Sono - como ele é?
O que é fisiologia1 do sono?
A fisiologia1 do sono descreve os diversos estados funcionais pelos quais passa o cérebro2 durante o dormir. Esses estados são captados por registros polissonográficos tomados durante o sono, que registram, entre outras coisas, as variações de pressão arterial3, de temperatura corporal e de tônus muscular4. Também é registrado um eletroencefalograma5 que fornece a variação das ondas cerebrais durante as diversas fases do sono.
Foi o uso do eletroencefalograma5, a partir de 1929, que deu novo impulso aos estudos neurofisiológicos do sono. Mas foram Loomis e Davis, em 1937, por meio de achados eletroencefalográficos e de dados clínicos, que descreveram, pela primeira vez, que o dormir se processa por ciclos.
Além disso, numa noite de sono as funções fisiológicas6 gerais sofrem alterações e, portanto, há diferenças na gênese e configuração clínica das patologias diurnas e noturnas. Algumas alterações fisiológicas6 observadas durante os estágios do sono são: (1) alterações da pressão arterial3 e da frequência cardíaca; (2) movimentos oculares horizontais rápidos e coordenados; (3) diminuição do débito cardíaco7; (4) uma vasoconstrição8 que pode ser responsável por acidentes físicos; (5) mudanças no ritmo respiratório; (6) especificidades na secreção de muitos hormônios, que obedecem ao ciclo sono-vigília e podem ocorrer em momentos específicos do sono; (7) ereção9 clitoridiana nas mulheres e peniana no homem; (8) alterações transitórias dos mecanismos homeostáticos, etc.
Saiba mais sobre "Transtornos do sono" e "Parassonias".
Qual é o mecanismo fisiológico10 do sono?
Antigamente o sono era considerado um fenômeno passivo, semelhante ao coma11 e à morte, resultante da não estimulação periódica do cérebro2. Atualmente compreende-se que ele envolve mecanismos ativos que podem produzir manifestações fisiológicas6 diversas e... sonhos.
Estudos recentes mostram que em animais superiores e no homem, o sono não é um processo passivo que começa no adormecer e termina no despertar, mas dá-se por ciclos ativos. Descreve-se quatro desses ciclos que têm traçados eletroencefalográficos de voltagem progressivamente crescente e frequência decrescente, nomeados de estágios I, II, III e IV, após os quais ocorre um sono clinicamente profundo que apresenta um traçado eletroencefalográfico próximo ao da vigília e que é chamado, por isso, de sono paradoxal12 ou dessincronizado13.
Durante essa fase, ocorre regularmente uma sucessão de movimentos oculares horizontais rápidos e conjugados e, por isso, costuma-se também chamá-la de sono R.E.M. (rapid eyes moviments). Após esta fase, dá-se um leve e rápido despertar, do qual a pessoa não chega a se dar conta. Esse é o momento em que ela, por exemplo, revira e às vezes senta na cama, murmura alguma coisa e ajeita as cobertas, sem lembrar-se de nada a seguir.
Cada pessoa faz de 4 a 6 ciclos de sono por noite de sono, de duração média de 80 minutos cada um. Do ponto de vista eletroencefalográfico, os quatro primeiros períodos são chamados sono lento (de ondas cerebrais lentas) e o período REM é dito sono rápido (de ondas cerebrais rápidas).
Leia sobre "Sonhos e suas interpretações".
Quais são as principais características clínicas do sono REM?
O sono REM é marcado por certas ocorrências típicas:
(1) Traçado eletroencefalográfico parecido com o da vigília;
(2) Sono profundo, do ponto de vista clínico - o despertar é mais difícil que nos outros estágios;
(3) Ocorrência em toda a série animal, a partir dos répteis;
(4) Tendência a manter constante o seu percentual em relação ao sono total, ocorrendo compensação quase que integral, em caso de privação de alguma parcela dele;
(5) Ocorrências fisiológicas6 marcantes: aceleração da respiração; elevação da tensão arterial e da temperatura, secreção de hormônios e ereção9 de pênis14. Essa última ocorrência é tão regular que pode ser utilizada para diferenciar a impotência15 orgânica da psicogênica16, já que ela não ocorre na primeira, mas está sempre presente na segunda;
(6) Surtos de movimentos rápidos, horizontais, conjugados e sincrônicos, de ambos os olhos17, pois a musculatura deles é uma das poucas que escapa ao relaxamento então existente - as outras são as do ouvido médio18 e da respiração - sob um fundo de movimentos lentos e globosos;
(7) Incidência19 de sonhos em 74 a 95 % das pessoas; enquanto que nos outros estágios, fenômenos parecidos só ocorrem em 50% dos pesquisados e não têm a mesma vivacidade dos sonhos que ocorrem naquele período;
(8) Diferenças quanto à lembrança dos sonhos. Enquanto ela é praticamente total se a pessoa é acordada durante o período R.E.M, é quase nula se o despertar ocorre após oito minutos, na fase de sono de ondas lentas.
O homem adulto ocupa 20 a 25% do período total de sono com esse tipo de sono. Eles são 80% do dormir na fase intrauterina; 50% ao nascer, 30-35% aos 2 anos. A percentagem definitiva de 25% é alcançada por volta dos 10 anos de idade. Como o sono R.E.M ocorre toda noite e várias vezes por noite, sonha-se várias vezes a cada noite. O fato de que muitas vezes as pessoas acordem alegando não ter sonhado é devido ao esquecimento dos sonhos. Os últimos períodos R.E.M. de cada noite são os mais longos e os sonhos que ocorrem durante eles são os mais lembrados.
A percentagem de sono R.E.M tende a ser tão constante que se houver privação dele em um ciclo, ocorre uma compensação no ciclo seguinte e ele se inicia mais prontamente e se torna mais longo. Isso sugere que ele tenha uma função biológica necessária. Embora a supressão do período R.E.M não conduza à psicose20, como se pensou, leva a comportamentos bizarros, ansiosos e irritáveis.
Enfim, o sono é um fenômeno que depende de vários aspectos da vida e que pode ter as mais vastas implicações e depender de uma inumerável gama de fatores.
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As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.