Glicogenoses - como elas são?
O que são as glicogenoses?
As glicogenoses, também chamadas dextroses ou doenças do armazenamento de glicogênio1, são enfermidades secundárias a um erro no metabolismo2, o qual resulta em concentrações alteradas de glicogênio1 no organismo, principalmente no fígado3 e nos músculos4.
Existem mais de 10 diferentes tipos, dependendo do defeito enzimático encontrado. A condição foi primeiramente constatada por Von Gierke em 1929 e, por isso, uma das formas dessa deficiência foi denominada de Doença de Von Gierke.
Quais são as causas das glicogenoses?
As glicogenoses podem ser genéticas (herança autossômica5 recessiva) ou adquiridas. As de causas genéticas devem-se a um erro congênito6 do metabolismo2 em virtude da ausência ou deficiência enzimática envolvida na síntese ou degradação do glicogênio1. As adquiridas são causadas por intoxicação com o alcaloide7 castanospermina.
Qual é o mecanismo fisiológico8 das glicogenoses?
O glicogênio1 é a forma através da qual o organismo armazena a glicose9. Ele está presente em todas as células10 animais, sendo mais abundante no fígado3 e nos músculos4. A glicose9 ingerida chega ao fígado3 pela veia porta11. Quando há necessidade de uso da glicose9, ocorre uma “quebra” do glicogênio1 por meio de processo enzimático ocorrendo então liberação dela para a circulação12 sanguínea. Dessa forma, o fígado3 proporciona a liberação de glicose9 para vários órgãos, incluindo o cérebro13.
Quando o glicogênio1 não consegue ser “quebrado” devido à deficiência de algumas das enzimas envolvidas, este se acumula no órgão e o organismo sofre as consequências desse excesso e da falta de glicose9. Existem onze doenças distintas de armazenamento de glicogênio1. A deficiência da síntese de glicogênio1, embora não resulte no armazenamento de glicogênio1, é frequentemente classificada como glicogenose tipo 0, porque pode causar problemas semelhantes.
Quais são as principais características clínicas das glicogenoses?
As deficiências enzimáticas resultam em maior concentração do glicogênio1 em diversos tecidos do organismo. As glicogenoses são classificadas em doze tipos diferentes, nomeadas de acordo com o defeito enzimático específico de cada uma e os órgãos afetados.
A glicogenose tipo I representa cerca de 25% do total das glicogenoses e é caracterizada pela deficiência da enzima14 glicose9-6-fosfatase, responsável pela reação final do processo de glicogenólise15 e gliconeogênese16. Portanto, os indivíduos com esta doença são incapazes de converter a glicose9-6-fosfato em glicose9 livre para a circulação12 sanguínea, resultando no acúmulo excessivo de glicogênio1 no fígado3, rins17 e mucosa intestinal18.
A diferenciação clínica entre as glicogenoses às vezes é difícil, mas o tipo I é tomado aqui como exemplo por ser o mais grave e o de início mais precoce. A hipoglicemia19, convulsão20, hepatomegalia21, cetose e acidemia22 láctica23 já podem estar presentes desde o período neonatal ou aparecerem após alguns meses de vida. O fígado3 tem consistência habitual, superfície lisa, mas pode atingir a fossa ilíaca24 direita e esquerda.
Saiba mais sobre "Hipoglicemia19", "Convulsões", "Hepatomegalia21" e "Cetose".
Alguns sintomas25, são: fácies de boneca, sangramentos nasais frequentes, diarreia26 intermitente27, retardo de crescimento, adiposidade exagerada e musculatura diminuída. Com algum tempo de evolução da doença, pode-se encontrar: xantomas, alteração da retina28, pancreatite29, cálculo30 na vesícula biliar31, hipertensão32 pulmonar devido à produção anômala de aminas vasoativas como serotonina e doença renal33 crônica com nefromegalia34 e hipercalciúria35.
O adenoma36 hepático geralmente ocorre durante ou após a puberdade, mas pode se desenvolver em qualquer idade e se transformar em hepatocarcinoma37 após muitos anos.
Leia sobre "Pancreatite29", "Cálculos biliares" e "Hipertensão32 pulmonar".
Como o médico diagnostica as glicogenoses?
O diagnóstico38 deve partir dos sintomas25, mas como a glicogenose pode simular um quadro respiratório, a gasometria arterial ou venosa e a ausculta39 pulmonar são indispensáveis. A medida da glicemia40 e a constatação de hepatomegalia21 auxiliam no diagnóstico38. Para complementar o diagnóstico38, associa-se o quadro clínico a testes de tolerância oral à glicose9 e lactato41, em jejum e após dieta rica em carboidrato42.
O lactato41 é muito alto em jejum e diminui após a administração de glicose9 na dieta. Esses pacientes também apresentam triglicérides43, colesterol44, ureia45 e transaminases discretamente elevadas no sangue46. A biópsia47 hepática48 com dosagem da atividade enzimática e a análise molecular tornam o diagnóstico38 definitivo.
Como o médico trata as glicogenoses?
Para se manterem equilibradas, as crianças com glicogenose dependem de fonte exógena de glicose9. Por isso, quando submetidos a um jejum prolongado, como no caso de procedimentos cirúrgicos, por exemplo, devem receber infusão endovenosa de glicose9. A terapia nutricional deve ser constituída por alimentação sem açúcares de rápida absorção e com produtos ricos em amido. A utilização de infusão intragástrica contínua durante a noite geralmente é necessária na fase inicial até a adaptação à dieta.
A ingestão de alimentos deve ser fracionada em 5 a 6 refeições durante o dia. Alguns autores aconselham que o aleitamento materno49 seja feito a cada 3 horas, junto com a suplementação50 de glicose9 diluída em água. A introdução de outros alimentos pode ter início entre 4 e 6 meses de idade, devendo ser dada prioridade aos alimentos ricos em amido. A dieta com alto teor de proteína não é aconselhada.
Alimentos e medicações com galactose51 e frutose52 devem ser evitados e utilizadas fórmulas alimentares infantis sem lactose53. A suplementação50 de vitaminas e sais minerais, principalmente de cálcio, pode ser necessária devido à limitada ingestão de leite e frutas. A hiperuricemia necessita de medicações específicas.
Um transplante renal33 pode ser necessário, no caso de evolução para a insuficiência renal54 crônica. O transplante hepático é recomendado para crianças com importante déficit de estatura, as que não responderam ao tratamento dietético ou quando existe adenoma36 hepático, devido à possibilidade da transformação maligna.
Quais são as complicações possíveis das glicogenoses?
Os pacientes com glicogenoses têm um risco aumentado de osteoporose55.
Mais informações relacionadas em "Teste de tolerância à glicose9", "Insuficiência renal54 crônica", "Transplante renal33" e "Transplante de fígado3".
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.