Como é a crise parcial complexa?
O que é crise parcial complexa?
A crise parcial complexa, correspondente mais ou menos ao que anteriormente se chamava epilepsia1 do lobo temporal2, é uma descarga epileptiforme3 focal que se origina em um dos lobos4 temporais e que posteriormente se dissemina para os lobos4 temporais dos dois hemisférios cerebrais. Ela está na interface entre a neurologia e a psiquiatria, podendo produzir tanto sintomas5 motores como psíquicos. As epilepsias do lobo temporal2 constituem o grupo mais frequente de epilepsias em pacientes adultos. A diferença entre as crises parciais complexas e as crises parciais simples é que aquelas primeiras são acompanhadas por perturbações da consciência (crises psicomotoras, na denominação clássica), enquanto as simples não são e o paciente conserva a noção do que está acontecendo com ele.
Quais são as causas da crise parcial complexa?
As síndromes epilépticas podem ser causadas por defeitos genéticos, anomalias dos canais iônicos ou lesões6 específicas do cérebro7. Tipicamente, a crise parcial complexa ocorre devido à esclerose8 do hipocampo9, mas também pode haver outros tipos de lesões6, tais como tumores, displasias corticais10, hamartomas11 (tumores benignos que possuem a mesma composição dos tecidos que o cercam), malformações12 vasculares13, etc. A maioria das crises epilépticas no idoso é parcial e é secundária a uma causa isquêmica ou hemorrágica14.
Quais são os principais sinais15 e sintomas5 da crise parcial complexa?
Para cada paciente a crise parcial complexa tem um quadro clínico distinto e uma história natural diferente, mas relativamente estereotipada. Em geral, duram de trinta segundos até um a dois minutos e só excepcionalmente um tempo mais longo. É frequente o relato de convulsão16 febril na infância, antecedente familiar de convulsão16 febril ou mesmo de epilepsia1. O quadro normalmente é dominado por auras que antecedem as crises parciais complexas, sendo frequente haver sinais15 motores associados, os quais têm, aos olhos17 do neurologista18, um valor localizatório da lesão19 causal.
É comum que ao episódio inicial na infância se suceda um longo período sem sintomas5 e que as crises parciais complexas só retornem na adolescência. As crises às vezes provocam alucinações20 de grande nitidez que dão ao paciente a impressão de serem verdadeiras memórias e podem também gerar experiências de déjà vu ou jamais vu. Outras vezes podem ocorrer estados mentais altamente elaborados, experiências parecidas a sonhos, misturados ao pensamento atual e um sentimento de “estar em algum outro lugar". Além destes sintomas5 também pode ocorrer uma forma peculiar de desconforto abdominal, associado à perda de contato com os arredores e automatismos envolvendo a boca21 e o trato gastrointestinal (lamber, contrair os lábios, grunhir ou fazer outros ruídos).
Na dependência do tipo de crise que o paciente tenha, podem ocorrer ainda mais alguns dos seguintes sintomas5: movimentos musculares tônico-clônicos, principalmente na face22, pescoço23 e/ou extremidades; alucinações20 dos sentidos; formigamentos, adormecimento e queimação; sensação de dor, frio ou movimento de qualquer parte do corpo; crises autonômicas com palidez, ruborização, vômitos24, sudorese25, piloereção26, taquicardia27 e midríase28 e sentimentos tais como irrealidade, medo, prazer, etc. Alguns pacientes descrevem experiências "mais reais que o real", que parecem de natureza mística ou paranormal, das quais brotam sentimentos extremamente intensos. Padrões incomuns automáticos de comportamento podem afetar a esfera alimentar, deambulatória29, gestual, da mímica, verbal e mesmo gritos e risos.
Num resumo de utilidade diagnóstica prática pode-se dizer que a pessoa pode parecer consciente, mas não responde durante um curto período, podendo verificar-se um olhar vazio, movimentos repetitivos de mastigação ou de estalar os lábios ou a mão30 e comportamentos fora do habitual. Depois da crise, a pessoa não tem memória do episódio ocorrido.
Como o médico diagnostica a crise parcial complexa?
O diagnóstico31 inicial da crise parcial complexa se baseia no quadro clínico relatado pelo paciente ou seus familiares e deve ser confirmado por exames laboratoriais, especialmente exames de imagens do cérebro7 e eletroencefalograma32.
Como o médico trata a crise parcial complexa?
O tratamento medicamentoso da crise parcial complexa é feito com antiepilépticos (carbamazepina, oxcarbazepina, fenitoína, entre outros), mas costuma ser pouco eficaz. O tratamento cirúrgico consiste na ablação33 parcial do lobo temporal2 e apresenta resultados superiores ao tratamento clínico.
Como evolui a crise parcial complexa?
O prognóstico34 da crise parcial complexa em geral é bom, porém alguns casos cursam com crises refratárias35 ao tratamento farmacológico. A cirurgia oferece resultados favoráveis, comprovadamente superiores aos tratamentos medicamentosos.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.