Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): o que é? Quais as causas? E os sintomas? Como são o diagnóstico, o tratamento e a evolução?
O que é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica de causa genética que acomete as crianças e que geralmente acompanha a pessoa por toda a vida. Suas manifestações são mais frequentes – ou mais nítidas – nos meninos que nas meninas.
Alguns autores acham que essa é uma doença “inventada” pela indústria farmacêutica, interessada em vender remédios, outros a descrevem como uma entidade nosográfica1 nítida e defendem sua existencial real. Na verdade, a enfermidade não tem uma “marca registrada”, seja no sentido sintomático2, seja no etiológico3, que assegure a sua existência, mas a mesma coisa acontece com enfermidades que hoje já têm a sua existência consagrada, como as depressões, a esquizofrenia4 ou a ansiedade, por exemplo. A verdade é que as pessoas que sofrem de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), seja ela meramente “um jeito diferente de ser” ou não, têm maior taxa de abandono escolar, reprovação, desemprego, divórcio e acidentes automobilísticos que as outras e melhoram substancialmente quando adequadamente tratadas. A Organização Mundial de Saúde5 reconhece a sua efetiva existência e na sua Classificação Internacional de Doenças, lista essa condição como um transtorno mental, sob o número F90 (transtornos hipercinéticos).
Quais são as causas do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
O fator causal principal parece ser uma susceptibilidade6 genética. Estima-se em 70% a concordância para o problema entre gêmeos idênticos e quando um dos pais tem o problema, a chance do filho também tê-lo é o dobro do normal. Se ambos os pais têm, a chance dos filhos é oito vezes maior. Essa maior ocorrência familiar pode, contudo, estar relacionada também ao aprendizado de um padrão de comportamento desatento e hiperativo. Fora isso, tem-se apontado maior incidência7 relacionada com problemas da gravidez8 e do parto e à exposição a determinadas substâncias (chumbo). Danos cerebrais perinatais no lobo frontal9, por meio de alteração de neurotransmissores (dopamina10 e noradrenalina11) podem afetar processos de atenção, motivação e planejamento, relacionando-se indiretamente com a doença. Problemas familiares, embora não sejam as causas únicas da doença, parecem torná-la mais aparente, como grande número de filhos, alto grau de brigas entre os pais, baixa instrução educacional, famílias com baixo nível socioeconômico, criminalidade dos pais, colocação em lar adotivo e/ou pais com transtornos psiquiátricos. Por outro lado, a idêntica prevalência12 do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em diversas regiões do globo parece indicar que as diferenças de estilo de educação ou das relações pais/filhos têm pouca ou nenhuma influência na geração do problema. Deve-se falar, então, no máximo, de predisposição genética e não de determinação genética.
Quais são os principais sinais13 e sintomas14 do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
Os principais sinais13 e sintomas14 do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) são: desatenção, inquietude e impulsividade. Em geral, as crianças afetadas são irrequietas e desatentas, apresentando dificuldades escolares e no relacionamento com os pais e com as demais crianças, e são etiquetadas com expressões como “bicho carpinteiro”, “avoadas”, “estabanadas”, “vivendo no mundo da lua”, etc. Geralmente têm problemas de comportamento, porque têm dificuldades de absorver regras e limites. Quando adultas essas pessoas têm desatenção para os problemas cotidianos bem como deficiências de memória. Geralmente são inquietos, vivem “inventado coisas”, “passam o carro na frente dos bois” e não conseguem relaxar, a não ser quando dormem. Frequentemente são considerados egoístas porque têm dificuldades de avaliar o próprio comportamento em função dos outros e costumam envolver-se com álcool e drogas. Nas provas escolares as crianças atingidas cometem frequentes erros não por falta de conhecimento, mas por distração e em geral mostram-se muito esquecidas (esquecem recados, material escolar, compromissos, etc.). Têm dificuldades de planejar as coisas ou de seguir o que tenha sido planejado para elas.
Como o médico diagnostica o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
O diagnóstico15 do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é eminentemente16 clínico e não há nenhum exame capaz de “selar” o diagnóstico15. Por isso, ele somente deve ser feito por profissional que conheça profundamente o assunto. O termo hiperatividade tem sido indevidamente empregado e muitas crianças têm sido rotuladas erroneamente como hiperativas. A primeira suspeita diagnóstica geralmente parte de educadores como psicopedagogos ou fonoaudiólogos, mas deve ser confirmada por um médico (preferencialmente psiquiatra infantil), juntamente com um psicólogo ou terapeuta ocupacional17. Hoje em dia já existem testes e questionários que ajudam no diagnóstico15 clínico e sabe-se que a área do cérebro18 envolvida nesse processo é a região orbital frontal, responsável pela inibição do comportamento e pela atenção sustentada. O diagnóstico15 diferencial deve ser feito com o transtorno bipolar, a depressão, outros problemas de conduta, etc.
Como o médico trata o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
Algumas pessoas têm os seus sintomas14 muito amenizados com o uso de estimulantes psíquicos, mas nem todas respondem positivamente ao tratamento. Em casos que não apresentam melhora não se justifica a continuidade dos mesmos; a duração da administração do medicamento deve decorrer das respostas de cada caso em si.
A utilização de medicamentos deve ser criteriosamente avaliada em função dos seus efeitos colaterais19 e de sua utilização em longo prazo, uma vez que alguns remédios podem causar dependência. O tratamento ideal deve basear-se, além dos medicamentos, em acompanhamento especializado, com psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional17 ou psicopedagogo. Mais de 80% dos portadores de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) beneficiam-se com o uso de medicamentos como o cloridrato de metilfenidato.
Para evitar que a criança se disperse, é recomendado que ela disponha de um ambiente silencioso e sem distrações para estudar/trabalhar. Aulas de apoio nas quais ela receba atenção mais bem focalizada e mais individualizada podem ajudar a melhorar seu desempenho nos estudos. É importante que os pais e os professores se focalizem em elogiar seu desempenho bom, mais do que punir seus erros. Famílias caracterizadas por alto grau de agressividade e impulsividade devem se submeter, elas próprias, à psicoterapia, junto com a criança.
Como evolui o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
Em alguns casos o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) desaparece aos poucos com a idade, mas em outros permanece mesmo na idade adulta, embora transformado e minimizado em seus efeitos. Em geral, os adultos acometidos são pessoas desatentas, esquecidas e agitadas, que não podem passar sem estarem “fazendo alguma coisa”.
Como evitar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
Não há como evitar-se o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mas há como minorar seus efeitos:
- Em casa, mantenha uma programação diária constante, hora certa para as refeições e para as atividades externas. Quando necessário, faça as alterações nessa programação antecipadamente e não em cima da hora.
- Na escola, procure restringir as distrações no ambiente do seu filho: o assente na primeira fila, longe das janelas ou de outros estímulos que possam distraí-lo.
- Elogie-o, sempre que possível, por comportamentos calmos e adequados.
- Cuide para que seu filho durma o suficiente.
- Dê para ele regras claras e consistentes.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.