Laparotomia versus laparoscopia: o que são? Como são feitas? Quais as vantagens e desvantagens?
O que é laparotomia1?
A laparotomia1 (do grego: láparos = abdômen; tomos = corte) é a abertura cirúrgica da cavidade abdominal2 para fins diagnósticos e/ou terapêuticos. Em termos populares é a cirurgia “de barriga aberta”. Ela não é uma prática recente, remontando à antiguidade, mas teve grande expansão no século 20, graças ao advento das drogas curarizantes, da intubação traqueal, do maior conhecimento da anatomia e fisiologia3 da parede abdominal4 e dos processos de cicatrização da ferida cirúrgica. A laparotomia1 envolve uma incisão5 no abdômen para acessar órgãos internos, variável de tamanho segundo o procedimento cirúrgico a ser executado, mas quase sempre grande. Uma mini-laparotomia1 pode envolver uma incisão5 oito a dez centímetros, mas uma laparotomia1 exploratória pode envolver uma incisão5 que percorre quase todo o comprimento do abdômen.
O que é laparoscopia6?
O termo “laparos” vem do grego e significa abdômen. Laparoscopia6 se referia, a princípio, a uma maneira de olhar dentro do abdome7. Hoje em dia, ela se refere também a uma intervenção cirúrgica minimamente invasiva, muito utilizada em cirurgias ginecológicas, urológicas e outras (mesmo fora do abdômen). Seu primeiro uso, em 1987, foi para a retirada da vesícula biliar8, embora já houvesse antecedentes menos ambiciosos desde a década de 60. Atualmente, graças à evolução da tecnologia, pode-se acessar praticamente quase todos os órgãos do corpo humano9. Este procedimento é feito com aparelhos introduzidos no corpo por uma porta de entrada e que contêm em sua extremidade uma minicâmera que transmite imagens em alta resolução para monitores de vídeo, as quais permitem ao cirurgião praticar as intervenções necessárias e que podem ser gravadas para estudos posteriores. Este procedimento é chamado, então, videolaparoscopia. Usada primitivamente quase só para fazer diagnósticos, a videolaparoscopia atual permite colher material para biópsias10 e praticar intervenções cirúrgicas antes só possíveis “a céu aberto”.
Como é feita a laparotomia1?
A laparotomia1 é sempre realizada em um centro cirúrgico. Previamente à intervenção deve ser feita uma sedação11, como pré-anestesia12, visando deixar o paciente mais calmo, sonolento e relaxado. Em seguida, o paciente deve receber medicações anestésicas que o manterão adormecido e sem sentir dor durante todo o ato cirúrgico. O tônus muscular13 e a atividade contrátil da musculatura são abolidos através de curarizantes (medicamentos que interrompem a transmissão do impulso nervoso na junção neuromuscular14). O paciente deverá receber também uma sonda endotraqueal através da qual o anestesista procurará manter a ventilação15 adequada, uma vez que o paciente não estará mais respirando por própria conta. Em seguida, o cirurgião pratica uma incisão5 vertical no abdômen no caso de laparotomia1 exploradora ou na região a ser tratada no caso de laparotomia1 terapêutica16 e então faz o exame dos órgãos abdominais ou a intervenção sobre a parte doente. Depois de realizada a intervenção programada, a parede abdominal4 é fechada e suturada com fios apropriados. Quase sempre, depois da cirurgia, o paciente é levado de volta para seu quarto, depois de um curto período de recuperação e observação em uma sala apropriada do centro cirúrgico, podendo também, conforme o caso, ser encaminhado para uma unidade de terapia intensiva17 (UTI). O tempo da alta varia em cada caso, de acordo com o tipo de cirurgia realizada e com o estado clínico do paciente. A retirada dos pontos de sutura18 será programada pelo cirurgião.
Como é feita a laparoscopia6?
O paciente também deve ser internado e submetido à anestesia12 geral, mas conforme a cirurgia pode deixar o hospital no mesmo dia ou nos dias logo a seguir. A laparoscopia6 terapêutica16 consiste em que o médico faça pequenas incisões19 na região a ser examinada ou tratada, por onde introduz um laparoscópio20 (um fino tubo de fibras óticas contendo uma câmera em sua extremidade), através do qual pode visualizar os órgãos internos, bem como os instrumentos de que se valerá para fazer as intervenções cirúrgicas planejadas. Os instrumentos usados nas laparoscopias são idênticos aos usados nas cirurgias tradicionais, só que mais delicados. Se a cirurgia for feita no abdômen, certa quantidade de gás (dióxido de carbono) é introduzida dentro da cavidade a fim de expandi-la e criar um “campo” para se realizar a cirurgia. Esta técnica também pode ser utilizada em outros tipos de cirurgias, como em operações nas articulações21 (artroscopias), por exemplo, principalmente nas cirurgias de joelho.
Quais são as vantagens e desvantagens da laparoscopia6 em relação à laparotomia1?
A partir de 1988 a laparotomia1 vem sendo substituída em muitos casos pela laparoscopia6. Contudo, ela tem indicações precisas e eletivas22, cabendo ao cirurgião indicá-la quando necessário. Ela pode ser feita com finalidade diagnóstica em que se “abre a barriga para ver o que está acontecendo” ou para executar um procedimento cirúrgico sobre uma doença já identificada, para a qual a laparoscopia6 não seja indicada.
Sempre que possível, contudo, a laparoscopia6 deve ser preferida porque ela tem a vantagem de ser minimamente invasiva, ocasionar um menor trauma cirúrgico, menos sangramento durante a cirurgia, menor dor pós-operatória, recuperação pós-cirúrgica mais rápida e um retorno mais rápido às atividades habituais, além de menores cicatrizes23. Além disso, reduz o risco de infecções24, as deformidades que podem ser produzidas pelas cicatrizes23 e a ocorrência de aderências pós-operatórias. Como todo procedimento cirúrgico, a laparoscopia6 também envolve riscos, mas desde que feita por um profissional experiente eles são menores que os da laparotomia1. Nas intervenções laparoscópicas abdominais o risco de maior gravidade, mas raro, é a perfuração de órgãos como o intestino, estômago25, aorta26, etc., ou a ocorrência de hemorragias27 abdominais ou peritonites. Ademais, ela pode produzir algum desconforto adicional em razão da distensão abdominal que acarreta, pode gerar problemas respiratórios e arritmias28 cardíacas. Por outro lado, a anestesia12 necessária para realização de uma laparoscopia6 é de menor profundidade que a necessária para uma laparotomia1, o que também reduz os seus riscos.
Adicionalmente, pacientes com doenças cardíacas ou respiratórias graves, obesos, portadores de hérnia29 diafragmática ou de doença inflamatória pélvica30, grávidas, etc., merecem atenção especial do cirurgião em relação à laparoscopia6 e muito mais em relação à laparotomia1.
O tempo de recuperação, sempre mais longo na laparotomia1 que na laparoscopia6, torna-se maior quanto mais extensa for a incisão5 e o procedimento realizado.
A laparotomia1 sempre é uma intervenção muito desconfortável e agressiva, além disso, pode causar dores e infecções24 inesperadas, o que adia e dificulta o retorno às atividades cotidianas ou pode gerar complicações graves e às vezes fatais.
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas em parte dos sites da ASGBI Association of Surgeons of Great Britain & Ireland, American College of Surgeon's e National Center for Biotechnology Information (NCBI).
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.