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Pneumocistose: uma infecção oportunista que pode causar problemas em imunocomprometidos

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O que é pneumocistose?

A pneumocistose, pneumonia1 por pneucistos ou pneumonia1 pneumocística, é uma infecção2 oportunista que afeta pessoas com defesas orgânicas seriamente reduzidas, como doentes com AIDS, transplantados e pessoas em tratamento quimioterápico para câncer3. Na maioria das vezes, ela acontece como complicação da AIDS. Antes do surgimento dos coquetéis antivirais atuais, quase todo paciente com AIDS morria de pneumocistose.

Quais são as causas da pneumocistose?

O pneumocisto é um fungo4 normalmente existente nos pulmões5 que, em doentes com grave deficiência imunitária, pode causar pneumonia1. A pneumocistose é causada por um fungo4 unicelular, o Pneumocystes jirovecii (anteriormente referido como Pneumocystis carinii), cujos esporos6 são transmitidos através de gotículas de saliva de pacientes infectados e que prolifera em pessoas imunodeprimidas. Em doentes com AIDS, a infecção2 é, em geral, muito agressiva.

Um pouco de história do pneumocisto

Os pneumocistos foram primeiramente identificados por Carlos Chagas, no início do século XX e, subsequentemente por Antonio Carini. Inicialmente, eles pensaram ter descoberto um novo trypanosoma. Delanoës, porém, reconheceu mais tarde que eles haviam identificado uma nova espécie, com tropismo7 para o pulmão8. O pneumocisto foi de início confundido com um protozoário9 e só em 1988 foi estabelecida sua ligação ao reino dos fungos. Ele foi identificado em praticamente todas as espécies mamíferas, inclusive o homem, com um marcante tropismo7 pelo pulmão8, onde existe primariamente como um patógeno alveolar que se dissemina quando há uma severa imunossupressão10.

Quais são os principais sinais11 e sintomas12 da pneumocistose?

A pessoa com pneumocistose habitualmente é um paciente imunodeprimido, frequentemente com AIDS. A pneumocistose começa progressivamente com febre13, dispneia14 (falta de ar), tosse seca (porque o escarro é muito viscoso para se tornar uma tosse produtiva), perda de peso, suores noturnos e fadiga15. A agudização desses sintomas12 e o aparecimento súbito de dores torácicas intensas sugerem o desenvolvimento de um pneumotórax16. Se houver uma grande quantidade de escarro é sinal17 que o paciente adquiriu também uma infecção2 bacteriana adicional. O fungo4 pode invadir outros órgãos, mas isso é muito raro.

Como o médico diagnostica a pneumocistose?

O diagnóstico18 de pneumocistose pode ser dificultado em virtude de que seus sintomas12 são inespecíficos e pela sua concomitância com outras patologias e terapêuticas. A suspeita do diagnóstico18 é feita a partir da história médica do paciente, pela presença dos sintomas12 e pelos achados do exame físico: dispneia14 e sibilos. Os exames complementares mostrarão, na radiografia de tórax19, um infiltrado intersticial20 difuso e perihilar (próximo ao hilo21 pulmonar), lesões22 nodulares, pneumotórax16 e/ou derrame23 pleural. A presença do parasita24 pode ser confirmada no escarro, em lavado brônquico ou em biópsia25 pulmonar. A gasometria arterial e a DHL (desidrogenase lática26) aumentada auxiliam no diagnóstico18.

Como o médico trata a pneumocistose?

Existem poucas opções de tratamento para pacientes27 com pneumocistose. Geralmente, o tratamento é feito com o Sulfametoxazol-Trimetroprim, mas infelizmente esses medicamentos causam efeitos colaterais28 em muitas pessoas e os pacientes com alergia29 às sulfas não toleram essa terapia. É comum a administração conjunta de corticoide para combater a inflamação30. Outras medicações podem ainda ser combinadas, a critério médico.

Como prevenir a pneumocistose?

A profilaxia para pneumocistose deve ser feita em todos os pacientes, mesmo mulheres grávidas, em que a contagem de linfócitos T CD4+ estiver abaixo de 200/mm³ e/ou para aqueles que já tiveram um episódio anterior de pneumocistose, devendo ser mantida até que a contagem de linfócitos suba além daquele limite. Em pacientes imunodeprimidos, a profilaxia da pneumocistose pode ser feita com o uso oral de cotrimoxazol ou inalação de pentamida. Novamente, essas medicações também causam reações adversas severas que podem constituir contraindicações absolutas ao seu uso. Outra opção é a Dapsona oral, mas o uso dela deve ficar reservado para quando as duas opções anteriores não forem possíveis.

Como evolui a pneumocistose?

A pneumocistose frequentemente é a condição terminal de pacienteis com AIDS.

ABCMED, 2015. Pneumocistose: uma infecção oportunista que pode causar problemas em imunocomprometidos. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/750757/pneumocistose-uma-infeccao-oportunista-que-pode-causar-problemas-em-imunocomprometidos.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Pneumonia: Inflamação do parênquima pulmonar. Sua causa mais freqüente é a infecção bacteriana, apesar de que pode ser produzida por outros microorganismos. Manifesta-se por febre, tosse, expectoração e dor torácica. Em pacientes idosos ou imunodeprimidos pode ser uma doença fatal.
2 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
3 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
4 Fungo: Microorganismo muito simples de distribuição universal que pode colonizar uma superfície corporal e, em certas ocasiões, produzir doenças no ser humano. Como exemplos de fungos temos a Candida albicans, que pode produzir infecções superficiais e profundas, os fungos do grupo dos dermatófitos que causam lesões de pele e unhas, o Aspergillus flavus, que coloniza em alimentos como o amendoim e secreta uma toxina cancerígena, entre outros.
5 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
6 Esporos: Estruturas unicelulares e uninucleares, resistentes ao calor e à dessecação, capazes de germinar em determinadas condições e reproduzirem assexuadamente o indivíduo que as originou.
7 Tropismo: Reação de organismos fixos ou de suas partes, que consiste na mudança de orientação determinada por estímulos externos, dita positiva quando em direção ao estímulo e negativa quando se afasta do mesmo.
8 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
9 Protozoário: Filo do reino animal, de classificação suplantada, que reunia uma grande parcela dos seres unicelulares que possuem organelas celulares envolvidas por membrana. Atualmente, este grupo consiste em muitos e diferentes filos unicelulares incorporados pelo reino protista.
10 Imunossupressão: Supressão das reações imunitárias do organismo, induzida por medicamentos (corticosteroides, ciclosporina A, etc.) ou agentes imunoterápicos (anticorpos monoclonais, por exemplo); que é utilizada em alergias, doenças autoimunes, etc. A imunossupressão é impropriamente tomada por alguns como sinônimo de imunodepressão.
11 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
12 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
13 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
14 Dispnéia: Falta de ar ou dificuldade para respirar caracterizada por respiração rápida e curta, geralmente está associada a alguma doença cardíaca ou pulmonar.
15 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
16 Pneumotórax: Presença de ar na cavidade pleural. Como o pulmão mantém sua forma em virtude da pressão negativa existente entre a parede torácica e a pleura, a presença de pneumotórax produz o colapso pulmonar, podendo levar à insuficiência respiratória aguda. Suas causas são traumáticas (ferida perfurante no tórax, aumento brusco da pressão nas vias aéreas), pós-operatórias ou, em certas ocasiões, pode ser espontâneo.
17 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
18 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
19 Tórax: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original Sinônimos: Peito; Caixa Torácica
20 Intersticial: Relativo a ou situado em interstícios, que são pequenos espaços entre as partes de um todo ou entre duas coisas contíguas (por exemplo, entre moléculas, células, etc.). Na anatomia geral, diz-se de tecido de sustentação localizado nos interstícios de um órgão, especialmente de vasos sanguíneos e tecido conjuntivo.
21 Hilo: Em anatomia geral, é uma pequena saliência, abertura ou depressão que se forma no local onde penetram os vasos e nervos em um órgão. Na anatomia botânica, é o ponto de contato do óvulo com o funículo ou, na ausência deste, com a placenta. Na morfologia botânica, é a cicatriz encontrada na semente, que corresponde a esse ponto.
22 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
23 Derrame: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
24 Parasita: Organismo uni ou multicelular que vive às custas de outro, denominado hospedeiro. A presença de parasitos em um hospedeiro pode produzir diferentes doenças dependendo do tipo de afecção produzida, do estado geral de saúde do hospedeiro, de mecanismos imunológicos envolvidos, etc. São exemplos de parasitas: a sarna, os piolhos, os áscaris (lombrigas), as tênias (solitárias), etc.
25 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
26 Lática: Diz-se de ou ácido usado como acidulante e intermediário químico; láctica.
27 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
28 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
29 Alergia: Reação inflamatória anormal, perante substâncias (alérgenos) que habitualmente não deveriam produzi-la. Entre estas substâncias encontram-se poeiras ambientais, medicamentos, alimentos etc.
30 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
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