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Ácido lático e exercícios físicos - efeitos no organismo

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O que é o ácido lático?

O ácido lático ou láctico (do latim: lactis = leite) é um composto orgânico de função mista ácido-álcool que participa de vários processos bioquímicos orgânicos. No organismo humano, o ácido lático resulta da metabolização celular da glicose1, com fins energéticos. Por isso, habitualmente fala-se dele quando se fala da prática de exercícios físicos.

O ácido láctico pode ser obtido a partir do açúcar2 do leite (lactose3), do amido, do açúcar2 da cana (sacarose) e é naturalmente encontrado no suco de carne, leite azedo, nos músculos4 e em alguns órgãos de algumas plantas ou animais.

O organismo humano produz ácido lático em quantidades expressivas, durante a realização de exercícios físicos. Quando há atividade física intensa é comum haver um excesso de ácido lático, que é formado num ritmo muito mais rápido do que é eliminado, o que, por vezes, ocasiona muito cansaço e dores musculares. No ambiente celular, o ácido lático se transforma em lactato5, que é a forma ionizada deste ácido.

O ácido lático foi descoberto pelo químico sueco Carl Wilhelm Scheele, no leite coalhado.

Qual é a fisiopatologia6 do ácido lático?

A célula7 metaboliza a glicose1 até transformá-la em dióxido de carbono e água e daí obtém uma boa quantidade de energia química. A primeira fase desta via metabólica dura até a formação de piruvato8 e gera pouca quantidade de energia por molécula de glicose1, mas é muito rápida. A segunda fase, em que o piruvato8 dá origem a uma grande quantidade de energia, ocorre de forma muito lenta. Apesar destas duas fases normalmente surgirem em sequência, nem sempre o piruvato8 entra na mitocôndria9 para seguir a segunda fase da via metabólica.

De fato, em algumas situações de maior exigência energética, por unidade de tempo, algumas células10 “optam” por fazer uma quebra entre as duas fases, transformando diretamente piruvato8 em lactato5. Este "desvio" permite que a fase rápida possa ocorrer de forma independente da fase lenta e, assim, a produção de lactato5 se dissocia das duas fases do metabolismo11 da glicose1.

Com esta estratégia, a célula7 consegue, durante um curto período, degradar muitas moléculas de glicose1 por unidade de tempo e, dessa forma, gerar grande quantidade de energia e fazer face12 a situações de maiores exigências energéticas, como nos exercícios físicos intensos, por exemplo, produzindo, contudo, mais lactato5.

A maior ou menor produção de lactato5 pelos músculos4 esqueléticos e sua concentração sanguínea depende não só da massa muscular exercitada, mas, também, do tipo de fibras musculares13 recrutadas em cada instante, porque há fibras com capacidade de especializar-se metabolicamente numa das duas fases acima referidas, permitindo principalmente a fase rápida ou a lenta e o acúmulo ou não de lactato5.

Quais são os efeitos do ácido lático sobre o organismo?

O acúmulo de ácido lático é uma das causas das dores musculares pós-exercício, embora não a única, no entanto, ele tem também propriedades orgânicas positivas. Ele é um combustível útil do músculo e não um catabólito14, como se pensava. Ele também é umectante e hidratante da pele15 e por isso é muito utilizado na indústria de cosméticos. Além de hidratar, também atua como rejuvenescedor e clareador da pele15.

Na Medicina, o ácido lático é usado como antisséptico16 capaz de inibir o crescimento de microrganismos patogênicos, também é usado no tratamento de problemas de pele15 como dermatoses, acnes, verrugas, hiperceratoses, rugas e outros. Outros processos não orgânicos, como o curtimento de couro, o refino de óleo de soja, a fabricação de polímeros e o tingimentos de tecidos, por exemplo, também o utilizam.

Em resumo: no organismo, o músculo produz ácido lático a partir da glicose1. Quanto mais em forma a pessoa estiver, mais adaptado o seu músculo vai estar para usá-lo e não deixá-lo acumular-se. Ou seja, quanto maior o músculo, mais o sistema de queima de ácido lático ficará eficiente. O ácido lático pode se acumular em excesso, nas condições em que a velocidade de sua produção supera a de sua eliminação, como nos exercícios intensos, provocando dores musculares.

Quando uma pessoa realiza esforço físico, seu organismo "queima" a glicose1 que está armazenada no corpo, juntamente com o oxigênio proveniente da respiração. Essa reação produz energia. Se o exercício estiver além do que a pessoa está condicionada, o organismo queimará a glicose1 sozinha e produzirá ácido lático. O melhor remédio para combater esse excesso é fazer mais exercícios, embora em menores intensidades. Esse procedimento faz com que uma parte do ácido lático passe a ser queimada. Outro procedimento é massagear o local dolorido, aumentando a irrigação sanguínea da região e facilitando a eliminação do ácido. Entretanto, o ácido lático provavelmente não é o único responsável pelas dores pós-exercícios, que podem também ser causadas por microlesões nos músculos4. A excreção do excesso de ácido lático é feita pela urina17 e pelo suor em cerca de 25 minutos de repouso.

 

ABCMED, 2016. Ácido lático e exercícios físicos - efeitos no organismo. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1266213/acido-latico-e-exercicios-fisicos-efeitos-no-organismo.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
2 Açúcar: 1. Classe de carboidratos com sabor adocicado, incluindo glicose, frutose e sacarose. 2. Termo usado para se referir à glicemia sangüínea.
3 Lactose: Tipo de glicídio que possui ligação glicosídica. É o açúcar encontrado no leite e seus derivados. A lactose é formada por dois carboidratos menores, chamados monossacarídeos, a glicose e a galactose, sendo, portanto, um dissacarídeo.
4 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
5 Lactato: Sal ou éster do ácido láctico ou ânion dele derivado.
6 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
7 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
8 Piruvato: Ácido pirúvico ou piruvato é um composto orgânico contendo três átomos de carbono (C3H4O3), originado ao fim da glicólise. Em meio aquoso, ele dissocia-se formando o ânion piruvato, que é a forma sob a qual participa de processos metabólicos.
9 Mitocôndria: Organelas semi-autônomas que se auto-reproduzem, encontradas na maioria do citoplasma de todas as células, mas não de todos os eucariotos. Cada mitocôndria é envolvida por uma membrana dupla limitante. A membrana interna é altamente invaginada e suas projeções são denominadas cristas. As mitocôndrias são os locais das reações de fosforilação oxidativa, que resultam na formação de ATP. Elas contêm RIBOSSOMOS característicos, RNA DE TRANSFERÊNCIA, AMINOACIL-T RNA SINTASES e fatores de alongação e terminação. A mitocôndria depende dos genes contidos no núcleo das células no qual se encontram muitos RNAs mensageiros essenciais (RNA MENSAGEIRO). Acredita-se que a mitocôndria tenha se originado a partir de bactérias aeróbicas que estabeleceram uma relação simbiótica com os protoeucariotos primitivos.
10 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
11 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
12 Face: Parte anterior da cabeça que inclui a pele, os músculos e as estruturas da fronte, olhos, nariz, boca, bochechas e mandíbula.
13 Fibras Musculares: Células grandes, multinucleadas e individuais (cilídricas ou prismáticas) que formam a unidade básica do tecido muscular esquelético. Constituídas por uma substância mole contrátil, revestida por uma bainha tubular. Derivam da união de MIOBLASTOS ESQUELÉTICOS com o sincício, seguida de diferenciação.
14 Catabólito: Relativo ao catabolismo, ou seja, relativo à fase do metabolismo em que ocorre a degradação pelo organismo das macromoléculas nutritivas, com consequente liberação de energia.
15 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
16 Antisséptico: Que ou o que impede a contaminação e combate a infecção.
17 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
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