Tricotilomania: você tem mania de puxar os seus cabelos e arrancá-los?
O que é tricotilomania?
A tricotilomania (do grego: thrix = cabelo1 + tíllein = puxar e mania = loucura, frenesi) é um distúrbio crônico2 caracterizado pela falta de controle dos impulsos para arrancar fios de cabelos. Assim, a tricotilomania leva a uma perda auto-induzida e recorrente de cabelo1, podendo conduzir à calvície3. As crianças também podem exibir esse comportamento arrancando os pelos dos seus animais de estimação. É um transtorno comportamental, sendo muitas vezes crônico2 e difícil de tratar.
Quais são as causas da tricotilomania?
Ainda não se conseguiu determinar precisamente as causas do transtorno, mas sabe-se que ele pode ser desencadeado por depressão ou estresse e pode ser agravado pelo sedentarismo4. Nessa última condição, as mãos5 geralmente estão livres e podem passar a ser ocupadas nessa atividade. Mesmo os indivíduos que apresentam o transtorno em outras situações, o exacerbam quando ociosos.
Existem várias teorias sobre as possíveis causas da tricotilomania, nenhuma delas, no entanto, definitiva: desequilíbrio químico, problema genético ou hereditário (taxas de tricotilomania entre parentes de pacientes com transtorno obsessivo compulsivo ou TOC é maior do que o esperado ao acaso) e alergia6 devido a dieta inapropriada.
Qual é a “fisiopatologia” da tricotilomania?
Muitos pacientes relatam haver um sentimento crescente de tensão antes de puxar o cabelo1 e de gratificação ou alívio quando ele é arrancado. No entanto, algumas pessoas com tricotilomania não endossam essa ideia, já que muitos indivíduos com tricotilomania não chegam a perceber que estão arrancando os cabelos. De fato, a tricotilomania muitas vezes não é um ato consciente, mas ocorre em um estado semi-inconsciente de "transe". Dessa forma, ela pode ser subdividida em dois tipos: (1) consciente e (2) "automática".
A tricotilomania geralmente está associada a outros transtornos do espectro obsessivo-compulsivo, a transtorno dismórfico corporal, a roer as unhas7 e escarificar8 a pele9, aos transtornos de tiques e a transtornos alimentares. Essas compulsões podem ser contínuas ou sofrerem remissões periódicas em que a pessoa passa dias sem senti-las. As pessoas que sofrem de tricotilomania costumam brincar com os cabelos que arrancam, passando-os nos seus lábios, mordendo e até mesmo ingerindo-os (tricotilofagia).
Quais são as principais características clínicas da tricotilomania?
A tricotilomania pode restringir-se a uma determinada área do corpo ou se estender a várias delas. O couro cabeludo é o local mais comumente envolvido, seguido pelas sobrancelhas10, cílios11, rosto, braços e pernas. Algumas áreas menos comuns incluem a região pubiana12, axilas, barba e peito13.
Como o médico diagnostica a tricotilomania?
Se o paciente admite que puxa e arranca os cabelos, o diagnóstico14 se torna evidente. No entanto, se o paciente disfarçar seus sintomas15, pode dificultar o diagnóstico14. Nesses casos um diferencial deve ser feito com a alopécia16 areata, a deficiência de ferro, hipotireoidismo17, tinea capitis18, alopecia16 de tração, alopecia16 mucinosa e envenenamento por tálio19, condições que também levam à perda de cabelo1. Uma biópsia20 pode ser útil, ao revelar folículos pilosos com hemorragia21, cabelos fragmentados na derme22, folículos vazios e fios de cabelo1 deformados. Uma técnica alternativa para a biópsia20, especialmente para as crianças, é raspar uma parte da área envolvida e observar a rebrotagem de cabelos normais.
Quais são os efeitos negativos da tricotilomania?
A tricotilomania pode levar o indivíduo a depilar extensas áreas do corpo, alterando em muito a sua aparência normal. Isso cria um significativo problema estético, com o efeito adicional de baixar a autoestima, provocando vergonha e acanhamento. Algumas pessoas com tricotilomania procuram esconder seu problema usando chapéus, perucas, cílios11 postiços, lápis de sobrancelha ou mudando seu estilo de pentear o cabelo1.
Outras complicações podem incluir infecções23, perda permanente de cabelo1, lesão24 por esforço repetitivo, síndrome25 do túnel do carpo e obstrução gastrointestinal (se a pessoa ingere os pelos arrancados, o que acontece frequentemente).
Como o médico trata a tricotilomania?
Os medicamentos habitualmente utilizados, como os antidepressivos e os tranquilizantes, têm se mostrado pouco efetivos. A terapia comportamental, com sua técnica de Reversão de Hábitos tem provado ser mais eficaz, quando comparada aos medicamentos. O tratamento duplo (medicação + terapia) pode proporcionar uma ajuda em alguns casos. A hipnose também pode melhorar os sintomas15. Os grupos de apoio podem ser úteis no sentido de superar o problema.
Como evolui a tricotilomania?
A tricotilomania pode se iniciar já em lactentes26, porém mais frequentemente ela começa entre os 9 e 13 anos de idade e pode perdurar por toda a vida. Quando se inicia antes de cinco anos de idade, a condição geralmente é autolimitada. Em adultos, o aparecimento de tricotilomania pode ser secundário a distúrbios psiquiátricos e a evolução dos sintomas15 passa a depender da evolução dessa condição subjacente.
Quais são as complicações possíveis da tricotilomania?
Podem ocorrer infecções23 secundárias pelo arrancar dos pelos e ao coçar a região correspondente, mas outras complicações são raras.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.