evolução da enfermidade tem importância: os sintomas6 negativos tendem a predominar na esquizofrenia1 tardia.
Quais são as formas da esquizofrenia1?
As formas da esquizofrenia1 são estabelecidas clinicamente, com base nos sintomas6. Fala-se atualmente em cinco formas de esquizofrenia1: paranóide, desorganizada, catatônica, indiferenciada e residual.
Na esquizofrenia1 paranóide que, em geral, tem forma de início aguda, predominam os sintomas6 positivos, principalmente o delírio9 paranóide (de perseguição ou grandeza), relativamente bem estruturado, e as alucinações2. Na forma desorganizada há principalmente transtornos afetivos e do curso do pensamento. As idéias delirantes são mal estruturadas ou não têm nenhuma organização. Nas formas catatônicas predominam as alterações da motricidade, da vontade e da atividade. A forma indiferenciada, de início insidioso, é marcada por apatia8 e indiferença em relação a mundo externo, com diminuição dos rendimentos nos estudos e no trabalho. A forma residual representa a etapa final da evolução da esquizofrenia1. Nela há um predomínio de sintomas6 negativos, um embotamento10 afetivo e uma pobreza de produção mental.
Qual o tratamento da esquizofrenia1?
O tratamento da esquizofrenia1 é multidisciplinar e envolve, além da medicação, a psicoterapia, a terapia ocupacional11, a intervenção familiar, a musicoterapia e a psicoeducação. Embora não visem a cura, esses procedimentos ajudam muito a controlar os sintomas6. O tratamento farmacológico merece menção à parte. Os antipsicóticos são efetivos no controle dos sintomas6, em cerca de 70% dos casos. Eles agem sobre os neurotransmissores cerebrais como a dopamina12, serotonina e adrenalina13.
Qual o prognóstico14 da esquizofrenia1?
A esquizofrenia1 é uma doença incurável, embora as diversas formas de tratamento proporcionem um controle muito efetivo dos sintomas6. A personalidade do paciente fica alterada após cada surto da doença ou se altera gradativamente nos casos de curso insidioso. Depois de alguns anos de doença e com o avançar da idade do paciente, a esquizofrenia1 se estabiliza, tendendo a não ocorrerem novos surtos ou a não mais evoluir. No entanto, a personalidade do paciente já estará gravemente alterada, no sentido de um significativo alheamento social, uma marcante falta de afetividade e uma grande deficiência de produtividade. Em geral, esses pacientes não têm condições de manter o estudo, uma família ou um emprego. No máximo conseguem desempenhar atividades muito simples e rotineiras que não requeiram criatividade.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.