Diabetes Mellitus
Sinônimos:
Hiperglicemia1, diabetes2
Nomes populares:
Sangue3 doce, açúcar4 no sangue3
O que é Diabetes mellitus5?
Diabetes mellitus5 (DM) é uma condição na qual o pâncreas6 deixa de produzir insulina7 ou as células8 param de responder à insulina7 que é produzida, fazendo com que a glicose9 sangüínea não seja absorvida pelas células8 do organismo e causando o aumento dos seus níveis na corrente sangüínea.
Existem dois tipos principais da doença. O diabetes tipo 110 (DM1) e o tipo 2 (DM2).
Diabetes mellitus5 tipo 1. O que é?
O DM1 é o tipo de diabetes2 predominante na infância e na adolescência, a idade em que ela se inicia geralmente é de 10 aos 14 anos (pico de incidência11). Porém, a incidência11 (número de casos novos) do DM2 está aumentando nesta faixa etária nos últimos anos.
O diabetes tipo 110 resulta da destruição das células8 beta do pâncreas6 – células8 produtoras de insulina7. Esta destruição é mediada por respostas auto-imunes celulares. Ou seja, o próprio organismo destrói suas células8, levando ao aumento da glicose9 no sangue3 por déficit absoluto de produção de insulina7.
As manifestações clínicas na infância e na adolescência variam desde a cetoacidose – que muitas vezes é o evento inicial da doença, até uma hiperglicemia1 pós-prandial. As manifestações podem ser desencadeadas pela presença de infecção12 ou outra condição de estresse ao organismo. Apesar de rara na apresentação inicial, a obesidade13 não exclui o diagnóstico14 de DM1.
O DM1 associa-se com relativa freqüência a outras doenças auto-imunes como tireoidite de Hashimoto, doença celíaca, doença de Graves, doença de Adison, vitiligo15 e anemia perniciosa16. Recomenda-se investigar rotineiramente a doença auto-imune17 da tireóide e, se possível, também a doença celíaca nas pessoas que têm DM1, devido a sua maior prevalência18 (número de casos existentes de determinada doença).
Diabetes mellitus5 tipo 2. O que é?
O DM2 é considerado uma das grandes epidemias do século XXI e afeta quase 90% das pessoas que têm diabetes2, sendo o tipo mais comum.
Ocorre quando o nível de glicose9 (açúcar4) no sangue3 fica muito alto. A glicose9 é o combustível que as células8 do corpo usam para obter energia. O diabetes2 tipo 2 ocorre quando não há produção suficiente de insulina7 pelo pâncreas6 ou porque o corpo se torna menos sensível à ação da insulina7 que é produzida - a chamada resistência à insulina19. A insulina7 ajuda o corpo a levar a glicose9 para dentro das células8.
Os sintomas20 incluem aumento da freqüência urinária, letargia21, sede excessiva e aumento do apetite – muitas vezes não acompanhado de ganho de peso.
É uma doença crônica que pode causar complicações à saúde22; incluindo insuficiência renal23, doenças do coração24, derrame25 (acidente vascular cerebral26) e cegueira.
Em termos mundiais, cerca de 240 milhões de indivíduos apresentam DM, com uma projeção de 366 milhões para o ano de 2030, dos quais dois terços serão habitantes de países em desenvolvimento. Infelizmente, cerca de metade das pessoas com DM desconhecem que são portadores desta condição e não podem, dessa forma, prevenir suas complicações.
No Brasil, o número estimado de portadores de DM é de aproximadamente 16 milhões de pessoas.
Pré-diabetes27. O que significa este conceito?
É uma condição em que os níveis de glicose9 são mais altos que o normal, mas não tão altos para dar o diagnóstico14 de DM2 (o tipo mais freqüente). Pessoas com pré-diabetes27 têm maiores riscos para desenvolver diabetes2 tipo 2, doenças do coração24 e derrames (acidentes vasculares28 cerebrais). Uma vez cientes desta condição, podem iniciar medidas preventivas.
Quais são as causas do Diabetes Mellitus5?
No DM1, a causa básica é uma doença auto-imune17 que lesa irreversivelmente as células8 beta do pâncreas6 (células8 produtoras de insulina7). Nos primeiros meses após o início da doença, são detectados no sangue3 anticorpos29 - anticorpo30 anti-ilhota pancreática, anticorpo30 contra enzimas das células8 beta (anticorpos29 antidescarboxilase do ácido glutâmico - antiGAD, por exemplo) e anticorpos29 anti-insulina7.
No DM2, ocorrem diversos mecanismos de resistência à ação da insulina7. O estilo de vida moderno tem papel fundamental no desenvolvimento do diabetes2, quando consiste em hábitos que levam ao acúmulo de gordura31 principalmente na região abdominal. Tipo de distribuição de gordura31 que é mais relacionado ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares32.
O que se sente?
Os sintomas20 do aumento da glicemia33 são: sede excessiva, aumento do volume urinário e do número de micções34, hábito de urinar durante a noite, fadiga35, fraqueza, tonturas36, visão37 borrada, aumento de apetite e perda de peso.
Estes sintomas20 clássicos do diabetes2 muitas vezes passam despercebidos ou não são valorizados pelos portadores desta condição.
Estes sintomas20 tendem a ir se agravando e podem levar a complicações severas e agudas como a cetoacidose diabética38 (no DM1) e o coma39 hiperosmolar40 (no DM2), caso a doença não seja diagnosticada, nem tratada.
Os sintomas20 das complicações que ocorrem a longo prazo, ou seja, aquelas decorrentes da hiperglicemia1 mantida ao longo dos anos, envolvem alterações visuais, circulatórias, digestivas, renais, urinárias, neurológicas, dermatológicas, ortopédicas e problemas cardíacos.
Como o médico faz o diagnóstico14?
Além dos sintomas20 e sinais41 clássicos da doença, que podem não estar presentes precocemente, o diagnóstico14 laboratorial do Diabetes mellitus5 é estabelecido pela medida da glicemia33 no soro42 ou plasma43, após um jejum de 8 a 12 horas e também pela dosagem da glicemia33 2 horas após sobrecarga com glicose9 (glicemia33 2 horas após-sobrecarga). O diagnóstico14 sempre deve ser confirmado com uma segunda medida.
Os parâmetros para o diagnóstico14 de diabetes2 são:
Critérios para a presença de anormalidades da tolerância à glicose9, segundo a ADA-2005:
Categoria |
Glicemia de Jejum44 |
Glicemia33 2h pós-sobrecarga |
Normal |
<100 mg/dl45 |
<140 mg/dl45 |
Glicemia de jejum44 alterada (GJA) |
100-125 mg/dl45 |
- |
Tolerância à glicose9 diminuída (TGD) |
- |
140-199 mg/dl45 |
Diabetes2* |
126 mg/dl45 |
200 mg/dl45 |
Quando ambos os exames são realizados (glicemia de jejum44 e TOTG46 de 2h), GJA ou TGD podem ser diferenciados.
*O diagnóstico14 de diabetes2 requer confirmação em uma outra coleta.
(Adaptado da American Diabetes2 Association - ADA 2005)
Quais os objetivos do tratamento?
O objetivo principal é manter os níveis glicêmicos o mais próximo dos valores considerados normais. Também é importante manter os níveis adequados de colesterol47, controlar a pressão arterial48 e o peso corporal de acordo com o que se segue:
Glicemia33 plasmática (mg/dl45)*:
- Jejum: 110 ou 100 (ADA, 2004)
- Pós-prandial: 140-180
- Glicohemoglobina (%)*: 1% acima do limite superior do método
Colesterol47 (mg/dl45):
- Total: < 200
- HDL49: > 45
- LDL50: < 100
- Triglicérides51: < 150
Pressão arterial48 (mmHg):
- Sistólica: < 130**
- Diastólica: < 80**
Índice de Massa Corporal52 - IMC53*** (kg/m²): 20-25 kg/m².
* : Quanto ao controle glicêmico, deve-se procurar atingir valores os mais próximos do normal. Como muitas vezes não é possível, aceita-se, nesses casos, valores de glicose9 plasmática em jejum até 126 mg/dl45 e pós-prandial (duas horas) até 160 mg/dl45, e níveis de glicohemoglobina até um ponto percentual acima do limite superior do método utilizado. Acima desses valores, é sempre necessário realizar intervenção para melhorar o controle metabólico.
** : The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detectation, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure (JNC 7). JAMA 2003; 289:2560-72.
***: Índice de Massa Corporal52 – IMC53. É a medida mais usada na prática para saber se uma pessoa é considerada obesa ou não. Ele é calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros.
Quais são as complicações do Diabetes54 Mellitus?
O desenvolvimento das complicações crônicas está relacionado ao tempo de exposição à hiperglicemia1.
As complicações do diabetes54 são divididas em dois grupos.
O primeiro deles se refere à elevação brusca da glicose9 no sangue3, hiperglicemia1. Ela pode levar o paciente a urinar excessivamente, sentir muita sede, emagrecer, desidratar e até perder a consciência, chegando ao coma39 diabético, mais freqüente em pessoas com DM1.
O segundo grupo de complicações são as decorrentes da glicemia33 aumentada e mantida durante meses ou anos, podendo levar a alterações vasculares28 no coração24, nos olhos55 (retinopatia), nos rins56 (nefropatia57) e nos nervos (neuropatia58). Essas situações acontecem, principalmente, nos pacientes com o tipo 2 do diabetes2.
A doença cardiovascular é a primeira causa de mortalidade59 nos indivíduos com DM2, a retinopatia a principal causa de cegueira adquirida, a nefropatia57 uma das maiores responsáveis pelo ingresso em programas de diálise60 e o pé diabético importante causa de amputações de membros inferiores.
Mesmo com a glicemia33 controlada, existem exames que devem ser feitos periodicamente pelos diabéticos?
Caso o diabetes2 esteja sendo bem controlado, existem exames que podem ser feitos para monitorar as complicações do diabetes54 e evitar sua progressão. São eles:
- Dosagem de hemoglobina glicada61 (HbA1c62): deve ser mantida sempre menor do que 7%
- Exame de fundo de olho63: faz a análise da retina64 do diabético
- Dosagem da microalbuminúria65: verifica a presença de pequenas quantidades de proteínas66 na urina67 que podem causar nefropatia57
- Aferição da pressão arterial48
- Lipidograma ou dosagem de colesterol47
- Exame dos pés: para evitar as lesões68 do pé diabético e amputações de membros inferiores
Perguntas que você pode fazer ao seu médico:
- O que muda na minha rotina após o diagnóstico14 de diabetes2?
- Quais as minhas chances de ter um filho com diabetes2?
- Devo usar produtos light ou diet? Qual a diferença entre eles?
- Além do açúcar4, existem outros alimentos que não devo usar?
- Como aplicar corretamente a insulina7?
- O diabetes2 implica em alguma mudança na minha vida profissional?
- O que é o cálculo69 de contagem de carboidratos? Posso usar isso para comer doces usando insulina7 de ação ultra-rápida para evitar a hiperglicemia1?
Fontes:
Atualização Brasileira sobre Diabetes2 – 2006
Consenso Brasileiro sobre Diabetes2 – 2002
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.