Exsanguineotransfusão do recém-nascido: quando deve ser feita?
O que é exsanguineotransfusão1 do recém-nascido?
A exsanguineotransfusão1 do recém-nascido é um procedimento médico pelo qual o sangue2 do bebê é removido e substituído por outro, de um doador compatível, para tratar condições clínicas determinadas. Essa transfusão3 faz parte do arsenal terapêutico que oferece suporte avançado aos bebês4 de risco em unidades de cuidados intensivos neonatais, sobretudo para o tratamento da doença hemolítica do recém-nascido5. Na verdade, ela foi a primeira terapia de sucesso instituída para tratar a icterícia neonatal6 grave. Assim, a maioria das exsanguineotransfusões é praticada em bebês4 recém-nascidos, embora também possa ser empregada em determinadas condições clínicas de adultos.
Quais recém-nascidos devem ser submetidos a uma exsanguineotransfusão1?
Os recém-nascidos são os principais usuários da exsanguineotransfusão1, seja por uma incompatibilidade sanguínea mãe/filho, seja por uma hiperbilirrubinemia excessiva. Além disso, ela pode ter indicação em casos de septicemias com presença de coagulação7 intravascular8 disseminada e/ou choque9 séptico e intoxicações exógenas10 em recém-nascidos e lactentes11. Contudo, os níveis sanguíneos de bilirrubina12 para indicar a exsanguineotransfusão1 em recém-nascidos permanecem controversos, uma vez que a incidência13 de kernicterus14 (impregnação de certos núcleos cerebrais pela bilirrubina12, gerando uma encefalopatia15 grave) também depende de outras variáveis como a idade gestacional, a presença ou não de hemólise16 e do quadro clínico do recém-nascido.
Quanto menor o peso dele ao nascer e quanto menor a idade gestacional, maior a necessidade dessa transfusão3. Ela tem o objetivo de corrigir a anemia17, reduzir os anticorpos18 maternos, remover hemácias19 sensibilizadas e substituí-las por outras, não sensibilizadas, e remover a bilirrubina12 não conjugada antes da sua difusão para os tecidos. Assim, as indicações para a exsanguineotransfusão1 são a incompatibilidade materno-fetal contra antígenos eritrocitários20, a hiperbilirrubinemia neonatal devido à eritroenzimopatias hereditárias (alterações enzimáticas dos eritrócitos21, os quais são os glóbulos vermelhos do sangue2), os defeitos estruturais congênitos22 da membrana eritrocitária, a coagulação7 intravascular8 disseminada e a septicemia23 grave e, como recurso adjuvante, na trombocitopenia24 neonatal aloimune25 e para o clareamento dos anticorpos18 contra antígenos26 plaquetários. A incompatibilidade ABO ocorre frequentemente quando a mãe tem tipo sanguíneo "O" e o seu bebê tem tipo sanguíneo "A", mas outras combinações são possíveis. Além disso, a incompatibilidade Rh (negativo/positivo) acontece mesmo que o sistema ABO seja compatível.
Como deve ser realizada a exsanguineotransfusão1 do recém-nascido?
A exsanguineotransfusão1 em recém-nascidos pode ser feita por diferentes razões. Ela pode ser realizada precocemente, até mesmo na vida intrauterina, se houver antecedentes de kernicterus14 anteriores em filhos da mesma mãe ou hidropsia27 no feto28 atual (complicação fetal que pode ter várias causas, mas que comumente é causada por uma incompatibilidade entre o fator Rh da mãe e do feto28). Nos casos mais comuns, de doença hemolítica do recém-nascido5, geralmente por uma incompatibilidade Rh mãe/filho, o sangue2 a ser transfundido já deve estar disponível antes do nascimento, ser do grupo “O”, Rh negativo, e ter sido submetido à contraprova com o sangue2 materno.
Outros motivos para a exsanguineotransfusão1 podem requerer outros exames e outras tipagens sanguíneas. Antes do procedimento, o médico deve também realizar um novo exame de sangue2 do doador e do receptor, para certificar-se da compatibilidade entre ambos e de anomalias sanguíneas por ventura existentes. A exsanguineotransfusão1 deve ser um procedimento realizado no centro cirúrgico de um hospital, geralmente ainda na maternidade, cercado de cuidados de assepsia29 e monitoramento das funções vitais.
Devem ser usados glóbulos vermelhos colhidos há menos de sete dias, reconstituídos com plasma30 congelado, com hematócrito31 em torno de 45% a 50%. Há várias técnicas possíveis para fazer a exsanguineotransfusão1, mas a mais comum em recém-nascidos consiste na introdução de um cateter na veia umbilical que é empurrado até o interior da veia cava inferior. O médico retirará cerca de cinco a dez mililitros de sangue2 a cada vez durante 15 a 20 segundos. À medida que o sangue2 é removido em cada ciclo, outro ciclo de sangue2 fresco de um doador escolhido é infundido, durante 60 a 90 segundos no organismo do paciente. Geralmente, cada ciclo desses tem duração de apenas alguns minutos. O volume total do sangue2 a ser usado na exsanguineotransfusão1 deve ser de duas vezes a volemia32 do recém-nascido, o que corresponderá à substituição de cerca de 87% do volume sanguíneo do bebê. Correções bioquímicas podem e devem ser feitas no sangue2 a ser transfundido e no sangue2 do bebê, após a transfusão3.
Quais são as complicações possíveis da exsanguineotransfusão1 do recém-nascido?
Como ocorre em qualquer tipo de transfusão3, existem alguns pequenos riscos nesse procedimento, quase todos transitórios: reações alérgicas leves, febre33, dificuldade para respirar, ansiedade, náuseas34 ou dor no peito35. No entanto, se eles ocorrerem, a transfusão3 deve ser interrompida imediatamente e reiniciada mais tarde. Embora isso seja muito raro, pode acontecer que o sangue2 do doador esteja contaminado com organismos ou partículas infectantes que possam ser transmitidas ao paciente.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.