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Doença de Gaucher: definição, causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução

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O que é a doença de Gaucher?

A doença de Gaucher é uma doença em que ocorre um acúmulo de glicocerebrosídeos1 em vários órgãos do corpo, prejudicando o funcionamento deles. Há três tipos da doença: tipo I, não neuropática2, que é a forma mais comum; tipo II, neuropática2 infantil aguda, que começa tipicamente dentro de seis meses após o nascimento e tipo III, neuropática2 crônica, que pode começar em qualquer momento na infância ou mesmo na idade adulta. A doença foi descrita originalmente pelo médico francês Philippe Gaucher, em 1882.

Quais são as causas da doença de Gaucher?

A doença de Gaucher é uma doença genética na qual ocorre uma deficiência da enzima3 glucocerebrosidase, levando a um acúmulo de glicocerebrosídeos1 nas células brancas do sangue4, especialmente nos macrófagos5 e também no baço6, fígado7, rins8, pulmões9, cérebro10 e medula óssea11. A doença é causada por uma mutação12 recessiva de um gene localizado no cromossomo13 1 e afeta igualmente homens e mulheres. Os três tipos da doença de Gaucher são autossômicos recessivos. Assim, ambos os pais devem ser portadores para que os filhos sejam afetados (apenas 25% da prole é afetada).

Qual é a fisiopatologia14 da doença de Gaucher?

Graças à mutação genética15, os macrófagos5 que deveriam limpar as células16 vermelhas e brancas do sangue17 são incapazes de fazê-lo totalmente e o produto residual se acumula sob a forma de fibrilas, transformando-se em “células de Gaucher”. No cérebro10, a enzima3 se acumula durante o desenvolvimento e a formação da bainha de mielina18 dos nervos, devido ao volume de lipídios complexos. Cada um dos tipos da doença tem sido associado a mutações específicas. Ao todo, cerca de 80 mutações são conhecidas. Elas ocorrem principalmente no pool genético judaico Ashkenazi.

Quais são as principais características clínicas da doença de Gaucher?

A doença de Gaucher é caracterizada por sinais19 de contusões, fadiga20, anemia21, baixa contagem de plaquetas22 no sangue17 e aumento do fígado7 e do baço6. As manifestações da doença podem incluir mau funcionamento do fígado7, distúrbios do esqueleto23 ou lesões24 ósseas que podem ser dolorosas, complicações neurológicas graves, inchaço25 dos gânglios linfáticos26 e, ocasionalmente, das articulações27 adjacentes, distensão abdominal, tonalidade acastanhada na pele28 e depósitos de gordura29 amarela nos olhos30.

Os sintomas31 do tipo I podem começar cedo na vida ou na vida adulta e incluem aumento do fígado7, aumento do baço6, o qual pode romper e provocar complicações adicionais, fraqueza do esqueleto23 e doença óssea. O aumento do baço6 pode causar anemia21, trombocitopenia32, leucopenia33. Normalmente, o cérebro10 não é afetado e raramente ocorre comprometimento renal34 ou dos pulmões9. As equimoses35 ocorrem facilmente, devido aos baixos níveis de plaquetas22 e a fadiga20 ocorre como consequência do baixo número de glóbulos vermelhos.

O tipo II exibe sintomas31 que incluem aumento do fígado7 e do baço6, lesão36 cerebral extensa e progressiva, distúrbios do movimento ocular, espasticidade37, convulsões, rigidez dos membros e dificuldades de sugar e engolir.

As manifestações do tipo III se caracterizam por sintomas31 neurológicos progressivos, mas mais suaves em comparação com a versão aguda ou tipo II, aumento do baço6 e/ou do fígado7, convulsões, falta de coordenação, irregularidades ósseas, problemas respiratórios, distúrbios dos movimentos oculares e doenças do sangue17, incluindo anemia21.

Como o médico diagnostica a doença de Gaucher?

O diagnóstico38 da doença de Gaucher pode ser feito por análises bioquímicas do sangue17 e pela análise de células sanguíneas39 que se mostram ao microscópio com a aparência de "papel enrugado".

Como o médico trata a doença de Gaucher?

Algumas formas de doença de Gaucher podem ser tratadas com terapia de substituição enzimática. Para aqueles pacientes com o tipo I da doença e a maioria do tipo III, o tratamento de substituição pode diminuir o tamanho do fígado7 e do baço6, reduzir anormalidades esqueléticas e reverter outras manifestações.

Como evolui a doença de Gaucher?

Pessoas gravemente afetadas podem ser mais susceptíveis à infecção40, devendo, por isso, fazer uso profilático de antibióticos em situações de risco de infecções41. Dependendo da gravidade da doença, os pacientes do tipo I podem viver até a idade adulta. As crianças afetadas pelo tipo II da doença geralmente morrem até os dois anos de idade. Os pacientes do tipo III muitas vezes vivem até seus primeiros anos da adolescência e idade adulta.

Como prevenir a doença de Gaucher?

Em se tratando de uma condição genética, não há como prevenir a doença de Gaucher. Contudo, o aconselhamento genético deve ser recomendado às famílias portadoras de mutações.

Quais são as complicações possíveis da doença de Gaucher?

Os portadores heterozigotos da doença de Gaucher têm risco cinco vezes maior de desenvolver a doença de Parkinson42 e têm risco aumentado de câncer43, em particular de mieloma44.

 

ABCMED, 2016. Doença de Gaucher: definição, causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1163469/doenca-de-gaucher-definicao-causas-sintomas-diagnostico-tratamento-e-evolucao.htm>. Acesso em: 16 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Glicocerebrosídeos: Substância gordurosa que normalmente é fragmentada nos lisossomos, compartimentos das células onde são degradados vários materiais que precisam ser eliminados do organismo. O acúmulo desse material de depósito se deve à falta ou mau funcionamento de uma enzima, conhecida como glicocerebrosidase.
2 Neuropática: Referente à neuropatia, que é doença do sistema nervoso.
3 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
4 Células Brancas do Sangue: Células sangüíneas brancas. Compreendem tanto os leucócitos granulócitos (BASÓFILOS, EOSINÓFILOS e NEUTRÓFILOS) como os não granulócitos (LINFÓCITOS e MONÓCITOS).
5 Macrófagos: É uma célula grande, derivada do monócito do sangue. Ela tem a função de englobar e destruir, por fagocitose, corpos estranhos e volumosos.
6 Baço:
7 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
8 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
9 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
10 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
11 Medula Óssea: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
12 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
13 Cromossomo: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
14 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
15 Mutação genética: É uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
16 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
17 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
18 Bainha de mielina: É uma bainha rica em lipídeos revestindo muitos axônios tanto no sistema nervoso central como no sistema nervoso periférico. Ela é um isolante elétrico que permite uma condução mais rápida e mais energeticamente eficiente dos impulsos nervosos. Esta bainha é formada pelas membranas celulares das células da glia (células de Schwann no sistema nervoso periférico e oligodendróglia no sistema nervoso central).
19 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
20 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
21 Anemia: Condição na qual o número de células vermelhas do sangue está abaixo do considerado normal para a idade, resultando em menor oxigenação para as células do organismo.
22 Plaquetas: Elemento do sangue (não é uma célula porque não apresenta núcleo) produzido na medula óssea, cuja principal função é participar da coagulação do sangue através da formação de conglomerados que tamponam o escape do sangue por uma lesão em um vaso sangüíneo.
23 Esqueleto:
24 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
25 Inchaço: Inchação, edema.
26 Gânglios linfáticos: Estrutura pertencente ao sistema linfático, localizada amplamente em diferentes regiões superficiais e profundas do organismo, cuja função consiste na filtração da linfa, maturação e ativação dos linfócitos, que são elementos importantes da defesa imunológica do organismo.
27 Articulações:
28 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
29 Gordura: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Os alimentos que fornecem gordura são: manteiga, margarina, óleos, nozes, carnes vermelhas, peixes, frango e alguns derivados do leite. O excesso de calorias é estocado no organismo na forma de gordura, fornecendo uma reserva de energia ao organismo.
30 Olhos:
31 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
32 Trombocitopenia: É a redução do número de plaquetas no sangue. Contrário de trombocitose. Quando a quantidade de plaquetas no sangue é inferior a 150.000/mm³, diz-se que o indivíduo apresenta trombocitopenia (ou plaquetopenia). As pessoas com trombocitopenia apresentam tendência de sofrer hemorragias.
33 Leucopenia: Redução no número de leucócitos no sangue. Os leucócitos são responsáveis pelas defesas do organismo, são os glóbulos brancos. Quando a quantidade de leucócitos no sangue é inferior a 6000 leucócitos por milímetro cúbico, diz-se que o indivíduo apresenta leucopenia.
34 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
35 Equimoses: Manchas escuras ou azuladas devido à infiltração difusa de sangue no tecido subcutâneo. A maioria aparece após um traumatismo, mas pode surgir espontaneamente em pessoas que apresentam fragilidade capilar ou alguma coagulopatia. Após um período de tempo variável, as equimoses desaparecem passando por diferentes gradações: violácea, acastanhada, esverdeada e amarelada.
36 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
37 Espasticidade: Hipertonia exagerada dos músculos esqueléticos com rigidez e hiperreflexia osteotendinosa.
38 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
39 Células Sanguíneas: Células encontradas no líquido corpóreo circulando por toda parte do SISTEMA CARDIOVASCULAR.
40 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
41 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
42 Doença de Parkinson: Doença degenerativa que afeta uma região específica do cérebro (gânglios da base), e caracteriza-se por tremores em repouso, rigidez ao realizar movimentos, falta de expressão facial e, em casos avançados, demência. Os sintomas podem ser aliviados por medicamentos adequados, mas ainda não se conhece, até o momento, uma cura definitiva.
43 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
44 Mieloma: Variedade de câncer que afeta os linfócitos tipo B, encarregados de produzir imunoglobulinas. Caracteriza-se pelo surgimento de dores ósseas, freqüentemente a nível vertebral, anemia, insuficiência renal e um estado de imunodeficiência crônica.
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