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Otosclerose ou otospongiose: o que é isso?

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Como escutamos?

Os sons ambientes se propagam através da vibração do ar. Esta vibração, captada pelo pavilhão auditivo e conduzida através do canal auditivo externo, atinge a membrana do tímpano1, fazendo-a vibrar. Aderido a essa membrana encontra-se fixado um osso chamado martelo2, que se articula com outro osso, chamado bigorna, que por sua vez articula-se à frente com o estribo.

Essa cadeia de ossículos se movimenta com a vibração do tímpano1 e transmite essa vibração a uma pequena membrana que oclui o canal da cóclea, fazendo vibrar também o líquido que preenche essa estrutura em espiral e assim gera os estímulos que são captados pelas terminações do nervo auditivo, que os conduz ao cérebro3. Chegados esses estímulos ao córtex auditivo, escutamos.

O que é otosclerose4?

Otosclerose4 (do grego, otós = ouvido + sklerós = endurecimento) ou otospongiose é uma enfermidade que afeta a cadeia de ossículos do ouvido médio5 (martelo2, bigorna e estribo), causando fixação deles e consequente hipoacusia6 (déficit de audição).

Quais são as causas da otosclerose4?

A otosclerose4 é uma enfermidade genética autossômica7 dominante, com penetração incompleta. Fatores hormonais parecem ter algum papel na causa da otosclerose4, já que ela algumas vezes acelera na gravidez8.

Qual é a fisiopatologia9 da otosclerose4?

A otosclerose4 é uma osteodistrofia10 limitada ao osso temporal, caracterizada pela aparição de focos de reabsorção e neoformação11 óssea. Descreve-se a aparição microscópica de um foco otosclerótico12 com aparência esponjosa. De início, a enfermidade permanece leve e limitada à porção anterior da platina do estribo, mas quando esses focos afetam a base do estribo produzem surdez por imobilização da articulação13 estapédio14-vestibular15.

A otosclerose4 inclui também a liberação de metabólitos16 tóxicos no ouvido médio5, diminuição da irrigação sanguínea e extensão do foco otosclerótico12 ao ouvido interno17. O local mais comumente afetado com otosclerose4 é a parte anterior da janela oval18. A janela redonda19 é afetada em aproximadamente 30 a 50% dos casos. Histologicamente, a otosclerose4 se desenvolve em duas fases sucessivas: uma primeira esponjosa e uma mais tardia, esclerótica20.

Quais são os principais sinais21 e sintomas22 da otosclerose4?

Os estudos histológicos23 não mostram diferença entre homens e mulheres, mas a hipoacusia6 que denuncia a enfermidade é mais frequente nas mulheres (2:1). Mais comumente o paciente é uma mulher na segunda ou terceira décadas da vida com uma hipoacusia6 de condução bilateral, assimétrica, que se desenvolve progressiva e lentamente ou um acúfeno24 (perceber um som que não existe no ambiente, um zumbido).

Dois terços dos pacientes relatam uma historia familiar de hipoacusia6. Em geral, os pacientes falam com voz baixa, porque devido à natureza condutiva da hipoacusia6 eles percebem sua voz como mais alta do que ela é na realidade. A surdez piora com o tempo e quando o paciente atinge uma idade acima dos 50 anos se agrava muito e pode chegar a ser total.

Como o médico diagnostica a otosclerose4?

O diagnóstico25 da otosclerose4 deve partir de uma boa historia clínica que tome em conta a idade do paciente, a progressão da hipoacusia6 e os sintomas22 associados, bem como a história de infecções26 do ouvido e cirurgias otológicas prévias, porque um bom número dos pacientes com otosclerose4 apresenta esses antecedentes.

Como o médico trata a otosclerose4?

O tratamento pode ser cirúrgico ou não cirúrgico. Os tratamentos não cirúrgicos devem ser adotados em primeiro lugar e tanto podem ser o uso de um auxiliar (aparelho) auditivo como de certas medicações. Os remédios podem fazer a doença estacionar ou evoluir mais lentamente, mas não fazem a audição melhorar e pedem, por isso, um aparelho auditivo. A cirurgia, que pode ser feita com anestesia27 geral ou local e sedação28, é chamada estapedectomia e consiste na troca do osso estribo por uma prótese29 artificial de plástico ou metal.

Como prevenir a otosclerose4?

Sendo uma doença genética, não há como prevenir a otosclerose4. Pode-se fazer um aconselhamento genético para estabelecer a possibilidade de ocorrência desta patologia30.

Quais são as complicações possíveis da otosclerose4?

Uma das complicações da otosclerose4 é a hipoacusia6. Quando feita a cirurgia, pode restar uma tonteira, distúrbios de paladar31, perda parcial da audição, zumbido, perfuração no tímpano1, fraqueza na face32, mas sendo quase todas as complicações reversíveis.

ABCMED, 2015. Otosclerose ou otospongiose: o que é isso?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/813384/otosclerose-ou-otospongiose-o-que-e-isso.htm>. Acesso em: 20 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Tímpano: Espaço e estruturas internas à MEMBRANA TIMPÂNICA e externas à orelha interna (LABIRINTO). Entre os componentes principais estão os OSSÍCULOS DA AUDIÇÃO e a TUBA AUDITIVA, que conecta a cavidade da orelha média (cavidade timpânica) à parte superior da garganta.
2 Martelo: O maior dos ossículos da audição, o qual se encontra fixado à membrana do tímpano (MEMBRANA TIMPÂNICA). Sua cabeça, em formato de martelo, articula-se com a BIGORNA.
3 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
4 Otosclerose: Crescimento ósseo anormal no ouvido médio que causa perda auditiva. É um distúrbio hereditário que envolve o crescimento de um osso esponjoso no ouvido médio. Este crescimento impede a vibração do estribo em reposta às ondas sonoras, causando perda auditiva progressiva do tipo condutiva. É a causa mais freqüente de perda auditiva do ouvido médio em adultos jovens, é mais freqüente em mulheres entre 15 e 30 anos.
5 Ouvido médio: Atualmente denominado orelha média, é constituído pela membrana timpânica, cavidade timpânica, células mastoides, antro mastoide e tuba auditiva. Separa-se da orelha externa através da membrana timpânica e se comunica com a orelha interna através das janelas oval e redonda.
6 Hipoacusia: Diminuição da capacidade auditiva. Surdez. É produzida por uma alteração da condução do estímulo auditivo ou uma perda da função do ouvido interno ou dos nervos correspondentes.
7 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
8 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
9 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
10 Osteodistrofia: Deformação, distrofia dos ossos.
11 Neoformação: 1. Em biologia, é a formação de tecido novo que restaura ou substitui o tecido lesado por feridas ou traumatismos. 2. Em oncologia, é um termo usado usualmente para designar o processo de regeneração, ou uma parte ou um tecido regenerado. 3. Neoplasia.
12 Otosclerótico: É o que sofreu otosclerose, ou seja, sofreu uma formação anormal de osso esponjoso perto do estribo e da janela do vestíbulo da orelha, provocando perda progressiva da audição, sem que haja doença na tuba auditiva ou na membrana timpânica.
13 Articulação: 1. Ponto de contato, de junção de duas partes do corpo ou de dois ou mais ossos. 2. Ponto de conexão entre dois órgãos ou segmentos de um mesmo órgão ou estrutura, que geralmente dá flexibilidade e facilita a separação das partes. 3. Ato ou efeito de articular-se. 4. Conjunto dos movimentos dos órgãos fonadores (articuladores) para a produção dos sons da linguagem.
14 Estapédio: Músculo minúsculo que surge na parede posterior da CAVIDADE TIMPÂNICA na ORELHA MÉDIA, com seu tendão inserido no colo do ESTRIBO. O estapédio puxa o estribo posteriormente e controla seu movimento.
15 Vestibular: 1. O sistema vestibular é um dos sistemas que participam do equilíbrio do corpo. Ele contribui para três funções principais: controle do equilíbrio, orientação espacial e estabilização da imagem. Sintomas vestibulares são aqueles que mostram alterações neste sistema. 2. Exame que aprova e classifica os estudantes a serem admitidos nos cursos superiores.
16 Metabólitos: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
17 Ouvido interno: Atualmente denominado orelha interna está localizado na porção petrosa do osso temporal, recebe terminações nervosas do nervo coclear e vestibular, sendo parte essencial dos órgãos da audição e equilíbrio. É constituído de três estruturas: labirinto membranoso (endolinfático), labirinto ósseo (perilinfático) e cápsula ótica.
18 Janela oval: O ouvido interno é composto pela cóclea e pelo aparato vestibular. O último osso da cadeia ossicular, o estribo, está acoplado a uma fina membrana chamada janela oval. A janela oval é uma entrada para a orelha interna, que contém a cóclea (órgão da audição). Quando o osso estribo move, a janela oval move junto com ele.
19 Janela redonda: Na parte interna da cavidade do tímpano, existem as janelas oval e redonda, que são as aberturas da cóclea (caracol). A janela redonda é fechada por uma membrana e a oval é fechada pelo “pé“ do estribo. A função da janela redonda é ampliar o som.
20 Esclerótica: A túnica fibrosa, branca e opaca, mais externa do globo ocular, revestindo-o inteiramente com exceção do segmento revestido anteriormente pela córnea. É essencialmente avascular, porém contém aberturas para a passagem de vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Recebe os tendões de inserção dos músculos extraoculares e no nível da junção esclerocorneal contém o seio venoso da esclera.
21 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
22 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
23 Histológicos: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
24 Acúfeno: Qualquer sensação auditiva não provocada por estímulo exterior ao organismo; acufênio, zumbido.
25 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
26 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
27 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
28 Sedação: 1. Ato ou efeito de sedar. 2. Aplicação de sedativo visando aliviar sensação física, por exemplo, de dor. 3. Diminuição de irritabilidade, de nervosismo, como efeito de sedativo. 4. Moderação de hiperatividade orgânica.
29 Prótese: Elemento artificial implantado para substituir a função de um órgão alterado. Existem próteses de quadril, de rótula, próteses dentárias, etc.
30 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
31 Paladar: Paladar ou sabor. Em fisiologia, é a função sensorial que permite a percepção dos sabores pela língua e sua transmissão, através do nervo gustativo ao cérebro, onde são recebidos e analisados.
32 Face: Parte anterior da cabeça que inclui a pele, os músculos e as estruturas da fronte, olhos, nariz, boca, bochechas e mandíbula.
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