O nosso corpo e as mudanças da imagem corporal
O que é imagem corporal?
Imagem corporal é a figuração que o indivíduo faz em sua mente, do seu corpo e das diversas partes dele. Essa imagem é parte essencial da identidade pessoal. E a imagem corporal não se restringe apenas à forma do corpo, mas também a todos os dados fornecidos pelos sentidos (movimentos, postura, odores, gostos, etc.). Ela é uma formação complexa, por um lado formada pelo conjunto de sensações sinestésicas objetivas, dadas pelos sentidos (audição, visão1, tato, paladar2) e por outro, por um importante fator subjetivo, de natureza psicológica. Estrutura-se sobre a base de componentes neurológicos e se liga fundamentalmente às percepções exteroceptivas3, proprioceptivas4 e interoceptivas5, à capacidade e funcionamento das partes do corpo, à consciência da magnitude dos esforços necessários para realizar as diversas ações e à consciência da posição do corpo durante elas. Além disso, influi sobre o indivíduo a opinião emitida pelas demais pessoas e o feedback das atitudes e atos da própria pessoa: sou feio ou bonito?, sorridente ou sisudo?, brusco ou delicado?. Mais que o espelho ou que qualquer noção interna imanente6, são as reações das outras pessoas que fornecem essas impressões. Sem dúvidas que o espelho também tem grande importância. Lacan chega a descrever uma “fase do espelho”, que se dá por volta dos dois e três anos de idade e na qual o indivíduo passa de uma experiência de corpo fragmentado para a de um corpo unificado, como experiência sintética de suas partes. As experiências objetivas e subjetivas nem sempre são concordantes e por isso é comum que as opiniões do indivíduo sobre o próprio corpo difiram das impressões que dele têm as demais pessoas. Se pedirmos a uma pessoa que se defina como alta ou baixa, gorda ou magra, loura ou morena, etc., suas opiniões diferirão em muito das que dela têm outras pessoas. Em algumas enfermidades como a esquizofrenia7, a anorexia8 mental, a histeria, etc. a imagem que o indivíduo faz do seu corpo pode estar muito distorcida.
A imagem corporal é uma aquisição lenta e paulatina e ainda na infância, por volta dos cinco ou seis anos de idade já estão estabelecidas as suas bases, mas o corpo, objetivamente, e a imagem corporal, por consequência, sofrem modificações durante toda a vida. Em condições normais, a formulação precoce da imagem corporal pode ser lapidada, porém será preservada, no essencial, ao longo da vida. Desde a infância até o envelhecimento, passando pela adolescência, o corpo e a imagem corporal estão em constante mudança. Da mesma forma, a ideia de “dentro” ou “fora” e dos limites corporais são diferentes em uma criança e em um adulto. Uma vez estabelecida, a imagem corporal adquire uma grande estabilidade e não se modifica bruscamente, a não ser nas doenças mentais, mesmo quando o corpo se modifica objetivamente. Os sonhos costumam mostrar o indivíduo com seu corpo antigo, mesmo depois que ele se modificou muito, objetivamente. Indivíduos com sequelas9 motoras que o impedem de certas atividades na vida de vigília, por exemplo, sonham as estar executando normalmente.
Quais são as mais importantes mudanças da imagem corporal?
Num sentido objetivo, o corpo sofre mudanças com o passar dos anos, com as variações do peso, para mais ou para menos; com os acidentes; doenças; mutilações e deformidades congênitas10, além das mudanças fisiológicas11 próprias de cada idade, das quais as mudanças ocasionadas pela puberdade e pelo envelhecimento são as mais notáveis. Aparecem os seios12 e pelos, modifica-se a voz, alteram-se várias proporções corporais, criam-se e desaparecem massas musculares e surgem várias funções novas, como a ovulação13, a menstruação14 e a ejaculação15.
Com o envelhecimento, certas capacidades físicas e mentais entram em declínio. A força e agilidade musculares diminuem, a pele16 se torna mais fina, o cabelo17 cai, a voz fica mais trêmula, os passos são mais miúdos e oscilantes etc.
Quais são as mudanças artificialmente provocadas no corpo?
Desde tempos imemoriais o homem sentiu necessidade de modificar o corpo que lhe foi dado pela natureza. A maneira mais antiga de fazer isso talvez tenha sido enfeitá-lo com ornamentos. Muitos povos primitivos usam recursos mecânicos para alterá-los: provocam um alongamento anormal do pescoço18, um crescimento exagerado dos lábios, perfuram orelhas19 ou narinas, escavam os dentes, tornando-os serrilhados, colorem-nos com tintas, etc. Mesmo hoje em dia as pessoas ornamentam o corpo com brincos, maquiagens e pinturas, sem falar na efervescente onda de tatuagens, desde as mais discretas até outras muito chamativas que chegam a cobrir todo o corpo, até as cirurgias estéticas, muitas vezes desnecessárias.
Outras mudanças são provocadas involuntariamente, pelas doenças, acidentes e malformações20 e, em geral, são muito mal recebidas pelas pessoas e abatem muito a autoestima delas. Ocorre ainda que essas mudanças têm um efeito aversivo sobre as demais pessoas que, inconscientemente, passam a evitá-las.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.