Delirium ou estado confusional em idosos: como ele é?
O que é delirium1 nos idosos?
O delirium1, ou estado confusional, é uma síndrome2 psiquiátrica aguda que acomete um grande número de pacientes idosos hospitalizados.
Quais são as causas do delirium1 nos idosos?
O delirium1 tem sempre uma etiologia3 orgânica, na maioria das vezes uma doença sistêmica que provoca alterações no metabolismo4 cerebral. Toda condição que altere a função cerebral pode resultar em delirium1, mas o desenvolvimento dele é facilitado pela associação dessa alteração com fatores como idade avançada, presença de demência5, déficits sensoriais ou cognitivos6 prévios, dependência funcional e/ou múltiplas comorbidades7. As condições precipitantes do delirium1 são, principalmente, doenças infecciosas, afecções8 pulmonares, cardiovasculares e cerebrovasculares, alterações metabólicas, uso ou retirada de certas medicações e cirurgias.
Qual é a fisiopatologia9 do delirium1 nos idosos?
Muito resumidamente, pode-se dizer que o delirium1 é causado por uma perturbação reversível das funções neurais decorrentes de distúrbios metabólicos sistêmicos10. A atividade neural depende, para seu correto funcionamento, do suprimento de oxigênio, glicose11 e fosfatos. A diminuição significativa desses elementos prejudica a síntese de neurotransmissores, a depuração de neurotoxinas e a transmissão nervosa entre os neurônios12, levando à depressão da atividade cerebral. Tem sido demonstrada a associação positiva entre as concentrações séricas de substâncias anticolinérgicas e a ocorrência do delirium1. Acredita-se que tanto o excesso quanto a deficiência de histamina13 podem também estar envolvidos na fisiopatologia9 do delirium1. Também o excesso de cortisol pode criar uma predisposição a ele.
Quais são os principais sinais14 e sintomas15 do delirium1 nos idosos?
O delirium1 implica em rebaixamento do nível de consciência, distúrbios da orientação tempo-espacial, da memória, da atenção, do pensamento e do comportamento. Alguns pacientes tornam-se agitados e agressivos, outros apáticos e hipoativos. A instalação do delirium1 é aguda e o seu curso é flutuante. É uma síndrome2 clínica comum em pessoas idosas hospitalizadas e sempre representa uma emergência16 geriátrica. Muitas vezes o paciente se apresenta com desalinho, costuma considerar que está em lugar diferente daquele em que realmente está, não sabe dizer o dia ou o período do dia em que se encontra, confunde ou não reconhece as pessoas e os objetos, cria fabulações e enredos sem nexos com a realidade, sofre muitas ilusões de percepção, faz gestos vazios como se estivesse desenvolvendo alguma atividade como tricotar, por exemplo, etc. Muitas vezes é a única manifestação de uma doença clínica subjacente. A flutuação do quadro clínico, com piora à noite, quando o quadro referencial do paciente é mais difícil é uma das principais características do delirium1.
Como o médico diagnostica o delirium1 nos idosos?
O diagnóstico17 da presença de delirium1 pode ser feito por meio de uma história clínica e de uma observação minuciosa. Em seguida, o médico deve pesquisar os fatores predisponentes e precipitantes que tenham ocasionado o quadro. Deve ser lembrado que o delirium1 pode ser a única manifestação de uma doença grave, como infarto18 agudo19 do miocárdio20, infecção21 ou insuficiência respiratória22, por exemplo. Em muitos casos as informações precisam ser obtidas de um acompanhante ou familiar porque o paciente não está em condições de fornecê-las. O exame físico deve dar ênfase à busca de focos infecciosos e a alterações no exame neurológico. Devem ser solicitados de todos os pacientes um hemograma completo, dosagens de eletrólitos23, dosagem de ureia24 e creatinina25, enzimas hepáticas26 e bilirrubinas27, glicemia28 e exame de urina29. Deve-se ainda solicitar radiografia de tórax30 e eletrocardiograma31. De acordo com as suspeitas diagnósticas podem ser necessários exames complementares mais específicos, como bioquímica, sorologias, culturas, líquido cefalorraquidiano32, etc.
Como o médico trata o delirium1 nos idosos?
A primeira coisa a fazer é eliminar os fatores precipitantes, avaliando e tratando prontamente cada causa presumida ou confirmada. Intervenções de suporte devem visar restaurar as condições fisiológicas33 e reorientar o paciente no tempo e no espaço e propiciar a manutenção de nutrição34 e hidratação adequadas, proteção de vias aéreas, mobilização para prevenir trombose venosa profunda35 e úlceras36 por pressão. Os sintomas15 do delirium1 podem ser tratados por meios farmacológicos e não farmacológicos, como as citadas à frente, na prevenção. O uso de medicações deve ser evitado ao máximo e só ser usado em casos de agitação grave. Dentre as medicações utilizadas, os antipsicóticos são os mais indicados no delirium1. Os benzodiazepínicos têm menor eficácia que os antipsicóticos e podem induzir reação paradoxal37.
Como prevenir o delirium1 nos idosos?
Medidas de prevenção devem ser tomadas para todos os pacientes acima de 70 anos de idade, com saúde38 muito comprometida e presença de déficit cognitivo39. Como principal forma de prevenção deve-se identificar e combater os fatores precipitantes:
- Detectar e tratar o eventual comprometimento cognitivo39.
- Manter ambiente silencioso e com pistas para orientação tempo-espacial (calendários, relógios, sinalizações, etc.).
- Envolver familiares nos cuidados com o idoso, propiciando-lhe a oportunidade de conviver com pessoas conhecidas.
- Favorecer um sono tranquilo.
- Evitar ou reduzir o uso de medicações que possam precipitar o delirium1.
- Corrigir distúrbios hidroeletrolíticos.
- Informar o paciente em linguagem simples sobre os procedimentos aos quais ele será submetido.
- Corrigir déficits sensoriais, se houver.
- Evitar a desnutrição40 ou desidratação41.
- Evitar o uso de cateteres, sondas, etc., sempre que possível.
- Favorecer a mobilização e não restringir fisicamente o paciente.
- Prevenir e tratar abstinência alcoólica.
- Evitar hipotensão42 e hipoxemia43 e corrigir eventual anemia44.
Como evolui o delirium1 nos idosos?
O curso do delirium1 depende da gravidade da sua causa determinante, da condição de saúde38 do paciente, da sua idade e do seu estado mental prévio. Em geral, o delirium1 é uma condição transitória, mas os efeitos cognitivos6 do delirium1 podem desaparecer lentamente ou se perpetuarem. Em alguns casos, um quadro de demência5 aparece em sequência a um episódio de delirium1.
Quais são as complicações possíveis do delirium1 nos idosos?
Complicações decorrentes da hospitalização, como escaras45 de decúbito46, quedas, infecções47, incontinência urinária48 e má nutrição49 são mais frequentes nos pacientes idosos que desenvolvem delirium1 do que naqueles que não o fazem.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.