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Paniculite - conceito, clínica, diagnóstico e tratamento

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O que é paniculite?

A paniculite (ou adiposite) é uma doença rara caracterizada por inflamação1 do tecido subcutâneo2, a camada de gordura3 logo abaixo da pele4. Essa camada é constituída por glândulas5 de gorduras separadas por septos, numa estrutura semelhante a “favos de mel”. A doença consiste de múltiplos nódulos subcutâneos macios que podem se tornar progressivamente mais escuros e endurecidos.

Quais são as causas da paniculite?

A etiologia6 da paniculite ainda é desconhecida de forma cabal, tendo sido sugeridas, entre outras causas, patologia7 autoimune8, trauma, exercícios vigorosos, injeções na veia, criocirurgias ou neoplasias9. Algumas causas de paniculite são simples e outras são manifestações de doença grave. O eritema nodoso10, por exemplo, uma apresentação comum de paniculite, pode ser causado por infecções11 como hanseníase (lepra12), tuberculose13, reação a medicação (anticoncepcionais) ou até mesmo uma forma idiopática14 (sem razão conhecida) de inflamação1.

Leia mais sobre "Hanseníase", "Crioterapia15" e "Tuberculose13".

Quais são as principais características clínicas da paniculite?

A sistematização de tipos clínicos de paniculite é difícil, pois apresentações clínicas similares podem guardar características histopatológicas distintas e apresentações clínicas diferentes podem ter achados histopatológicos similares. Assim, não há uma classificação universalmente aceita de paniculite, mas muitos patologistas dividem a paniculite em (1) septais e (2) lobulares, conforme a inflamação1 esteja confinada aos septos ou envolvendo o lóbulo de gordura3.

A maioria dos casos acontece na meia-idade e em idosos. A infecção16 envolve frequentemente os gânglios linfáticos17, a medula óssea18 e outros tecidos do sistema reticuloendotelial. Conforme o local em que os nódulos predominem ou a enfermidade associada a ela, podemos ter, por exemplo, paniculite pancreática, paniculite mesentérica19, paniculite lúpica, paniculite por deficiência de alfa 1antitripsina (AAT), etc.

Formas de apresentação da paniculite

A paniculite se apresenta na maioria das vezes como nódulos vermelhos na pele4, que podem aparecer em qualquer parte do corpo e que podem se romper e liberar uma substância oleosa. Os nódulos de paniculite são mais comuns na coxas20, glúteos21, panturrilhas22 e áreas sujeitas a atrito e podem se transformar em úlceras23 de pele4, com partes dolorosas e necrosadas, situação em que a condição é então chamada “paniculite necrotizante”.

Em pacientes com deficiência de AAT, a inflamação1 e o aparecimento de paniculite tem clara semelhança com o desenvolvimento do enfisema24. Em ambos os órgãos acometidos (pele4 e o pulmão25) existe uma deficiência de AAT, que normalmente controla a ação das proteases, enzimas que destroem as proteínas26 e mantêm o funcionamento normal dos órgãos. Quando existe um mal funcionamento ou deficiência de AAT, este mecanismo de controle não funciona e as proteases podem causar danos a estruturas da pele4 ou dos pulmões27.

Como o médico diagnostica a paniculite?

O diagnóstico28 de paniculite nem sempre é fácil, tanto para o clínico como para o patologista29, uma vez que os achados clínicos e histopatológicos nas várias doenças inflamatórias do tecido adiposo30 possuem características que se sobrepõem. Além de uma boa história clínica e exame físico, é frequente a necessidade de uma biópsia31 da lesão32. Ainda assim, pode não ser possível detectar uma etiologia6 específica da inflamação1, pois, como foi dito, tipos clínicos similares podem guardar características histopatológicas distintas e apresentações clínicas diferentes podem ter achados histopatológicos similares.

Como o médico trata a paniculite?

Vários tratamentos têm sido usados na paniculite, incluindo corticoides, antibióticos, troca total do sangue33 e terapia de reposição de alfa 1 proteína. Infelizmente, nenhum tratamento para paniculite tem sido inteiramente efetivo.

Veja também sobre "Corticosteroides" e "Anticoncepcionais".

 

ABCMED, 2018. Paniculite - conceito, clínica, diagnóstico e tratamento. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1330283/paniculite-conceito-clinica-diagnostico-e-tratamento.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
2 Tecido Subcutâneo: Tecido conectivo frouxo (localizado sob a DERME), que liga a PELE fracamente aos tecidos subjacentes. Pode conter uma camada (pad) de ADIPÓCITOS, que varia em número e tamanho, conforme a área do corpo e o estado nutricional, respectivamente.
3 Gordura: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Os alimentos que fornecem gordura são: manteiga, margarina, óleos, nozes, carnes vermelhas, peixes, frango e alguns derivados do leite. O excesso de calorias é estocado no organismo na forma de gordura, fornecendo uma reserva de energia ao organismo.
4 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
5 Glândulas: Grupo de células que secreta substâncias. As glândulas endócrinas secretam hormônios e as glândulas exócrinas secretam saliva, enzimas e água.
6 Etiologia: 1. Ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação das causas e origens de um determinado fenômeno. 2. Estudo das causas das doenças.
7 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
8 Autoimune: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
9 Neoplasias: Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas situações pela invasão de órgãos à distância (metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon, pele e pulmões.
10 Eritema nodoso: Erupção eritematosa comumente associada a reações a medicamentos ou infecções e caracterizada por nódulos inflamatórios que são geralmente dolorosos, múltiplos e bilaterais. Esses nódulos são localizados predominantemente nas pernas, podendo também estar nas coxas e antebraços. Eles sofrem alterações de coloração características terminando em áreas tipo equimose temporárias. Regride em 3 a 6 semanas, em média, sem cicatriz ou atrofia.
11 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
12 Lepra: Doença infecto-contagiosa crônica, produzida por uma bactéria chamada Bacilo de Hansen ou Micobacterium leprae, e caracterizada principalmente por alterações da pele e dos nervos periféricos. Dependendo da reação imunológica desenvolvida na pessoa infectada, podem estabelecer-se duas formas da doença, lepra lepromatosa e lepra tuberculóide. No passado, era muito temida, sendo o contato com pessoas portadoras desta doença absolutamente proscrito. Hoje, com o tratamento antibiótico adequado, os portadores desta doença podem fazer parte do convívio social normal, sem representar risco à população, desde que acompanhados por médico e em uso dos medicamentos, que são de uso prolongado.
13 Tuberculose: Doença infecciosa crônica produzida pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis). Produz doença pulmonar, podendo disseminar-se para qualquer outro órgão. Os sintomas de tuberculose pulmonar consistem em febre, tosse, expectoração, hemoptise, acompanhada de perda de peso e queda do estado geral. Em países em desenvolvimento (como o Brasil) aconselha-se a vacinação com uma cepa atenuada desta bactéria (vacina BCG).
14 Idiopática: 1. Relativo a idiopatia; que se forma ou se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas; não associado a outra doença. 2. Peculiar a um indivíduo.
15 Crioterapia: Processo terapêutico baseado em aplicações de gelo, neve carbônica e outros veículos de frio intenso.
16 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
17 Gânglios linfáticos: Estrutura pertencente ao sistema linfático, localizada amplamente em diferentes regiões superficiais e profundas do organismo, cuja função consiste na filtração da linfa, maturação e ativação dos linfócitos, que são elementos importantes da defesa imunológica do organismo.
18 Medula Óssea: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
19 Mesentérica: Relativo ao mesentério, ou seja, na anatomia geral o mesentério é uma dobra do peritônio que une o intestino delgado à parede posterior do abdome.
20 Coxas: É a região situada abaixo da virilha e acima do joelho, onde está localizado o maior osso do corpo humano, o fêmur.
21 Glúteos:
22 Panturrilhas: 1. Proeminência muscular, situada na face posterossuperior da perna, formada especialmente pelos músculos gastrocnêmio e sóleo; sura, barriga da perna. 2. Por extensão de sentido, enchimento usado por baixo das meias, para melhorar a aparência das pernas.
23 Úlceras: Feridas superficiais em tecido cutâneo ou mucoso que podem ocorrer em diversas partes do organismo. Uma afta é, por exemplo, uma úlcera na boca. A úlcera péptica ocorre no estômago ou no duodeno (mais freqüente). Pessoas que sofrem de estresse são mais susceptíveis a úlcera.
24 Enfisema: Doença respiratória caracterizada por destruição das paredes que separam um alvéolo de outro, com conseqüente perda da retração pulmonar normal. É produzida pelo hábito de fumar e, em algumas pessoas, pela deficiência de uma proteína chamada Antitripsina.
25 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
26 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
27 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
28 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
29 Patologista: Estudioso ou especialista em patologia, que é a especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo.
30 Tecido Adiposo: Tecido conjuntivo especializado composto por células gordurosas (ADIPÓCITOS). É o local de armazenamento de GORDURAS, geralmente na forma de TRIGLICERÍDEOS. Em mamíferos, existem dois tipos de tecido adiposo, a GORDURA BRANCA e a GORDURA MARROM. Suas distribuições relativas variam em diferentes espécies sendo que a maioria do tecido adiposo compreende o do tipo branco.
31 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
32 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
33 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
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