O desenvolvimento da personalidade segundo a Psicanálise
Sobre alguns termos psicanalíticos
O pensamento psicanalítico dominou a psicologia do século XX e cunhou alguns conceitos cuja extensão ultrapassou o uso terapêutico e impregnou o pensamento erudito em várias áreas da cultura. Alguns deles chegaram mesmo a ganhar um uso popular. Freud elaborou uma teoria da estrutura e desenvolvimento da personalidade, a qual consagrou determinados termos, hoje em dia muito conhecidos, mas nem sempre bem compreendidos.
O desenvolvimento da personalidade segundo a Psicanálise
Freud concebeu o desenvolvimento da personalidade como centrado em certas particularidades anatômicas e certas funções fisiológicas1 e psicológicas correspondentes a elas e propôs que todas elas seriam expressões da sexualidade, a cada idade.
Estágio oral (primeiro ano de vida)
No primeiro estágio do desenvolvimento da personalidade, a libido2 está centrada na boca3 do bebê. Usualmente, ele coloca todo tipo de coisas na boca3 e exerce ainda quase exclusivamente outras atividades orais, como sucção, mordida e amamentação4.
Freud alegou que a super estimulação ou a frustração oral podem levar a uma fixação mais tarde na vida em atividades ou modelos de atividades orais, como fumantes, roedores de unhas5, além de dependência e passividade. As personalidades orais se envolvem em tais comportamentos orais, particularmente quando estão sob estresse.
Saiba mais sobre "Queda da libido2", "Amamentação4", "Estresse" e "O hábito de roer as unhas5".
Estágio anal (1-3 anos)
O foco se concentra no ânus6 e nas suas funções e a criança parece obter prazer no ato de defecar. O ego começa a se desenvolver. Ela está agora plenamente consciente de que é uma pessoa em seu próprio direito e que seus desejos podem colocá-la em conflito com as demandas do mundo exterior.
Freud acreditava que esse tipo de conflito tende a chegar ao auge no treinamento para o banheiro, em que os adultos impõem restrições e regras sobre quando e onde a criança pode exercer suas necessidades fisiológicas1, se contrapondo, assim, à espontaneidade da criança. A natureza desse primeiro conflito com a autoridade pode determinar o relacionamento futuro da criança com todas as formas de autoridade.
O treinamento precoce ou autoritário pode levar a criança a tornar-se uma personalidade retentiva que odeia bagunça, obsessivamente arrumada, pontual e respeitosa (temerosa?) com a autoridade. Esses indivíduos podem ser teimosos e parcimoniosos com seu dinheiro e posses. Tudo isso está relacionado ao prazer de reter suas fezes quando crianças pequenas, e a mãe delas insistindo que elas se livrem delas com ordem e limpeza.
O caráter oposto, o expulsivo, é o de crianças que tenham passado por um regime de treinamento higiênico liberal durante o estágio anal. Na idade adulta, o expulsivo é a pessoa que gosta de compartilhar e dar as coisas. Além disso, uma personalidade expulsiva também é confusa, desorganizada e rebelde.
Leia sobre "A estrutura da personalidade segundo a Psicanálise".
Fase fálica (3 a 5 ou 6 anos)
A sensibilidade agora se concentra nos genitais e a masturbação7 (com técnicas infantis) torna-se uma nova fonte de prazer. Os adultos conhecem bastante bem a tendência que têm algumas crianças nessa idade de levar a mão8 aos genitais. A criança torna-se cônscia das diferenças anatômicas entre os sexos, o que põe em movimento o conflito entre atração erótica, ressentimento, rivalidade, ciúme e medo, que Freud chamou de complexo de Édipo. Isso é resolvido através do processo de identificação com o genitor do mesmo sexo.
O complexo de Édipo é o aspecto mais importante do estágio fálico. Esta é uma das ideias mais controversas de Freud, que muitos autores rejeitaram de imediato. O nome “complexo de Édipo” derivou da analogia com o mito grego em que Édipo mata seu pai e se casa com sua mãe. No menino, o complexo e o conflito que ele motiva surgem porque o menino desenvolve desejos sexuais por sua mãe e vê o pai como competidor e deseja livrar-se de seu pai. Durante o estágio fálico, em que o menino concede maior importância a seu pênis9, ele desenvolve grande ansiedade com relação à castração10.
O menino então resolve esse problema imitando (se identificando com) os comportamentos masculinos do pai. Por analogia e feitas as necessárias adaptações, algo semelhante ocorreria também com as meninas e veio a ser conhecido como complexo de Electra, embora Freud nunca tenha usado essa denominação.
Veja mais sobre "Complexo de Édipo".
Estágio de latência11 (5 ou 6 anos até a puberdade)
Nenhum outro desenvolvimento psicossexual ocorre durante este estágio. A libido2 fica transitoriamente adormecida. Freud pensava que a maioria dos impulsos sexuais é reprimida durante esse estágio de latência11 e a energia sexual pode ser sublimada em direção ao trabalho, estudo, hobbies e amizades. Grande parte da energia da criança é canalizada para o desenvolvimento de novas habilidades e a aquisição de novos conhecimentos.
Fase genital (da puberdade à vida adulta)
Este é o último estágio da teoria psicossexual de Freud sobre o desenvolvimento da personalidade. É uma época de experimentação sexual adolescente, cuja resolução bem-sucedida é estabelecer um relacionamento amoroso de um para com outra pessoa. O instinto sexual é dirigido ao outro, mais do que ao prazer próprio, como durante o estágio fálico. Para Freud, a saída apropriada do instinto sexual nos adultos era através da relação sexual com outra pessoa. A fixação e o conflito podem impedir isso, com a consequência de que as perversões sexuais podem se desenvolver.
Leia também sobre "Relação sexual", "Testes de Personalidade", "Personalidade borderline", "Personalidade narcisista", "Personalidade histriônica" e "Testes psicológicos na seleção de pessoal".
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.