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Doença de von Hippel-Lindau

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O que é a doença de von Hippel-Lindau?

A doença de von Hippel-Lindau é uma condição genética rara, caracterizada pela predisposição para desenvolver alguns tipos de tumores malignos e benignos durante a vida, principalmente tumores dos vasos sanguíneos1 e cistos preenchidos por líquidos, em vários órgãos, principalmente rins2 e pâncreas3. O médico Eugen von Hippel descreveu os angiomas dos olhos4 em 1940 e o Dr. Arvid Lindau os havia descrito no cérebro5 e na medula espinal6 em 1926. O nome da enfermidade é uma homenagem a eles.

Quais são as causas da doença de von Hippel-Lindau?

A doença de von Hippel-Lindau é uma doença hereditária monogênica7, autossômica8 dominante com 100% de penetrância9. A mutação genética10 está localizada no gene VHL, um gene supressor11 tumoral.

Qual é a fisiopatologia12 da doença de von Hippel-Lindau?

O gene VHL é um supressor11 tumoral cuja função é inibir a proliferação e diferenciação celular. As células somáticas13 do indivíduo com a doença de von Hippel-Lindau apresentam uma mutação14 germinal. Quando a proteína VHL está alterada ou ausente, outras proteínas15 não podem ser degradadas e se acumulam nas células16. O excesso de algumas delas estimula as células16 a se dividirem de forma anormal e desencadeia a produção de vasos sanguíneos1 quando eles não são fisiologicamente necessários. A divisão celular rápida e descontrolada, juntamente com a formação anormal de novos vasos sanguíneos1, pode levar ao desenvolvimento de cistos e tumores.

Quais são os principais sinais17 e sintomas18 da doença de von Hippel-Lindau?

A doença de von Hippel-Lindau afeta igualmente homens e mulheres e tem seu início geralmente na 2ª ou 3ª décadas de vida. No entanto, a idade em que aparecem os primeiros sintomas18, os órgãos em que a doença se manifesta e sua gravidade variam significativamente de pessoa para pessoa. Os sintomas18 ocasionados dependem do tipo e da localização dos tumores que podem se desenvolver.

Os hemangioblastomas (tumores vasculares19 do cérebro5), frequentemente estão localizados no cerebelo20, mas também no tronco cerebral21 e medula espinhal22. Em geral são benignos, mas causam sintomas18 através da compressão do tecido nervoso23 adjacente e podem causar dores de cabeça24 intensa, vômitos25, alteração da marcha e do equilíbrio. Quando desenvolvem-se na medula26 podem causar dor, alteração motora e alteração da sensibilidade.

Os localizados na retina27 são geralmente assintomáticos, mas podem provocar descolamento da retina27, edema macular28, glaucoma29 e perda visual. Tumores renais são a principal causa de morte nessa doença. Feocromocitoma30 (tumor31 endócrino32) pode levar a picos de hipertensão arterial33 e a outros tumores endócrinos. Tumores do saco endolinfático, que são adenocarcinomas papilares, podem causar zumbidos, vertigens34, diminuição da acuidade auditiva e, ainda, ataxia35, cefaleias36, náuseas37, vômitos25 e nistagmo38. Cistos em várias regiões do corpo, como rins2, pâncreas3 e epidídimo39, por exemplo, geram sintomas18 correspondentes.

Como o médico diagnostica a doença de von Hippel-Lindau?

A doença de von Hippel-Lindau deve ser suspeitada sempre que o indivíduo apresentar algum ou alguns dos tumores citados, principalmente se houver casos na família, já que a doença é fortemente hereditária. Essa suspeita fica reforçada quando o indivíduo apresenta dois tumores distintos ao mesmo tempo, com início precoce. O diagnóstico40 é confirmado pelo teste genético que envolve o estudo do gene VHL, já que as alterações deste gene são identificáveis em mais de 90% dos indivíduos com a doença de von Hippel-Lindau. Estudos de imagens podem ser usados para detectar tumores ou cistos. É possível fazer-se um diagnóstico40 pré-natal por meio da análise de células16 das vilosidades coriônicas41.

Como o médico trata a doença de von Hippel-Lindau?

O tratamento requer providências diferentes em cada caso, conforme a manifestação clínica da doença. A cirurgia é o principal tratamento para tumores.

Como prevenir a doença de von Hippel-Lindau?

Não há como prevenir a doença de von Hippel-Lindau.

Como evolui a doença de von Hippel-Lindau?

A doença de von Hippel-Lindau pode ser geneticamente transmitida a outros membros da família, em virtude do que o teste genético é importante na identificação dos indivíduos portadores. A gestão da condição deve incluir vigilância ao longo da vida e testes laboratoriais. O prognóstico42 depende da ocorrência de tumores múltiplos. A esperança média de vida é estimada em 50 anos, mas a vigilância regular, detecção e tratamento precoce dos tumores podem reduzir a morbidade43 e mortalidade44.

Quais são as complicações possíveis da doença de von Hippel-Lindau?

As complicações da doença de von Hippel-Lindau são aquelas próprias de cada uma de suas múltiplas apresentações.

ABCMED, 2015. Doença de von Hippel-Lindau. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/792937/doenca-de-von-hippel-lindau.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Vasos Sanguíneos: Qualquer vaso tubular que transporta o sangue (artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias).
2 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
3 Pâncreas: Órgão nodular (no ABDOME) que abriga GLÂNDULAS ENDÓCRINAS e GLÂNDULAS EXÓCRINAS. A pequena porção endócrina é composta pelas ILHOTAS DE LANGERHANS, que secretam vários hormônios na corrente sangüínea. A grande porção exócrina (PÂNCREAS EXÓCRINO) é uma glândula acinar composta, que secreta várias enzimas digestivas no sistema de ductos pancreáticos (que desemboca no DUODENO).
4 Olhos:
5 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
6 Medula Espinal:
7 Monogênica: Em biologia, é relativo à geração de filhos ou só do sexo masculino, ou só do sexo feminino. Em genética, é a condição de uma característica cuja expressão ou intensidade é determinada pela ação de um único gene.
8 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
9 Penetrância: Penetrância é a porcentagem de indivíduos com determinado alelo (dominante ou recessivo) que exibem o fenótipo associado a ele. A expressividade mede o quanto determinado alelo é expresso em um fenótipo. Havendo penetrância variável, a variação genética é mascarada.
10 Mutação genética: É uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
11 Supressor: 1. Que ou o que suprime. 2. Em genética, é o gene que torna o fenótipo idêntico àquele determinado pelo alelo não mutante (diz-se de mutação).
12 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
13 Células somáticas: As células somáticas são quaisquer células dos organismos multicelulares que não estejam diretamente envolvidas na reprodução, tais como as células epiteliais. São células cujo núcleo se divide apenas por mitose, ao contrário das células germinativas, que podem sofrer meiose, para formar os gametas.
14 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
15 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
16 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
17 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
18 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
19 Vasculares: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
20 Cerebelo: Parte do encéfalo que fica atrás do TRONCO ENCEFÁLICO, na base posterior do crânio (FOSSA CRANIANA POSTERIOR). Também conhecido como “encéfalo pequeno“, com convoluções semelhantes àquelas do CÓRTEX CEREBRAL, substância branca interna e núcleos cerebelares profundos. Sua função é coordenar movimentos voluntários, manter o equilíbrio e aprender habilidades motoras.
21 Tronco Cerebral: Parte do encéfalo que conecta os hemisférios cerebrais à medula espinhal. É formado por MESENCÉFALO, PONTE e MEDULA OBLONGA.
22 Medula Espinhal:
23 Tecido Nervoso:
24 Cabeça:
25 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
26 Medula: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
27 Retina: Parte do olho responsável pela formação de imagens. É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Possui duas partes: a retina periférica e a mácula.
28 Edema macular: Inchaço na mácula.
29 Glaucoma: É quando há aumento da pressão intra-ocular e danos ao nervo óptico decorrentes desse aumento de pressão. Esses danos se expressam no exame de fundo de olho e por alterações no campo de visão.
30 Feocromocitoma: São tumores originários das células cromafins do eixo simpático-adrenomedular, caracterizados pela autonomia na produção de catecolaminas, mais freqüentemente adrenalina e/ou noradrenalina. A hipertensão arterial é a manifestação clínica mais comum, acometendo mais de 90% dos pacientes, geralmente resistente ao tratamento anti-hipertensivo convencional, mas podendo responder a bloqueadores alfa-adrenérgicos, bloqueadores dos canais de cálcio e nitroprussiato de sódio. A tríade clássica do feocromocitoma, associado à hipertensão arterial, é composta por cefaléia, sudorese intensa e palpitações.
31 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
32 Endócrino: Relativo a ou próprio de glândula, especialmente de secreção interna; endocrínico.
33 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
34 Vertigens: O termo vem do latim “vertere” e quer dizer rodar. A definição clássica de vertigem é alucinação do movimento. O indivíduo vê os objetos do ambiente rodarem ao seu redor ou seu corpo rodar em relação ao ambiente.
35 Ataxia: Reflete uma condição de falta de coordenação dos movimentos musculares voluntários podendo afetar a força muscular e o equilíbrio de uma pessoa. É normalmente associada a uma degeneração ou bloqueio de áreas específicas do cérebro e cerebelo. É um sintoma, não uma doença específica ou um diagnóstico.
36 Cefaléias: Sinônimo de dor de cabeça. Este termo engloba todas as dores de cabeça existentes, ou seja, enxaqueca ou migrânea, cefaléia ou dor de cabeça tensional, cefaléia cervicogênica, cefaléia em pontada, cefaléia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaléias ou dores de cabeça. A cefaléia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea (16% da população).
37 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
38 Nistagmo: Movimento involuntário, rápido e repetitivo do globo ocular. É normal dentro de certos limites diante da mudança de direção do olhar horizontal. Porém, pode expressar doenças neurológicas ou do sistema de equilíbrio.
39 Epidídimo: O epidídimo é um pequeno ducto, com cerca de seis centímetros de comprimento, enrolado sobre si mesmo, que coleta e armazena os espermatozóides produzidos pelo testículo. Localiza-se atrás do testículo, no saco escrotal, e desemboca na base do ducto deferente, o canal que conduz os espermatozóides até a próstata.
40 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
41 Vilosidades coriônicas: A superfície da bolsa amniótica é recoberta por projeções chamadas vilosidades coriônicas, que penetram no endométrio. Ao redor das vilosidades formam-se lacunas por onde circula o sangue materno. Assim elas permitem trocas de substâncias entre o sangue do embrião, que circula nas vilosidades, e o sangue materno, que circula nessas lacunas. Alimento e oxigênio passam do sangue da mãe para o feto, enquanto excreções e gás carbônico fazem o caminho inverso. As vilosidades coriônicas são formadas a partir de um acúmulo de células oriundas do citotrofoblasto que se projetam para o sinciciotrofoblasto iniciando esse desenvolvimento no final da segunda semana de gestação quando são classificadas como primárias. Nas semanas seguintes, tornam-se ramificadas e se denominam vilosidades coriônicas secundárias e posteriormente, terciárias quando, então, formam a parte funcional da membrana placentária na porção embrionária.
42 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
43 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
44 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
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