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Transtorno bipolar do humor

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O que é o transtorno bipolar do humor?

O transtorno bipolar do humor é uma enfermidade que cursa com episódios repetitivos ou alternados de depressões e exaltações anormais do humor. Em sua maior parte ele coincide com o que antigamente era chamado psicose1 maníaco-depressiva (PMD) e que teve esse nome mudado, entre outras razões, porque este transtorno nem sempre apresenta sintomas2 psicóticos. Os primeiros episódios podem ser separados entre si por anos, mas se tornam cada vez mais frequentes. Como o paciente volta a seu normal após uma primeira crise e pode levar anos (10 ou mesmo 15 anos) a ter uma segunda, em geral ele se considera curado após esse primeiro episódio.

Quais os sintomas2 do transtorno bipolar do humor?

O característico dessa enfermidade é a sucessão ou alternância irregular de estados depressivos e maníacos, intercalados por períodos de relativa normalidade. (Em psiquiatria chama-se “mania” ao estado de exaltação do humor, com seus inevitáveis correlatos). Muitas vezes o diagnóstico3 correto só pode ser feito depois de muitos anos, porque uma pessoa que tenha tido uma fase de mania ou depressão pode, só depois de um longo período de tempo, apresentar um novo episódio, maníaco ou depressivo.

O transtorno do humor pode ser uni ou bipolar. O transtorno unipolar refere-se a episódios somente de depressão e, o bipolar, de depressão e mania. Tanto a depressão quanto a mania podem durar espontaneamente semanas, meses ou anos. Espontaneamente as depressões parecem durar, em média, 9 meses e, as manias, de 5 a 6 meses. Ambas podem ter o seu curso interrompido pelo tratamento.

Existem formas diferentes do transtorno bipolar do humor?

Existem quatro formas de transtorno bipolar do humor:

  • Tipo I

Presença de fases maníacas e depressivas graves.

  • Tipo II

Presença de estados hipomaníacos (um pouco mais suaves que os estados maníacos).

  • Transtorno Bipolar Misto

Presença de estados mistos, depressivos e eufóricos, que se alternam em poucos dias, ou até mesmo em poucas horas.

  • Transtornos Ciclotímicos

Presença crônica e flutuante do humor, marcada por períodos maníacos e depressivos que, no entanto, não são suficientemente graves como os das verdadeiras depressão e mania.

Como são a depressão e a mania no transtorno bipolar?

A depressão do transtorno bipolar do humor é diferente das depressões reativas que se seguem a um infortúnio qualquer, às quais se está mais acostumado. Ela é mais profunda, não só por ser mais intensa, mas por ser mais corporificada. Além do sentimento de tristeza, ela afeta também o brilho dos olhos4, o timbre da voz, a viçosidade da pele5, a agilidade dos movimentos, os ritmos fisiológicos (sono, apetite, peristaltismo6, ciclo menstrual, etc.) e a velocidade da fala. Nas crises depressivas tem-se: tristeza, angústia, sensação de vazio, desânimo, irritabilidade, desespero, incapacidade de sentir prazer, cansaço, déficit de concentração, lentificação do raciocínio, memória ruim, falta de vontade, iniciativa e interesse; pensamentos negativos, pessimismo, ideias de culpa, fracasso, inutilidade, baixa auto-estima, ideias de suicídio (e verdadeiros suicídios), perda do apetite, insônia, dores pelo corpo, alterações menstruais, etc. Nas depressões graves podem ocorrer alucinações7 e delírios.

Nas manias ocorre: exaltação do humor, alegria exagerada, irritabilidade, agitação, inquietação física e mental, tendência a começar muitas coisas e não conseguir terminar, pensamentos acelerados, atribuição a si mesmo de poderes de influência e grandeza, otimismo e autoconfiança excessivos, aumento exagerado e injustificado dos gastos, distraibilidade fácil, desinibição, comportamento inadequado e provocativo, agressividade física e verbal, erotização aumentada, redução da necessidade de sono. Nos estados maníacos graves podem ocorrer delírios e alucinações7. Nas pessoas predispostas, dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas, etc. podem contribuir para o desencadeamento tanto das depressões, quanto das manias.

Em quem incide o transtorno bipolar do humor?

O transtorno bipolar do humor atinge 1 a 2% da população e incide igualmente em homens e mulheres, geralmente, entre os 15 e 30 anos de idade. Quando um dos pais apresenta transtorno bipolar, existe de 25 a 50% de chance de o filho também apresentar. Os estudos de gêmeos têm mostrado que a taxa de concordância em monozigóticos é de 33 a 90% e a de dizigóticos de cerca de 5 a 25%.

Quais as causas do transtorno bipolar do humor?

As causas específicas do transtorno bipolar do humor não são conhecidas, mas há uma constelação de fatores que interferem sobre ela:

  • Fatores biológicos: distúrbio dos neurotransmissores noradrenérgico, seratonérgico e dopaminérgico. Além destes, outros neurotransmissores e hormônios do eixo hipotálamo8-pituitária-tireoide9 também participam.
  • Fatores genéticos: o transtorno bipolar do humor é uma das anormalidades psicológicas mais hereditárias. Contudo, quando maior a distância de parentesco, menor a possibilidade de ter um transtorno bipolar e vice-versa.
  • Fatores psicossociais: os acontecimentos vitais, tais como dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas, etc. podem contribuir para o desencadeamento da doença.

Como deve ser tratado o transtorno bipolar do humor?

Os quadros de transtorno bipolar do humor devem ser sempre acompanhados por um médico psiquiatra e ter apoio psicológico para os pacientes.

Os quadros agudos recomendam a interrupção imediata dos sintomas2 através dos psicofármacos e, muitas vezes, a internação hospitalar. A depressão aguda deve ser tratada com antidepressivos. A mania pode ser controlada com carbonato de lítio, ácido valproico, carbamazepina, lomotrigina ou topiramato. O ETC (eletrochoque) é útil nos pacientes não responsivos à medicação e que apresentem alto risco de suicídio ou que, por qualquer razão, não possam receber a medicação. O uso dele ficou limitado com o surgimento dos psicofármacos, mas sabe-se que 80% dos pacientes mostram melhora substancial com ele.

A psicoterapia cognitiva10 pode contribuir para a adesão do tratamento, tornando-se um valioso complemento do tratamento farmacológico. Ademais, como o transtorno bipolar envolve também aspectos psicológicos e sociais, a psicoterapia pode ser benéfica.

Como evolui o transtorno bipolar do humor?

O curso do transtorno bipolar do humor é variável. O primeiro episódio maníaco habitualmente ocorre aos 20 anos, mas pode começar antes ou após os 40 anos de idade. A aderência ao tratamento é fundamental para o controle da enfermidade. Bastam alguns dias de interrupção da medicação ou diminuição para que o paciente apresente exacerbação de sintomas2 e novas de crises.

Uma relação médico-paciente que esclareça dúvidas, e o ato de solicitar ajuda durante as crises e discutir os fatores estressantes ajudam no melhor prognóstico11. Hoje em dia há medicações que visam prevenir a ocorrência de novas crises ou torná-las mais brandas.

ABCMED, 2011. Transtorno bipolar do humor. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/226225/transtorno-bipolar-do-humor.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Psicose: Grupo de doenças psiquiátricas caracterizadas pela incapacidade de avaliar corretamente a realidade. A pessoa psicótica reestrutura sua concepção de realidade em torno de uma idéia delirante, sem ter consciência de sua doença.
2 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
4 Olhos:
5 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
6 Peristaltismo: Conjunto das contrações musculares dos órgãos ocos, provocando o avanço de seu conteúdo; movimento peristáltico, peristalse.
7 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
8 Hipotálamo: Parte ventral do diencéfalo extendendo-se da região do quiasma óptico à borda caudal dos corpos mamilares, formando as paredes lateral e inferior do terceiro ventrículo.
9 Tireoide: Glândula endócrina altamente vascularizada, constituída por dois lobos (um em cada lado da TRAQUÉIA) unidos por um feixe de tecido delgado. Secreta os HORMÔNIOS TIREOIDIANOS (produzidos pelas células foliculares) e CALCITONINA (produzida pelas células para-foliculares), que regulam o metabolismo e o nível de CÁLCIO no sangue, respectivamente.
10 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
11 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
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Comentários

25/07/2011 - Comentário feito por Maria
Re: Transtorno bipolar do humor
Impressionante, mas... muito interessante, é muito complicado identificar estes trantornos mentais e principalmente distinguir um do outro. É também muitodificil saber como agir diante do paciente. Porém com estas informações se torna menos misterio

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