A criança que vai para a creche
Deixar na creche ou não?
As “creches” de antigamente eram as pracinhas públicas, onde as mães se reuniam para conversar e contar as últimas novidades de seus filhos e trocar ideias com outras mães, enquanto as crianças brincavam assentadas na areia, tomando sol. Hoje em dia, brincar numa pracinha pública muitas vezes tornou-se algo inseguro e tomar o sol da manhã nem sempre é visto como algo saudável, pelo risco de um possível câncer1 de pele2. Muitas regras a serem seguidas... Pouca vitamina3 D para nossos filhos, muitos medos sendo cultivados... Mas isso já é outra história...
À medida que as mães começaram a trabalhar fora e precisaram ser “substituídas” por outros(as) cuidadores(as), surgiu a questão: babá ou creche? Não há uma resposta comum que valha em todos os casos, os pais devem pensar e decidir juntos o que é melhor para os seus filhos.
Numa boa creche (e isto precisa ser bem pesquisado), o bebê estará sob o cuidado de pessoas especializadas, fazendo atividades específicas e adequadas para a sua idade e recebendo cuidados de uma equipe treinada para esta finalidade. Espera-se que a criança seja acolhida com carinho, tenha bons atrativos para seu entretenimento, como brinquedos, livros, formas, cores, texturas diferentes, profissionais que leiam histórias, etc. Mesmo uma boa babá pode não ter conhecimentos suficientes para executar tão bem essas habilidades e o seu “bom senso” pode levá-la a atitudes muito inadequadas. Isso sem contar que uma boa babá é difícil de ser encontrada.
No entanto, é uma experiência traumática para toda mãe deixar um filho pequeno, muitas vezes ainda de colo4, aos cuidados de pessoas estranhas. Também para a criança essa pode ser uma situação difícil, mas há um lado positivo nessa experiência. Basta saber explorá-lo. É a primeira separação real entre a criança e a mãe, marcando a entrada do pequeno no mundo social, fora da família. A criança vai, desde cedo, ganhando autonomia, treinando certas habilidades, aprendendo a conviver com várias pessoas. Ali começa o processo de formação de amizades, de compartilhamento e colaboração mútua, de desenvolvimento da linguagem e de conhecimento do mundo. As brincadeiras entre as crianças das creches contribuem com a socialização, treinando-as para os processos de colaboração e competição. Apenas, não se deve utilizar o pretexto da socialização antes da hora! Cada criança é única! Algumas, até um ano ou um ano e meio de idade, gostam de brincar sozinhas e a presença de outras crianças, em geral, não faz a menor diferença para elas. Logo, pouca ou nenhuma socialização irá ocorrer nesta idade. Não tem importância. A creche deve respeitar essa individualidade da criança. À medida que ela se aproximar de dois anos, a interação começará a se fazer presente e brincar em grupo se tornará algo muito divertido para ela.
O que é uma boa creche?
Existem milhares de creches. Muitas são boas, mas nenhuma é igual à outra. De um modo geral, uma boa creche se caracteriza pela limpeza, higiene, organização do ambiente e pelo atendimento adequado aos bebês5: pegar no colo4 na hora de oferecer a mamadeira, “conversar” com o bebê, ter uma rotina para atender às necessidades físicas e emocionais do bebê, vigilância a todo o momento, etc. São importantes ainda os cuidados com a escolha de uma alimentação saudável, a existência de músicas de boa qualidade para as crianças, o preparo para a ocorrência de pequenos acidentes e o número adequado de cuidadores. Até um ano e meio de idade deve existir pelo menos um cuidador para cada cinco crianças, no máximo.
Mas como tudo na vida, os resultados dessa escolha no longo prazo, só o tempo dirá!
Qual é a idade ideal para a criança ir para a creche?
Em geral a criança se alimenta (mama6) exclusivamente no peito7 da mãe até os seis meses de idade. Seria muito complicado ir para a creche antes disso. Além disso, a mãe que trabalha fora de casa está de licença maternidade na maior parte desse período e tem menos necessidade da creche. A partir de então a criança já recebe algum outro alimento que não somente o leite materno, como sucos naturais e papinhas, coisas que podem ser dadas a ele também na creche. Ademais, até seis a nove meses de idade, a memória da criança só retém a imagem da mãe por um tempo muito breve e é mais fácil ficar sem ela, o que facilita em muito sua adaptação à creche. Por tudo isso, essa é a idade ideal para o ingresso no berçário.
A adaptação à creche
Nessa idade do bebê o problema da adaptação parecer ser mais do adulto que da criança. Para a mãe, especialmente, essa é uma situação difícil. Paradoxalmente, seu narcisismo normal muitas vezes também a faz sofrer quando constata que seu filho se adaptou facilmente à creche, sem a sua presença. Nos primeiros dias é importante que a mãe, o pai ou outro cuidador esteja por perto e faça seu afastamento aos poucos, oferecendo o colo4 na hora do choro. Se o bebê estranhar o lugar, ponha-o assentado para que ele enxergue os demais à sua volta e procure apaziguá-lo “conversando” com ele.
A criança pequena que ainda não consegue falar para se expressar comunica seus sentimentos de separação através do choro, recusa de alimento ou mesmo ficando doente. Isso é normal. A criança que começa a conviver com outras fica mais exposta a vírus8 e bactérias normalmente existentes nas pessoas, mas às quais ela não estava acostumada. Por isso, é comum que comece a apresentar diversos quadros infecciosos. Mas até isso tem seu lado bom: a criança está adquirindo suas imunidades. Por outro lado, se ela apresenta um quadro infeccioso ativo não deve ir à creche, para não transmiti-lo a outras crianças. A creche deve ser informada sobre as peculiaridades de saúde9 da criança que está recebendo, bem como de suas peculiaridades alimentares e reações específicas a medicações. Deve contar com meios de rápida comunicação com os pais e o pediatra da criança em caso de eventuais emergências.
Observação:
O presente texto teve a supervisão da Psicopedagoga Miriam Regina Souza Moreira, cofundadora da escola “O BALÃO VERMELHO”, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.