Diabetes na adolescência
As relações entre o diabetes1 e a adolescência
A maior incidência2 do diabetes1 tipo 1 ocorre entre 10 e 14 anos. Dessa forma, contando-se mais aqueles casos que se iniciam em idade menor, grande parte do tratamento se passa ainda durante a adolescência. Este é um período de grandes transformações tanto fisiológicas3 quanto comportamentais e isso, é claro, se reflete na forma como os adolescentes administram o tratamento do diabetes1.
A adolescência é também o estágio do desenvolvimento em que o gerenciamento dos cuidados do diabetes1 começa a ser transferido dos pais para o próprio indivíduo, o que, habitualmente, ocorre de forma gradual.
É importante termos em mente também que o aumento da incidência2 do diabetes mellitus4 tipo 2 (DM2) entre crianças e adolescentes vem sendo observado em várias regiões do mundo. E que o aumento na prevalência5 da obesidade6 na adolescência nos últimos anos explicaria, em grande parte, o avanço do DM2 nas populações jovens.
Normalmente, os adolescentes querem "se encaixar" no grupo de amigos, de modo que ser diferente dos seus pares e ter de contar com várias restrições pode ser estressante. Eles podem, então, tomar a atitude de “negar” a doença, e o pequeno paciente que até aqui costumava seguir rigorosamente seu plano de gerenciamento do diabetes1 agora pode se recusar a fazê-lo.
Ele pode também assumir um comportamento mais “agressivo” quanto ao diabetes1 e se revoltar contra ele, fazendo dele um inimigo. Pode, ainda, colocar novos objetivos como prioritários, à frente do tratamento. Assim pode, por exemplo, “pular” injeções de insulina7 em virtude do desejo maior de perder peso.
Saiba mais sobre "Diabetes1", "Insulina7", "Hipoglicemia8" e "Obesidade6".
Em virtude da psicologia pouco cuidadosa do adolescente, o controle do açúcar9 no sangue10, necessário no manejo correto do diabetes1, às vezes se torna especialmente difícil durante a adolescência. Além disso, essa dificuldade ainda é aumentada porque os hormônios do crescimento, produzidos nessa etapa, também podem atuar como um agente anti-insulina7, complicador desse controle. Os níveis de açúcar9 no sangue10 podem variar de muito baixos a muito altos sem razão aparente, o que ajuda a tornar mais difícil o controle.
Além disso, a adolescência é um período em que o indivíduo necessita de muita espontaneidade para agir, inclusive para gerenciar o próprio corpo e o próprio tratamento. Os adolescentes desejam ser livres para se encarregarem de suas próprias vidas e criarem suas próprias identidades. Olhando positivamente, pode ser que, em razão disso, o adolescente entenda que ter controle sobre seu diabetes1 faça parte dessa necessidade de ter controle sobre a própria vida.
Aspectos fisiopatológicos da doença e suas implicações na adolescência
O adolescente passa a depender cada vez mais da sua própria capacidade de controlar a glicemia11. Nesse período, o tempo passado longe dos pais, que antes faziam esse controle, seja na escola ou com os colegas, é progressivamente maior. Muitas alterações biológicas e psíquicas no indivíduo na transição da infância à vida adulta contribuem para maiores dificuldades do controle metabólico. Os adolescentes, de uma maneira geral, têm mais resistência à insulina12 do que os adultos, além de um aumento na resposta de hormônios contra-regulatórios, o que dificulta a ação dela. Por exemplo, nas adolescentes, até mesmo o ciclo menstrual pode alterar as necessidades de administração de insulina7.
O desligamento da autoridade dos pais, uma das tarefas psíquicas que o adolescente deve realizar, é, para o paciente diabético, mais árduo do que para os outros indivíduos. Por outro lado, os pais de adolescentes diabéticos muitas vezes são mais relutantes em conceder autonomia aos filhos, o que estabelece algum nível de conflito. E, por outro lado, ainda, os adolescentes diabéticos também estão sujeitos a preconceitos por parte dos colegas, namorados(as) e outras pessoas, o que dificulta o ajustamento social deles.
Leia sobre "Comportamento da glicemia11", "Glicemia de jejum13", "Hemoglobina glicosilada14" e "Curva glicêmica15".
Como ajudar na condução de um adolescente diabético
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, é considerado adolescente o indivíduo entre 12 e 18 anos de idade. Com relação ao atendimento do adolescente diabético (ou não), a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda:
- O médico deve reconhecer o adolescente como indivíduo progressivamente capaz;
- O médico deve respeitar a individualidade de cada adolescente, mantendo uma postura de acolhimento, centrada em valores de saúde16 e bem-estar do jovem;
- O adolescente é capaz de avaliar seu problema e de solucioná-lo por seus próprios meios;
- O adolescente tem o direito de ser atendido sem a presença dos pais ou responsáveis no ambiente da consulta, garantindo-se a ele a confidencialidade;
- A participação da família no processo de atendimento do adolescente é altamente desejável. Os limites desse envolvimento devem ficar claros para a família e para o jovem, mas o adolescente deve ser incentivado a envolver a família no acompanhamento dos seus problemas;
- Em todas as situações em que se caracterizar a necessidade da quebra do sigilo médico, principalmente junto aos pais, o adolescente deve ser informado e devem ser justificados os motivos para essa atitude.
Veja também sobre "Cetoacidose diabética17" e "Prevenção do diabetes1 e suas complicações".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Stanford Children’s Health, da Sociedade Brasileira de Diabetes, do Núcleo de Saúde do Adolescente - UERJ e da Revista Médica de Minas Gerais.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.