Os casos de diabetes tipo 1 estão aumentando globalmente. Será que a obesidade também explica este crescimento?
Como aparece o diabetes tipo 11?
O tipo 1, que era conhecido como diabetes juvenil2, é uma doença auto-imune3 na qual o organismo ataca suas próprias células4 (as células4 beta do pâncreas5), destruindo a sua capacidade de produzir insulina6.
Como está sendo observado o crescimento da doença no mundo?
O primeiro sinal7 de que o diabetes tipo 11 está aumentando foi observado em 2006 pelo projeto da Organização Mundial de Saúde8 conhecido como DIAMOND. Este projeto revisou dados de 112 pesquisas sobre diabetes9 em 57 países e mostrou que o diabetes tipo 11 aumentou, em média, 5,3% ao ano na América do Norte, 4% na Ásia e 3,2% na Europa.
Um segundo trabalho, o EURODIAB, comparou a incidência10 de diabetes9 em 17 países e observou não só que o diabetes tipo 11 estava aumentando (cerca de 3,9% ao ano, em média) mas também que este crescimento era mais acentuado em crianças abaixo dos cinco anos de idade.
O que pode explicar o crescimento do diabetes tipo 11?
Mudanças genéticas em um curto período de tempo não explicam este aumento. Os fatores ambientais provavelmente poderão explicar este crescimento, de acordo com Giuseppina Imperatore, coordenadora de uma equipe de epidemiologistas na Division of Diabetes9 Translation do Centers for Disease Control and Prevention.
Os pesquisadores procuram por influências que ocorram globalmente e consideram a possibilidade de certos fatores terem mais importância em algumas regiões do que em outras.
A lista de possibilidades é grande:
Cientistas sugeriram que o glúten11, proteína presente no trigo, possa desempenhar um papel neste crescimento, já que os pacientes parecem estar em maior risco para desenvolver a doença celíaca. Além disso, o consumo de glúten11 proveniente de alimentos altamente processados tem crescido ao longo das décadas.
Os pesquisadores também avaliam quando os bebês12 começam a ser alimentados por raízes, pois os tubérculos armazenados podem ser contaminados por fungos microscópicos13 que parecem promover o desenvolvimento de diabetes9 em ratos.
Atualmente, o alvo de estudos são as infecções14 causadas por bactérias, vírus15 ou parasitas. A "hipótese higiênica" propõe que a exposição precoce a infecções14 ou organismos do solo ensina o sistema imunológico16 em desenvolvimento a se manter em equilíbrio e o impede de reagir de forma descontrolada num momento posterior da vida, quando encontra alérgenos17. Desta forma, viver em condições higiênicas, privando crianças de exposições precoces, pode alimentar uma epidemia de alergias futuras.
A versão da "hipótese higiênica" para o diabetes tipo 11 propõe que quando o sistema imunológico16 aprende a não reagir exageradamente a alérgenos17, também aprende a tolerar compostos estranhos a partir do próprio corpo e, portanto, impede o ataque auto-imune que destrói a capacidade de produzir insulina6, ou seja, impede o ataque às células4 beta do pâncreas5.
Algumas evidências circunstanciais suportam esta hipótese. Crianças com mais irmãos podem trazer infecções14 para casa, provindas de creche ou escola; estas crianças são menos propensas a serem hospitalizados por diabetes tipo 11. A doença também é menos comum em crianças que frequentam creches e, de acordo com pesquisas, mais comum em camundongos criados em ambientes estéreis.
Christopher Cardwell, professor de estatística médica da Universidade de Queen, em Belfast, realizou uma meta-análise de associações entre o diabetes tipo 11 e ordem de nascimento, idade materna no parto e nascimento por cesariana, os quais afetam os organismos a que as crianças são expostas. "Todos estes fatores pareciam estar associados", diz ele, "mas todos eles foram associações bastante fracas. Nenhuma delas foi de uma magnitude que poderia explicar a incidência10 crescente ao longo do tempo.
O que dizem as pesquisas mais recentes?
Recentemente, as pesquisas para explicar o aumento do diabetes tipo 11 tomaram um rumo inesperado. Alguns pesquisadores estão reconsiderando o papel de antigos adversários: o sobrepeso18 e a obesidade19.
Essa suspeita pode parecer contraditória, dado que estar acima do peso colabora para a produção de grandes quantidades de insulina6 (como no tipo 2), e não pouca insulina6. Mas alguns pesquisadores afirmam que o estresse de produzir tanta insulina6 pode esgotar as células4 beta do pâncreas5 e colaborar para que uma criança cujas células4 beta já estão sob estresse desenvolva o diabetes tipo 11. Essa ideia, chamada de "hipótese aceleradora ou de sobrecarga", propõe que "se uma criança é gordinha, a adiposidade extra irá desafiar as células4 beta do pâncreas5", diz Rebecca Lipton, professora emérita da Universidade de Chicago. "Em uma criança que já iniciou o processo auto-imune, as células4 beta vão apenas falhar mais rapidamente, porque elas estão sendo forçadas a colocar para fora mais insulina6 do que uma criança magra coloca", afirma.
Qual é o objetivo de conhecer melhor o crescimento desta doença?
Os cientistas querem fazer mais do que apenas explicar o aumento do diabetes tipo 11, eles querem evitar este crescimento. Infelizmente, se o excesso de peso é um dos principais contribuintes para o problema, essa tarefa não será fácil. Ninguém, até agora, tem sido capaz de diminuir a epidemia de obesidade19 global. Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins estimam que em 2048, todos os adultos americanos terão excesso de peso. Pelo menos se as tendências atuais se mantiverem.
Por isso é tão importante criar crianças (para não mencionar os adultos) fisicamente ativas, que se alimentem de maneira saudável e mantenham o peso corporal dentro de parâmetros considerados normais para a idade.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.