A importância da água para a saúde
Considerações sobre a importância da água para a vida
A água é a fonte da vida. Seja no nível das espécies ou no do indivíduo, a vida começa na água. Ao nascermos, 80% do nosso corpo é constituído de água e no cérebro1 essa proporção pode chegar a 90%! Num certo sentido, o envelhecimento parece ser um processo de “secagem” do organismo porque ao morrermos com idade avançada só 40% dele é água. A água faz mais falta ao organismo que o alimento. Um indivíduo pode sobreviver sem comer por um tempo muito maior do que sem beber água.
Funções orgânicas da água
No organismo, a água é solvente para várias substâncias, principalmente para os sais minerais. Por isso, é mais apropriado falar-se em equilíbrio hidroeletrolítico2 que simplesmente em equilíbrio hídrico, já que as alterações nas porcentagens da água são correlativas às alterações das concentrações minerais. A circulação3, a digestão4, a absorção e a excreção de várias substâncias são reguladas pela água. Em constante movimento de absorção e eliminação, ela hidrata, lubrifica estruturas orgânicas, regula a temperatura corporal, faz o transporte de nutrientes, elimina toxinas5 e repõe energias. Como a água é essencial à vida, quase todas as enfermidades se beneficiam de uma boa hidratação e sofrem os efeitos malévolos de uma hidratação deficiente.
As funções terapêuticas da água
Descontadas as crenças místicas sem bases científicas no poder da “cura pelas águas”, a água é um grande remédio. Antes do advento da síntese em grande escala das medicações, era comum o médico aconselhar a certos pacientes que passassem uma temporada numa “estação de águas”, como recurso terapêutico para muitas enfermidades. Na verdade, as fontes de água desses locais continham em solução sais minerais que atuavam favoravelmente em determinadas situações mórbidas. Ainda hoje em dia as soluções de sais minerais em água, os soros fisiológicos, são as medicações mais prescritas nos hospitais. Além disso, os balneários com seus banhos coletivos são uma prática que vem desde os romanos e que, de certa forma, está substituída ainda hoje pelas piscinas, banheiras e ofurôs. De fato, o banho tem várias aplicações terapêuticas e além de criar um estado de ânimo agradável ajuda a regular a temperatura corporal e tem um efeito relaxante muscular. Nos cálculos renais a água ajuda a diurese6 e facilita a eliminação deles; nas afecções7 inflamatórias broncopulmonares a água fluidifica o catarro e ajuda a expectoração8; em muitas intoxicações a água acelera o processo de eliminação do tóxico. A imersão na água, usada na hidroterapia9 e na hidroginástica diminui o peso dos segmentos corporais e os atritos articulares dos exercícios, além de melhorar o equilíbrio. Tem-se ainda de considerar o fascínio exercido pela natação, sobretudo nas crianças. Subsidiariamente, a água contribui com a higiene corporal, tão importante para a manutenção da saúde10.
Absorção e eliminação da água
O balanço hidroeletrolítico2 depende da captação e excreção de água e sais minerais. Toda água contida no organismo vem de fora e tem de ser ingerida ou administrada por via venosa. A água ingerida é fácil e quase totalmente absorvida e comendo qualquer alimento, principalmente frutas, chás, sucos, refrigerantes e sopas, o indivíduo está também ingerindo água, contida neles em grandes quantidades. Os principais eliminadores de água são os rins11, através da urina12, a pele13 através do suor e os pulmões14, através da respiração. A saliva e as lágrimas também atuam nesse processo. As crianças, sobretudo as recém-nascidas, são mais sensíveis à desidratação15, em virtude de terem um menor peso corporal e de terem uma maior percentagem de água em seu organismo. Pessoas idosas também são mais susceptíveis à desidratação15 porque têm menos sensibilidade à sede e retêm menos água que os jovens.
Causas e consequências da falta ou do excesso de água no organismo
Chama-se desidratação15 à situação em que o organismo retém uma quantidade de água menor do que seria normal. Ela pode ser classificada como leve, moderada ou grave. As causas mais comuns da desidratação15 são a privação ou as perdas excessivas de água, como acontece se o indivíduo urina12 em excesso, no diabetes16 não controlado; nos indivíduos que tomam diuréticos17 inadequadamente; nas diarreias ou vômitos18 abundantes; nas grandes queimaduras e no excesso de suor quando o indivíduo é submetido a altas temperaturas ambientais ou a surtos febris intensos.
O excesso de água no organismo é chamado de intoxicação pela água ou hiper-hidratação. A hiper-hidratação ocorre quando a ingestão de água é maior que a sua eliminação, o que geralmente acontece por uma eliminação deficiente, uma vez que a quantidade de água que um indivíduo normal bebe por dia dificilmente excede a sua capacidade de excreção. Este excesso de água no organismo provoca uma diluição excessiva do sódio e de outras substâncias presentes na corrente sanguínea. Esse déficit de eliminação de água e sais minerais em geral se deve a uma queda de filtração renal19 e da fabricação da urina12, como acontece nas doenças renais, cardíacas ou hepáticas20. O órgão que primeiro sofre os efeitos da hiper-hidratação é o cérebro1 e se ela se instala repentinamente o paciente pode manifestar confusão mental, convulsões e coma21.
Como tratar a desidratação15 e a hiper-hidratação?
A desidratação15 leve pode ser corrigida por uma medida simples: beber mais água ou, em crianças muito pequenas, mais leite materno. Beber água regularmente, mesmo sem sentir sede, é um hábito saudável. Afinal, a sede só se sente quando a água já está faltando! Mas por vezes, em casos mais graves, a água e os sais minerais têm de ser infundidos sob a forma de soro22, por via endovenosa, geralmente em unidades de saúde10. Se a desidratação15 for apenas moderada esse soro22 pode ser fabricado e administrado oralmente, em casa.
Embora o tratamento da hiper-hidratação dependa em parte da sua causa, em geral deve-se restringir o consumo de líquidos. Os médicos costumam prescrever diuréticos17, mas eles são mais úteis no tratamento do excesso de volume sanguíneo circulante que na hiper-hidratação propriamente. Na hiper-hidratação a água em excesso se acumula no interior das células23 e não produz acúmulo de líquido, sendo pouco atingida pelos diuréticos17.
Quais são os principais sinais24 e sintomas25 da falta ou do excesso de água no organismo?
Uma pessoa desidratada mostrará baixa pressão sanguínea, aumento da frequência cardíaca, pele13 pegajosa, urina12 muito concentrada, mucosas26 ressecadas, olhos27 afundados e ressequidos em virtude da diminuição das lágrimas, diminuição da sudorese28 e, nos bebês29, a moleira afundada. Outros sintomas25 podem ser dores de cabeça30, sonolência, tonturas31, fraqueza, cansaço, confusão mental e choque32 e, por fim, perda de consciência, convulsões, coma21 e morte. Mesmo uma desidratação15 imperceptível pode gerar problemas de cólicas33, flatulência, gases, prisão de ventre e outros sintomas25.
Os sintomas25 da hiper-hidratação podem ser confundidos com os sintomas25 da desidratação15 e são letargia34, confusão, agitação e convulsões.
O que mostra o laboratório?
Na desidratação15, os exames de laboratório mostrarão níveis sanguíneos de sódio, potássio e bicarbonato aumentados, elevação da densidade urinária35 específica, do nitrogênio ureico sanguíneo e da creatinina36. O hemograma mostrará sinais24 de concentração do sangue37. Se houver suspeita de diabetes16, deve-se proceder a dosagem de glicose38 (glicemia39). Na hiper-hidratação, ao contrário, ocorrerá uma diluição de todos esses elementos.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.