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Como a via de administração define a absorção dos fármacos

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A administração de medicamentos é um processo fundamental na farmacologia1, e o modo como um fármaco2 é absorvido pelo organismo depende diretamente da via de administração utilizada. Cada via apresenta características farmacocinéticas próprias, que influenciam a velocidade, a eficiência e a biodisponibilidade do medicamento, definida como a fração da dose administrada que atinge a circulação3 sistêmica na forma ativa.

1. Via oral

A via oral é a mais comum e conveniente para a administração de medicamentos, sendo preferida pela facilidade de uso, baixo custo e boa aceitação pelos pacientes. Quando ingerido, o medicamento percorre o trato gastrointestinal, sendo absorvido principalmente no estômago4 e no intestino delgado5. A absorção ocorre por difusão passiva (movimento de moléculas através de membranas biológicas sem gasto energético), transporte ativo (movimento contra o gradiente de concentração com gasto energético) ou difusão facilitada (transporte passivo mediado por proteínas6 carreadoras), dependendo das propriedades físico-químicas do fármaco2, como solubilidade, grau de ionização e lipofilicidade.

No estômago4, o pH ácido pode influenciar a ionização do medicamento, favorecendo ou dificultando sua absorção. O intestino delgado5, devido à extensa área de superfície proporcionada por vilosidades e microvilosidades e ao pH mais próximo da neutralidade, é o principal local de absorção. Após absorção, o fármaco2 passa pelo sistema porta7 hepático e pode sofrer o efeito de primeira passagem, no qual o fígado8 metaboliza parte da dose antes de atingir a circulação3 sistêmica, reduzindo a biodisponibilidade.

  • Vantagens: fácil administração; segurança relativa; baixo custo.
  • Limitações: absorção mais lenta; efeito de primeira passagem; possibilidade de irritação gastrointestinal.

2. Vias sublingual e bucal

As vias sublingual (sob a língua9) e bucal (entre a gengiva e a bochecha10) permitem absorção direta pela mucosa11 oral, altamente vascularizada, com entrada imediata na circulação3 sistêmica, evitando o metabolismo12 de primeira passagem. São indicadas para medicamentos que requerem início de ação rápido, como a nitroglicerina nas crises de angina13. A absorção sublingual tende a ser mais rápida que a bucal devido à maior vascularização.

  • Vantagens: início rápido; evita metabolismo12 hepático; útil em emergências.
  • Limitações: dose limitada pelo tamanho da área de absorção; necessidade de manter o fármaco2 no local; desconforto e inadequação para formulações de liberação prolongada.
Leia sobre "Informações importantes sobre medicamentos", "Polifarmácia" e "Os perigos da automedicação14".

3. Via intravenosa

A administração intravenosa (IV) consiste na injeção15 direta na corrente sanguínea, garantindo biodisponibilidade de 100%. A ação é imediata, essencial em emergências como parada cardíaca ou sepse16 grave. Pode ser administrada em bolus17 (injeção15 rápida) ou infusão contínua.

  • Vantagens: absorção instantânea; controle preciso da dose; adequada para fármacos instáveis no trato gastrointestinal.
  • Limitações: risco de infecção18, embolia19 ou reação adversa grave; necessidade de técnica estéril e profissionais treinados; custo elevado.

4. Via intramuscular

Na via intramuscular (IM), o medicamento é injetado no tecido20 muscular, com absorção proporcional à vascularização do local e à formulação do fármaco2 (soluções aquosas absorvidas mais rapidamente que oleosas). Locais comuns incluem deltoide21, glúteo e vasto lateral da coxa22.

  • Vantagens: absorção relativamente rápida; adequada para doses maiores que a via subcutânea23; útil para liberação sustentada.
  • Limitações: dor no local; risco de lesão24 nervosa; absorção variável conforme local e condição clínica.

5. Via subcutânea23

Consiste na injeção15 no tecido subcutâneo25, logo abaixo da pele26, com absorção mais lenta que a intramuscular devido à menor vascularização. Usada para insulina27, heparina e fármacos de liberação prolongada. O volume máximo geralmente é de 2 mL.

  • Vantagens: técnica simples; absorção relativamente previsível.
  • Limitações: absorção lenta; volume limitado; possibilidade de irritação local.

6. Vias tópica e transdérmica

A via tópica destina-se à ação local, enquanto a transdérmica objetiva absorção sistêmica por meio da pele26, observada em sistemas como adesivos de nicotina ou fentanil. A camada córnea28 da epiderme29 é a principal barreira, e a absorção depende da lipofilicidade do fármaco2 e da integridade da pele26.

  • Vantagens: efeito local (tópica) ou sistêmico30 prolongado (transdérmica); administração não invasiva.
  • Limitações: absorção lenta; restrita a fármacos lipofílicos; risco de irritação cutânea31.

7. Via inalatória

Permite entrega direta aos pulmões32, útil para doenças respiratórias, como asma33 e DPOC. A grande área alveolar e a intensa vascularização favorecem absorção rápida, tanto para efeito local quanto sistêmico30.

  • Vantagens: início rápido; menor dose para efeito local; evita metabolismo12 de primeira passagem.
  • Limitações: requer técnica adequada, dispositivos específicos e é restrita a certos medicamentos.

8. Via retal

Utiliza supositórios ou enemas34, com cerca de 50% da absorção evitando o metabolismo12 hepático inicial. Indicado para pacientes35 com dificuldade de deglutição36, apresentando vômitos37 ou que estejam inconscientes.

  • Vantagens: útil quando a via oral não é viável; absorção parcial sem efeito de primeira passagem.
  • Limitações: absorção irregular; aceitação cultural limitada; desconforto.

9. Outras vias

Incluem as vias intranasal, oftálmica, ótica e vaginal, que podem ter efeito local ou sistêmico30. Exemplo: desmopressina intranasal para diabetes insipidus38 e colírios antibióticos para infecções39 oculares.

Veja também sobre "Uso de medicamentos em crianças" e "Como agem os medicamentos no organismo".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites MSD Manuals e do Jornal da USP.

ABCMED, 2025. Como a via de administração define a absorção dos fármacos. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/1493255/como-a-via-de-administracao-define-a-absorcao-dos-farmacos.htm>. Acesso em: 27 ago. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Farmacologia: Ramo da medicina que estuda as propriedades químicas dos medicamentos e suas respectivas classificações.
2 Fármaco: Qualquer produto ou preparado farmacêutico; medicamento.
3 Circulação: 1. Ato ou efeito de circular. 2. Facilidade de se mover usando as vias de comunicação; giro, curso, trânsito. 3. Movimento do sangue, fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos do corpo e do coração.
4 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
5 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
6 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
7 Sistema Porta: Sistema de vasos pelos quais o sangue, após percorrer uma rede capilar, é transportado através de um segundo grupo de capilares antes de retornar à circulação sistêmica. Pertence principalmente ao sistema porta hepático.
8 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
9 Língua:
10 Bochecha:
11 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
12 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
13 Angina: Inflamação dos elementos linfáticos da garganta (amígdalas, úvula). Também é um termo utilizado para se referir à sensação opressiva que decorre da isquemia (falta de oxigênio) do músculo cardíaco (angina do peito).
14 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
15 Injeção: Infiltração de medicação ou nutrientes líquidos no corpo através de uma agulha e seringa.
16 Sepse: Infecção produzida por um germe capaz de provocar uma resposta inflamatória em todo o organismo. Os sintomas associados a sepse são febre, hipotermia, taquicardia, taquipnéia e elevação na contagem de glóbulos brancos. Pode levar à morte, se não tratada a tempo e corretamente.
17 Bolus: Uma quantidade extra de insulina usada para reduzir um aumento inesperado da glicemia, freqüentemente relacionada a uma refeição rápida.
18 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
19 Embolia: Impactação de uma substância sólida (trombo, colesterol, vegetação, inóculo bacteriano), líquida ou gasosa (embolia gasosa) em uma região do circuito arterial com a conseqüente obstrução do fluxo e isquemia.
20 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
21 Deltoide: 1. Que apresenta a forma triangular de um delta (“letra do alfabeto gregoâ€). 2. Em botânica, diz-se do que é ovado e com os dois lados e a base retilíneos, ou quase, assemelhando-se a um triângulo (diz-se de folha). 3. Em geometria, quadrilátero não convexo, com dois pares de lados adjacentes iguais. 4. Em anatomia, o deltoide é um músculo em forma de triângulo, que cobre a cintura escápulo-umeral e a estrutura do ombro.
22 Coxa: É a região situada abaixo da virilha e acima do joelho, onde está localizado o maior osso do corpo humano, o fêmur.
23 Subcutânea: Feita ou situada sob a pele; hipodérmica.
24 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
25 Tecido Subcutâneo: Tecido conectivo frouxo (localizado sob a DERME), que liga a PELE fracamente aos tecidos subjacentes. Pode conter uma camada (pad) de ADIPÓCITOS, que varia em número e tamanho, conforme a área do corpo e o estado nutricional, respectivamente.
26 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
27 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
28 Camada córnea: A camada córnea é uma das cinco camadas que compõem a epiderme. Ela é constituída por células mortas, sem núcleo, achatadas e em forma de lâminas. Estas lâminas se sobrepõem formando uma estrutura rígida e hidrófila, com função de proteção contra agentes físicos, químicos e biológicos, além de impedir a evaporação de água. Nesta camada, ocorre o desprendimento constante dos queratinócitos e com renovação constante da epiderme.
29 Epiderme: Camada superior ou externa das duas camadas principais da pele.
30 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
31 Cutânea: Que diz respeito à pele, à cútis.
32 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
33 Asma: Doença das vias aéreas inferiores (brônquios), caracterizada por uma diminuição aguda do calibre bronquial em resposta a um estímulo ambiental. Isto produz obstrução e dificuldade respiratória que pode ser revertida de forma espontânea ou com tratamento médico.
34 Enemas: Introdução de substâncias líquidas ou semilíquidas através do esfíncter anal, com o objetivo de induzir a defecação ou administrar medicamentos.
35 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
36 Deglutição: Passagem dos alimentos desde a boca até o esôfago; ação ou efeito de deglutir; engolir. É um mecanismo em parte voluntário e em parte automático (reflexo) que envolve a musculatura faríngea e o esfíncter esofágico superior.
37 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
38 Diabetes insipidus: Condição caracterizada por micções freqüentes e volumosas, sede excessiva e sensação de fraqueza. Esta condição pode ser causada por um defeito na glândula pituitária ou no rim. Na diabetes insipidus os níveis de glicose estão normais.
39 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
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