Circulação extracorpórea - entendendo como ela funciona e quando deve ser usada
O que é circulação1 extracorpórea?
A circulação1 extracorpórea é um procedimento que consiste na substituição temporária do coração2 e pulmões3 por uma máquina chamada “pulmão-coração2 artificial”, a qual passa então a exercer provisoriamente as funções daqueles órgãos, que ficam inoperantes durante complexas cirurgias cardíacas, por exemplo. Atualmente, ela é utilizada em mais de 80% das cirurgias cardíacas, podendo também ser empregada em cirurgias intracardíacas ou transplantes de órgãos.
O surgimento da circulação1 extracorpórea foi um grande avanço da medicina, pois permitiu a manipulação direta do coração2, possibilitando a cura de várias patologias cardíacas, até então consideradas incuráveis. Os primeiros ensaios sobre a circulação1 extracorpórea foram feitos por Gibbon, em Boston, a partir de 1939, mas teve um grande avanço na década de 50, graças a acentuados aprimoramentos científicos e tecnológicos em relação à utilização dos oxigenadores artificiais, das bombas de fluxo, do manuseio de heparina e do aprimoramento da hemostasia4.
Leia sobre "Transplante de órgãos", "Hemostasia4", "Coagulação5 sanguínea" e "Anticoagulantes6".
Como se processa a circulação1 extracorpórea?
Basicamente, a circulação1 extracorpórea é uma técnica que visa substituir o trabalho do coração2 e dos pulmões3 por uma máquina externa ao corpo. Ela é utilizada para desviar para um dispositivo mecânico fora do corpo o sangue7 não oxigenado do paciente e devolver a ele sangue7 reoxigenado para a sua circulação1. A bomba oxigenadora cumpre quatro finalidades: (1) ao desviar a circulação1 do coração2 e dos pulmões3, proporciona ao cirurgião um campo cirúrgico sem sangue7 para ser manipulado; (2) realiza as trocas gasosas que deveriam ser feitas pelo sistema cardiopulmonar do paciente; (3) filtra, reaquece ou resfria o sangue7, conforme o cirurgião deseje; (4) circula o sangue7 filtrado e oxigenado de volta para o sistema arterial8.
Antes de iniciar a circulação1 extracorpórea, o paciente necessita receber alguma forma de anticoagulação, por meio da administração intravenosa de heparina, para evitar a cascata da coagulação5 que se seguiria ao contato sanguíneo com tubos e circuitos por onde o sangue7 deverá passar a circular.
Para o procedimento da circulação1 extracorpórea, a máquina tem de ser abastecida com três a quatro litros de solução fisiológica9 cristaloide. Após a abertura do tórax10 do paciente, o cirurgião introduz cânulas no átrio direito11, nos ventrículos e nas veias12 cavas inferior e superior que passam a fazer o desvio do sangue7 para dentro da bomba oxigenadora. Na máquina, o trocador de calor reaquece ou resfria o sangue7, conforme necessário. Em seguida, um oxigenador remove o dióxido de carbono do sangue7 e adiciona oxigênio. Após isso, o sangue7 passa por um filtro que remove as bolhas de ar e outros êmbolos antes de retornar para o corpo, através da aorta13.
Por que fazer a circulação1 extracorpórea?
Idealmente, para substituir as funções do coração2 e pulmões3, a circulação1 extracorpórea deve atingir vários objetivos, com riscos mínimos e pequenas interferências na fisiologia14 normal. O principal objetivo da circulação1 extracorpórea é manter a perfusão sistêmica com transporte adequado de oxigênio e eliminação de dióxido de carbono, preservando a homeostase, enquanto o coração2 e os pulmões3 não estão exercendo essas funções.
A possibilidade de contornar o sangue7 fora do coração2 e dos pulmões3, bombeando o sangue7 oxigenado do sistema venoso15 diretamente para o sistema arterial8, permitiu todos os tipos de cirurgia cardíaca. A circulação1 extracorpórea também permitiu abordagens cirúrgicas para doenças complexas, como correção de aneurismas da aorta torácica16, ressecção de carcinoma17 de células18 renais, tratamento de aneurismas neurobasilares, transplante de pulmão19 e trombo20-endoarterectomia de artérias21 pulmonares.
Outros usos da circulação1 extracorpórea incluem o bypass venoso no transplante hepático, na insuficiência respiratória22 aguda como parte de uma “estratégia protetora pulmonar”, na hipertensão23 pulmonar aguda do recém-nascido, em pacientes com angioplastia24 de alto risco e assistência ventricular.
Saiba mais sobre "Tipos de câncer25 dos rins26", "Hipertensão23 pulmonar", "Transplante hepático" e "Insuficiência respiratória22".
Quais são as complicações possíveis da circulação1 extracorpórea?
Uma das complicações mais frequentes da circulação1 extracorpórea é o desenvolvimento de uma inflamação27 sistêmica, na qual o corpo responde com mecanismos para combater uma infecção28. Isso acontece porque o sangue7 entra em contato com superfícies não naturais dentro da máquina, o que acaba destruindo várias das células18 do sangue7 e provocando a resposta inflamatória no organismo.
Além disso, devido às alterações na velocidade e temperatura que o sangue7 experimenta, aumenta o risco de formação de coágulos com suas possíveis graves consequências (embolias pulmonares e acidente vascular cerebral29, sobretudo). No entanto, como após a cirurgia é preciso ficar internado na unidade de terapia intensiva30 (UTI), normalmente todos os sinais vitais31 são monitorados para evitar estas complicações.
Veja também sobre "Embolia32 pulmonar" e "Acidentes vasculares33 cerebrais".
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.