Pericardiocentese: conceito, indicações, contraindicações, como é realizada, evolução e complicações possíveis
O que é pericardiocentese1?
Pericardiocentese1 é um procedimento médico realizado há mais de 150 anos para a drenagem2 do derrame3 pericárdico, que é o acúmulo anormal de líquido no espaço pericárdico. O pericárdio4 é uma membrana que envolve o coração5.
O que é espaço pericárdico?
O coração5 é contido por uma espécie de saco que o envolve, chamado pericárdio4, que é composto por duas membranas, uma fibrosa, mais externa, e outra serosa, mais interna, as quais são separadas por um espaço virtual, chamado espaço pericárdico. Normalmente, entre ambas as membranas existe apenas uma fina camada de uma substância graxa especial que permite o deslizamento de uma sobre a outra. O acúmulo anormal de líquido (em geral, sangue6 ou plasma7) no espaço entre elas é chamado derrame3 pericárdico.
Quem deve fazer pericardiocentese1?
A pericardiocentese1 deve ser feita para aliviar os sintomas8 causados pelo derrame3 pericárdico ou para estabelecer o diagnóstico9 em casos ainda não esclarecidos. A remoção de apenas quinze a vinte mililitros de líquido do derrame3 pericárdico já é o suficiente para produzir uma significativa melhora das condições hemodinâmicas do paciente e para propiciar um acentuado alívio dos sintomas8, embora possam ser retirados mais de cinquenta mililitros.
Quem não deve fazer pericardiocentese1?
Nos casos de urgência10, nos quais há risco de vida, as contraindicações para a pericardiocentese1 não devem ser levadas em conta e a pericardiocentese1 deve ser realizada sempre que necessário. Contudo, se for realizada apenas com propósitos diagnósticos ou terapêuticos não urgentes, devem ser consideradas como contraindicações relativas as coagulopatias, o desequilíbrio eletrolítico e as infecções11.
Como se realiza a pericardiocentese1?
Idealmente a realização da pericardiocentese1 deve ser feita em local em que as condições de monitorização radiológica e hemodinâmica12 sejam ótimas, mas ela também pode ser realizada com segurança à beira do leito do paciente. O paciente deve ser colocado de barriga para cima ou inclinado a 45 graus, o que pode deslocar a cavidade pericárdica para mais perto da parede torácica13. Em seguida, uma pequena incisão14 de dois ou três milímetros deve ser feita na pele15, abaixo e à esquerda do apêndice xifoide16 ou, se não for possível, paraesternalmente (do lado do osso esterno17) no quarto espaço intercostal18 esquerdo, pela qual uma agulha especial deve ser inserida até atingir o pericárdio4. A região a ser puncionada deve ser higienizada com antissépticos19 e devidamente anestesiada.
Quando a agulha atinge o pericárdio4 sente-se um “estalo” e o líquido intrapericárdico começa a jorrar ou pode ser levemente aspirado. Faz-se então a introdução de uma agulha especial, a qual deve estar conectada a uma seringa20 de médio calibre. A agulha deve ser introduzida com uma pequena inclinação voltada para o braço esquerdo. Embora seja um procedimento simples, deve ser realizado por pessoal especializado que utilize um registro eletrocardiográfico durante o exame, para não causar uma laceração pleural e não atingir o miocárdio21 (músculo cardíaco22).
Nos casos que requerem a colocação de um cateter intrapericárdico, a fluoroscopia é altamente útil na orientação para o correto posicionamento dele. Após o procedimento, deve ser feita uma radiografia do tórax23 para descartar a possibilidade de um pneumotórax24 e os sinais vitais25 (frequência cardíaca, ritmo cardíaco, pressão arterial26, temperatura corporal, etc.) devem ser regularmente checados nas primeiras horas. Um novo ecocardiograma27 ajuda a verificar se o derrame3 cardíaco foi inteiramente resolvido. Entretanto, a cirurgia ainda é o método de escolha para a resolução definitiva do derrame3 pericárdico em que o líquido seja purulento28 e nos tamponamentos cardíacos de origem traumática.
Como evolui a pericardiocentese1?
Em geral, a pericardiocentese1 tem baixo risco em pacientes adequadamente selecionados. A mortalidade29 ocorre em menos de 5% dos pacientes e em algumas vezes ela se deve à enfermidade causal. Se a drenagem2 pericárdica for rápida demais pode desencadear um edema pulmonar30, devido ao enchimento ventricular célere enquanto a resistência sistêmica permanece elevada.
Quais são as complicações possíveis da pericardiocentese1?
Com as técnicas modernas raramente há efeitos adversos, mas numa abordagem "cega" existe um risco potencial de complicações, devido à incerteza em localizar o derrame3 pericárdico sem causar danos a estruturas vitais. Pode ocorrer punção de câmara cardíaca, mas essa complicação quase nunca deixa sequelas31. Pode ocorrer também dilatação ventricular aguda, provavelmente secundária ao aumento do retorno venoso32 após o alívio do tamponamento. A pericardiocentese1 é acompanhada também de risco significativo de infecções11, de laceração das artérias coronárias33, pneumotórax24, perfuração de vísceras abdominais e parada cardíaca.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.