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Cuidados necessários ao tomar anti-inflamatórios não esteroides (AINES)

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O que são anti-inflamatórios não esteroides (AINES)?

Os anti-inflamatórios não esteroides (AINES) são substâncias não corticosteroides com ação anti-inflamatória. Os corticosteroides foram as primeiras substâncias que se reconheceu como tendo potente ação anti-inflamatória. No entanto, eles têm importantes e graves efeitos colaterais1. Atualmente, os AINES são uma das classes de medicamentos mais usadas em todo o mundo no tratamento das inflamações2, especialmente nas patologias osteoarticulares. Os AINES também têm alguns efeitos colaterais1 indesejáveis, mas menores e mais contornáveis que os dos corticosteroides.

As principais substâncias não esteroides que funcionam como anti-inflamatórios são diclofenaco, ibuprofeno, naproxeno, nimesulida, indometacina, cetoprofeno, ácido mefenâmico, piroxicam, celecoxibe e etoricoxibe. Todas essas substâncias apresentam mecanismos de ação semelhantes, com pequenas particularidades entre cada uma delas, e todas têm três efeitos básicos: (1) antipirético3 (abaixam a febre4), (2) analgésico5 (reduzem a dor) e (3) anti-inflamatório.

Saiba mais sobre "Corticoides", "Tranquilizantes" e "Anorexígenos6".

Qual é o mecanismo de ação dos anti-inflamatórios não esteroides (AINES)?

Os quadros inflamatórios surgem quando há um aumento de produção de uma substância chamada prostaglandina7, gerada pela ação de uma enzima8 chamada ciclo-oxigenase (COX). Os AINES agem inibindo a ação dessa enzima8. Sem ela, há menor produção de prostaglandinas9 e menores estímulos para ocorrer o processo inflamatório. Como é a presença da prostaglandina7 que estimula o surgimento de inflamação10, dor e febre4, a sua inibição acaba tendo efeito analgésico5, antipirético3 e anti-inflamatório.

Uma complicação é que existe mais de um tipo de prostaglandina7 e de COX e nem toda prostaglandina7 causa inflamação10 ou febre4. A ação dos anti-inflamatórios, além de abortar a inflamação10, pode também originar efeitos colaterais1.

Quais são os efeitos colaterais1 dos anti-inflamatórios e como se proteger deles?

Os anti-inflamatórios AINES são medicamentos seguros quando usados de modo adequado. O problema é que esta é uma classe de fármacos muito usada na automedicação11 e nem sempre com indicações adequadas. Apesar de muito usados e seguros, estão longe de ser isentos de complicações. O seu consumo inadequado por longos períodos pode levar a consequências graves.

Entre os efeitos colaterais1 que devem ser levados em conta antes de tomá-los estão:

Leia sobre "Os perigos da automedicação11".

Em pessoas saudáveis, os anti-inflamatórios AINES não geram maiores problemas, quando usados moderadamente. No entanto, não devem ser tomados sem orientação médica por pessoas idosas, mulheres grávidas, pessoas com insuficiência renal15, cirróticos, hipertensão20 descontrolada, insuficiência cardíaca14, nas pessoas que consomem álcool regularmente, em pessoas medicadas com anticoagulantes21 ou com riscos de hemorragias22 e naquelas com história de úlcera péptica23 ou gastrite24. Nessas pessoas podem ocorrer efeitos secundários graves.

As prostaglandinas9 agem no estômago25 inibindo a produção de ácido clorídrico26 e aumentando a produção do muco que protege a parede do órgão. Como os AINES as inibe, o estômago25 fica mais sujeito à ação do ácido aumentando o risco do surgimento de gastrite24 ou úlceras27 e, por consequência, das hemorragias22 digestivas altas.

As prostaglandinas9 também agem nos rins28 aumentando o fluxo de sangue29. Em pessoas saudáveis, a ação delas é baixa e o uso de AINES por pouco tempo acaba não provocando maiores problemas. Porém, pessoas com problemas renais ou com insuficiência cardíaca14, desidratação30 e cirrose31, dependem muito da ação das prostaglandinas9 para manter os rins28 funcionando bem.

A COX também contribui na estimulação da agregação das plaquetas32, facilitando a coagulação33 do sangue29. Quando os AINES a inibe, reduz a capacidade de coagulação33 do sangue29.

Em razão dos efeitos gástricos:

  • Os AINES devem ser precedidos pelo uso um protetor gástrico tipo omeprazol ou similar.
  • Não tome o anti-inflamatório com o estômago25 vazio.
  • Não use bebidas alcoólicas durante o tratamento.
  • Não misture anti-inflamatórios diferentes no mesmo tratamento porque eles podem potencializar os efeitos colaterais1 uns dos outros.
  • Além disso, também é importante não usar o anti-inflamatório por mais de 10 dias seguidos.
  • Nunca usar anti-inflamatórios sem prescrição e orientação de um médico.
  • Sempre avisar ao seu médico assistente quando estiver usando qualquer tipo de anti-inflamatório.

Devido aos efeitos sobre a coagulação33 do sangue29:

  • Os AINES podem ser perigosos em pacientes com elevado risco de hemorragia34 ou que vão ser submetidos a alguma cirurgia. Em geral, os AINES devem ser suspensos dias antes de qualquer operação.

De todos os AINES, o AAS (ácido acetilsalicílico) é o que exibe maior efeito antiagregante sobre as plaquetas32. Por outro lado, esse efeito colateral35 frequentemente é aproveitado nos pacientes com elevado risco de infarto do miocárdio36 ou acidente vascular cerebral37. Principalmente o AAS costuma ser usado como antiagregante plaquetário. Infelizmente, também com graves efeitos colaterais1.

Veja também sobre "Infarto do miocárdio36", "Acidente vascular cerebral37", "Beber tomando remédios".

 

ABCMED, 2017. Cuidados necessários ao tomar anti-inflamatórios não esteroides (AINES). Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1306663/cuidados-necessarios-ao-tomar-anti-inflamatorios-nao-esteroides-aines.htm>. Acesso em: 5 out. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
2 Inflamações: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc. Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
3 Antipirético: Medicamento que reduz a febre, diminuindo a temperatura corporal que está acima do normal. Entretanto, ele não vai afetar a temperatura normal do corpo se uma pessoa que não tiver febre o ingerir. Os antipiréticos fazem com que o hipotálamo “ignore“ um aumento de temperatura induzido por interleucina. O corpo então irá trabalhar para baixar a temperatura e o resultado é a redução da febre.
4 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
5 Analgésico: Medicamento usado para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
6 Anorexígenos: Que ou o que provoca anorexia (diz-se de substância ou droga), ou seja, que ou o que produz falta ou perda de apetite.
7 Prostaglandina: É qualquer uma das várias moléculas estruturalmente relacionadas, lipossolúveis, derivadas do ácido araquidônico. Ela tem função reguladora de diversas vias metabólicas.
8 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
9 Prostaglandinas: É qualquer uma das várias moléculas estruturalmente relacionadas, lipossolúveis, derivadas do ácido araquidônico. Ela tem função reguladora de diversas vias metabólicas.
10 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
11 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
12 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
13 Diuréticos: Grupo de fármacos que atuam no rim, aumentando o volume e o grau de diluição da urina. Eles depletam os níveis de água e cloreto de sódio sangüíneos. São usados no tratamento da hipertensão arterial, insuficiência renal, insuficiência cardiaca ou cirrose do fígado. Há dois tipos de diuréticos, os que atuam diretamente nos túbulos renais, modificando a sua atividade secretora e absorvente; e aqueles que modificam o conteúdo do filtrado glomerular, dificultando indiretamente a reabsorção da água e sal.
14 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
15 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
16 Síndrome nefrótica: Doença que afeta os rins. Caracteriza-se pela eliminação de proteínas através da urina, com diminuição nos níveis de albumina do plasma. As pessoas com síndrome nefrótica apresentam edema, eliminação de urina espumosa, aumento dos lipídeos do sangue, etc.
17 Hepatite: Inflamação do fígado, caracterizada por coloração amarela da pele e mucosas (icterícia), dor na região superior direita do abdome, cansaço generalizado, aumento do tamanho do fígado, etc. Pode ser produzida por múltiplas causas como infecções virais, toxicidade por drogas, doenças imunológicas, etc.
18 Reação alérgica: Sensibilidade a uma substância específica, chamada de alérgeno, com a qual se entra em contato por meio da pele, pulmões, deglutição ou injeções.
19 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
20 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
21 Anticoagulantes: Substâncias ou medicamentos que evitam a coagulação, especialmente do sangue.
22 Hemorragias: Saída de sangue dos vasos sanguíneos ou do coração para o exterior, para o interstício ou para cavidades pré-formadas do organismo.
23 Úlcera péptica: Lesão na mucosa do esôfago, estômago ou duodeno. Também chamada de úlcera gástrica ou duodenal. Pode ser provocada por excesso de ácido clorídrico produzido pelo próprio estômago ou por medicamentos como antiinflamatórios ou aspirina. É uma doença infecciosa, causada pela bactéria Helicobacter pylori em quase 100% dos casos. Os principais sintomas são: dor, má digestão, enjôo, queimação (azia), sensação de estômago vazio.
24 Gastrite: Inflamação aguda ou crônica da mucosa do estômago. Manifesta-se por dor na região superior do abdome, acidez, ardor, náuseas, vômitos, etc. Pode ser produzida por infecções, consumo de medicamentos (aspirina), estresse, etc.
25 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
26 Ácido clorídrico: Ácido clorídrico ou ácido muriático é uma solução aquosa, ácida e queimativa, normalmente utilizado como reagente químico. É um dos ácidos que se ioniza completamente em solução aquosa.
27 Úlceras: Feridas superficiais em tecido cutâneo ou mucoso que podem ocorrer em diversas partes do organismo. Uma afta é, por exemplo, uma úlcera na boca. A úlcera péptica ocorre no estômago ou no duodeno (mais freqüente). Pessoas que sofrem de estresse são mais susceptíveis a úlcera.
28 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
29 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
30 Desidratação: Perda de líquidos do organismo pelo aumento importante da freqüência urinária, sudorese excessiva, diarréia ou vômito.
31 Cirrose: Substituição do tecido normal de um órgão (freqüentemente do fígado) por um tecido cicatricial fibroso. Deve-se a uma agressão persistente, infecciosa, tóxica ou metabólica, que produz perda progressiva das células funcionalmente ativas. Leva progressivamente à perda funcional do órgão.
32 Plaquetas: Elemento do sangue (não é uma célula porque não apresenta núcleo) produzido na medula óssea, cuja principal função é participar da coagulação do sangue através da formação de conglomerados que tamponam o escape do sangue por uma lesão em um vaso sangüíneo.
33 Coagulação: Ato ou efeito de coagular(-se), passando do estado líquido ao sólido.
34 Hemorragia: Saída de sangue dos vasos sanguíneos ou do coração para o exterior, para o interstício ou para cavidades pré-formadas do organismo.
35 Efeito colateral: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
36 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
37 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
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